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Influenciadores mirins revelam o pior do digital na geração Alfa

Foto: geralt/Pixabay

Influenciadores mirins que vendem curso – de vender curso – são sintoma de uma doença que se abastece do Marketing Digital para se alastrar e que nos alerta do que precisamos melhorar para receber a geração Alfa no mundo adulto – o que vai acontecer em breve.

No último final de semana, uma reportagem urgente do G1 escrita por Darlan Helder chamou atenção para esse “fenômeno” em que crianças promovem cursos de marketing de afiliados e outros produtos voltados para “fazer dinheiro” na internet. Parece absurdo, e é. 

Essa situação levanta questões éticas profundas sobre trabalho infantil, exploração e a noção de infância nos tempos atuais. Porque é mais do que natural que crianças hoje sonhem e brinquem de se tornarem influenciadores, mas quando isso entra dentro de uma máquina que se vale da linha tênue entre ambição, mentira e ganância… Aí há algo ruim.

Marketing Digital, Geração Alfa e os Influenciadores Mirins

Os influenciadores mirins, da geração alfa, não surgiram no vácuo, mas num limbo problemático do Marketing Digital. Até porque já é difícil não ter um pé atrás com qualquer situação que envolva crianças trabalhando. Independentemente do contexto, isso acende um sinal de alerta.

Cá entre nós, eu mesmo nunca gostei nem mesmo daqueles quadros de programas de TV que exploram talentos infantis. Fico imaginando um Joe Jackson na coxia. Ou que logo vai virar uma reportagem no Fantástico como foi com a Larissa Manoela.

No caso dos influenciadores mirins representados na reportagem em questão, o conteúdo produzido é relativo à venda de cursos numa linguagem que explora promessas irreais de riqueza rápida. Algo dificilmente pertencente ao espectro infantil e que pode ter sido introduzido pelos pais (com ou sem intenção) e se vê replicado por todo o mundo moderno.

Independentemente da culpa, nessa busca por sucesso ou dinheiro, as crianças estão virando ferramentas de lucro.

A Geração Alfa e a Internet

Os influenciadores mirins representam uma ponta do iceberg de algo maior. A geração Alfa – nascida a partir de 2010 – cresceu com o smartphone na mão e está imersa em uma internet moldada por adultos obcecados por produtividade, imagem e dinheiro. É natural que elas imitem comportamentos adultos, mas em 2021, algumas brincadeiras não são mais “faz de conta.”

O desejo de imitar os adultos é natural da infância – quem nunca fingiu que o chocolate Batom era literalmente maquiagem ou que um pirulito era um cigarro? No entanto, situações como o consumo desenfreado de produtos de beleza e skin care por crianças ainda em desenvolvimento precisam ser acompanhados de perto.

Isso porque a geração Alfa vive essa imitação em um contexto radicalmente diferente, onde as redes sociais amplificam tudo. Não é mais brincadeira: Ela está reproduzindo um padrão, vendendo um produto e se expondo.

A velha geração Millennial já foi marcada por altas taxas de ansiedade e depressão, devido à pressão de enriquecer rapidamente num contexto de Internet discada. O que esperar de quem cresceu com um smartphone?

Crianças que deveriam estar preocupadas com espinhas ou com provas escolares agora se veem sob pressão para “fazer o primeiro milhão” o quanto antes possível. Talvez seja a geração que mais vai se sentir fracassada na história.

Só que não saberão lidar com esse fracasso de maneira saudável porque o momento da vida que realmente nos ensina a errar e aprender com os erros é a infância – justamente aquela que foi sacrificada em nome da ambição.

Lá vem a Alfa

Com a geração Alfa prestes a entrar no mercado de trabalho nos próximos anos, o desafio para a sociedade será enorme. Se já perdemos tempo demais falando sobre como lidar com a geração Z, que cresceu no início da era digital, o embate com a Alfa promete ser ainda mais intenso.

A reportagem do G1 deve servir como um ponto de partida para reflexões mais profundas. Não basta achar “esquisito” ou “errado” que crianças estejam vendendo cursos na internet. É preciso questionar o desespero de adultos que consomem esse tipo de conteúdo. É sintomático de uma sociedade doente, que não só falha em resolver os próprios problemas como os transfere para as próximas gerações.

Se não tomarmos medidas – como regulamentar melhor a atuação de crianças na internet, responsabilizar pais e plataformas, e oferecer alternativas saudáveis para o desenvolvimento infantil – estaremos perpetuando um ciclo de ansiedade, exploração e expectativas irreais. A geração Alfa merece mais do que isso.

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Jornalista e marketing manager na AE Studio e Instill.

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