“O que era isso, que a desordem da vida podia sempre mais do que a gente?”, disse Guimarães Rosa.
Quantas vezes você já parou para pensar sobre o quanto já percorreu, mas não conseguiu perceber? Vivemos em um ritmo tão acelerado, que o que mais queremos é avançar, conquistar, fazer tudo acontecer logo.
A sensação é sempre de que precisamos estar prontos o tempo todo, com tudo sob controle. Mas, no meio de tudo isso, a urgência vai apagando a nossa admiração pelo processo.
Quando falamos sobre a vida adulta, muita gente associa à ideia de estabilidade, de estar com tudo resolvido. Mas, conforme a gente cresce, percebe que a verdadeira vida adulta não é nada disso.
Ela é feita de incertezas, mudanças e muito mais inconstância do que imaginamos. E é exatamente esse turbilhão que nos faz evoluir, embora nem sempre consigamos ver.
O que acontece é que a urgência nos faz focar só no que vem depois, e não no que já aconteceu. Tudo parece uma corrida, onde o importante é terminar logo.
Mas se a gente começar a olhar para o caminho que estamos percorrendo, podemos perceber o quanto já conquistamos. Como diz Fernanda Mello, “atravessar meus medos com passos gentis e aplaudir as conquistas silenciosas que me transformaram”.
E eu acredito que é disso que estamos falando: começar a reconhecer essas pequenas vitórias, os avanços silenciosos que muitas vezes passam despercebidos.
E eu sei, parece difícil parar, dar uma pausa. Afinal, quem não quer logo alcançar o próximo objetivo? Mas, e se começássemos a valorizar mais o que estamos vivendo agora?
Se, ao invés de correr para o próximo passo, fizéssemos uma pausa para perceber como chegamos até aqui? Pode ser que, ao olhar com mais calma, você se surpreenda com a evolução que já aconteceu.
Sabe aquela ideia de que o caminho é longo e, por isso, a gente tenta pular etapas? O que acontece é que ao tentar pular essas fases, acabamos não percebendo a importância do processo.
Ele é mais do que necessário. Ele é fundamental. Cada pequeno passo, cada experiência que a gente vive, molda a nossa jornada e nos ensina algo. Talvez o segredo seja realmente nos reconhecermos no caminho, em vez de só olhar para o destino.
O importante não é correr para o próximo passo, mas saber o que a gente já construiu. Isso traz mais clareza e menos ansiedade. E se, ao invés de olhar para o que falta fazer, a gente se permitisse olhar para o que já foi feito? Como seria?
A vida adulta não é sobre alcançar a estabilidade. Ela é sobre aceitar as incertezas e, ao mesmo tempo, saber que cada etapa do processo tem um valor.
A verdadeira transformação não está só no que conseguimos fazer, mas em como vivemos o que estamos fazendo. E, por mais que pareça que estamos na desordem, a nossa evolução está o tempo todo acontecendo, bem na nossa frente.