Por Guilherme Abdala, sócio e headhunter na Evermonte Executive Search.
A confiança é um elemento ímpar para a sustentabilidade das empresas de controle familiar. No entanto, no Brasil, muitos desses negócios enfrentam dificuldades em relação à percepção de confiança por parte de stakeholders e, muitas vezes, não adotam as medidas necessárias para reverter essa situação. Mas por que é tão importante construir confiança em empresas de controle familiar?
Além de ser fundamental para a sustentabilidade do negócio, a confiança oferece uma grande vantagem competitiva. O Edelman Trust Barometer indica que a confiabilidade das empresas familiares supera em 12 pontos percentuais a média das empresas em geral. Essa confiança elevada está fortemente correlacionada a um melhor desempenho financeiro, evidenciado por uma pesquisa recente da PwC, que destaca uma ligação direta entre confiança e lucratividade.
O estudo sugere, ainda, que a criação de uma base sólida de confiança pode ser alcançada por meio do fortalecimento de três pilares organizacionais: propósito e valores, compromisso com ESG e transparência.
Propósito e valores
Tradicionalmente, as empresas familiares são reconhecidas por seu forte senso de propósito e valores. No Brasil, 73% dessas companhias afirmam ter um propósito claro, um número ligeiramente abaixo da média global de 79%. No entanto, um desafio significativo persiste: a comunicação desse propósito. Apenas 38% das empresas familiares brasileiras compartilham regularmente seu propósito com o público externo, comparado à média global de 41%. Esse descompasso entre ter um propósito bem definido e a sua efetiva comunicação pode afetar negativamente a percepção de múltiplos públicos e comprometer a construção de uma reputação sólida e confiável.
Compromisso com ESG
Segundo a Pesquisa Global Hopes and Fears 2022, da PwC, 74% dos trabalhadores brasileiros consideram importante que seus empregadores sejam transparentes sobre o impacto ambiental dos negócios, e um percentual semelhante valoriza a transparência em relação à diversidade, equidade e inclusão (DEI). Contudo, apenas 29% das empresas familiares brasileiras divulgam regularmente seu desempenho em relação a esses indicadores não financeiros, uma taxa menor do que os 37% observados globalmente. A falta de transparência nesse aspecto pode afetar a confiança e a percepção positiva da empresa (interna e externamente).
Transparência
No Brasil, 64% dos trabalhadores relatam que suas empresas permitem questionamentos sobre as decisões da administração, superando a média global de 57%. No entanto, ainda há espaço para melhorias. A verdadeira transparência vai além da “permissão” para questionamentos; envolve também a criação de canais abertos e seguros para comunicação, feedback e resolução de problemas. Estabelecer uma estrutura de transparência que permita aos funcionários expressar suas preocupações e questionar as decisões da administração é essencial para construir e manter a confiança.
Confiança e crescimento sustentável
Sejamos sinceros: criar confiança não é fácil. Todos sabemos disso. Relações de confiança exigem um compromisso genuíno com a transparência, a comunicação e a responsabilidade social – o que é, com toda certeza, um grande desafio. Entretanto, precisamos compreender que, ao investirmos em relacionamentos pautados pela confiança, estamos, na verdade, criando as bases para um crescimento sustentável nas organizações.
Esse é um processo contínuo que não se limita a declarações e discursos de curto prazo, mas se reflete nas ações diárias da companhia. Quando a liderança demonstra integridade e as opiniões dos colaboradores são realmente consideradas, a cultura de confiança se fortalece, gerando um efeito cascata positivo que alcança a todos os públicos (pelo menos é o que esperamos).