Embora tenha caído abaixo de R$ 5,70, o dólar segue alto, o que aumenta a competitividade dos produtos e serviços brasileiros no exterior e abre novas oportunidades para empresas que desejam expandir suas operações internacionalmente. Nesse cenário, startups brasileiras que atuam no segmento B2B vêm direcionando esforços, com estratégias variadas, para ampliar e consolidar sua presença global.
Os setores tidos como os mais promissores no mercado global incluem Inteligência Artificial (IA) aplicada, fintechs voltadas para inclusão financeira, saúde digital e telemedicina, soluções de sustentabilidade e energia renovável, além de softwares de produtividade e colaboração remota.
A relação entre a alta do dólar e a internacionalização de negócios, particularmente em setores tradicionais, está ligada às estratégias empregadas para acesso a mercados globais. Enquanto a exportação oferece uma rota imediata para capturar o benefício cambial, abordagens mais robustas, como a abertura de unidades internacionais, demandam maior investimento inicial e exigem cautela para assegurar um retorno sobre o investimento (ROI) vantajoso.
Segundo estudo da Fundação Dom Cabral, 68,9% das empresas brasileiras já internacionalizadas planejam entrar em novos mercados. Estados Unidos, Chile e Portugal despontam como os principais destinos, enquanto o Canadá e o México também ganham relevância com políticas econômicas favoráveis ao nearshore, movimento que busca criar parcerias entre países próximos geograficamente.
Mas, apesar de favorável, o cenário exige cautela e planejamento para enfrentar desafios como barreiras culturais, regulamentações locais e a dependência de insumos dolarizados. Para Guilherme Ferreira, fundador e CEO da Atomsix, estúdio global de design e tecnologia, que iniciou suas atividades no Vale do Silício e hoje atua em 23 países, trabalhar com empresas globais exige profissionalismo extremo e foco constante em resultados.
“Grandes players do mercado esperam consistência, inovação e responsabilidade em todos os aspectos do relacionamento comercial. Provar valor rapidamente e manter total transparência, desde a negociação de contratos até a execução dos projetos são atitudes indispensáveis para construir parcerias sólidas e duradouras. A internacionalização é mais que uma oportunidade. É quase uma necessidade para startups que querem crescer de forma sustentável. O segredo está em equilibrar ambição com preparação, construindo um produto que fala a língua do mundo sem esquecer suas raízes brasileiras“, destaca.
Oportunidades e desafios no mercado global
Com escritórios em Dubai, Portugal, Uruguai, Peru, México, Estados Unidos e Canadá, a WTM atua com empresas de tecnologia que desejam internacionalizar seus negócios, seja abrindo uma filial no exterior ou exportando por meio de parceiros. Para Rodrigo Martins, CEO da ITH, (International Tech Hub), frente de internacionalização da WTM, as políticas econômicas esperadas para o segundo mandato de Donald Trump nos Estados Unidos devem favorecer o nearshore:
“O Brasil, que conta com um segmento de fintechs bastante consolidado, pode encontrar nos Estados Unidos um mercado atrativo, apesar das altas barreiras de entrada. Outros mercados, como Canadá e México, despontam como promissores para as empresas de tecnologia brasileiras. A Argentina também pode ser incluída no cenário por conta da proximidade com o presidente Javier Milei. O processo de digitalização em curso no país pode abrir caminho para tecnologias de fintechs brasileiras“.
Ao buscar faturamentos internacionais, as empresas brasileiras também abrem caminho para enfrentar a competição internacional pelos profissionais locais, que muitas vezes são atraídos por propostas de outros países com ganho em dólar.
“A mesma alta do dólar que atrai os profissionais brasileiros a aceitar propostas remuneradas em moeda estrangeira também deve estimular os empresários a buscar formas de faturar em dólar“, complementa.
A alta do dólar traz uma série de cenários diferentes para as empresas brasileiras que fazem negócios no exterior. De acordo com Lisandro Vieira, CEO da WTM e especialista em cross-border payment e internacionalização de tecnologia, de forma geral, a alta da moeda americana de fato traz bons resultados para quem exporta, no entanto as empresas nacionais são frequentemente dependentes de softwares e serviços estrangeiros, como cloud, serviços de segurança, cibernética, CRM, APIs, ferramentas de desenvolvimento de tecnologia, programação, bancos de dados, prototipação, entre outros.
“Existe uma crença geral de que o dólar alto é bom para as empresas brasileiras exportadoras. Isso pode ser verdade dependendo da estratégia das empresas, no entanto são muitos insumos que as empresas de tecnologia consomem que também são precificados em dólares. Então a melhor estratégia é ter uma conta no exterior, uma empresa no exterior, ou ter alguma forma de manter parte da sua renda em moeda estrangeira no exterior, para ter uma proteção natural contra eventuais variações“, explica.
Guilherme Ferreira ressalta ainda que a internacionalização exige um cuidado especial com a gestão financeira:
“Ferramentas para gerenciar fluxos de caixa em múltiplas moedas e equipes locais qualificadas são peças-chave para evitar erros culturais e maximizar resultados. É importante priorizar mercados menores para validação inicial, garantindo a rentabilidade antes de uma expansão mais agressiva“.
Sustentabilidade e tecnologia como diferenciais
A transição verde e a digitalização destacam-se como vetores estratégicos não apenas para reduzir custos, mas também para agregar valor em mercados estrangeiros. Segundo o estudo Transição verde e TI como motor do crescimento do emprego, empresas que adotam tecnologias sustentáveis estão melhor posicionadas para aproveitar o mercado global, atendendo às demandas por responsabilidade socioambiental e inovação.
De acordo com Cristina Mieko, head de startups do Sebrae Startups, nesse contexto, a integração de novas tecnologias pode desempenhar um papel importante, ao ampliar as possibilidades para startups e empresas que almejam escalar globalmente:
“O cenário de alta do dólar apresenta desafios e oportunidades para startups que buscam se internacionalizar. Alavancar tendências tecnológicas e integrar soluções sustentáveis são caminhos promissores para conquistar mercados globais e atender às demandas de consumidores e empresas por inovação e responsabilidade socioambiental“.
É o caso da Hub4pay, fintech que desenvolve soluções de pagamento para campanhas de incentivo e que planeja expandir sua atuação internacional em 2025.
“Enxergamos a sustentabilidade como oportunidade. Vamos iniciar um projeto de descarbonização porque queremos não apenas facilitar pagamentos de campanhas de incentivo, mas também contribuir ativamente para um futuro mais sustentável“, garante Daniel Moreira, CEO da empresa.
A entrada da empresa no mercado internacional se dá pelo lançamento de uma plataforma que possibilita colaboradores brasileiros e estrangeiros de empresas nacionais e internacionais a receberem seus prêmios na moeda local, diretamente na conta bancária do país onde estão.
O início da operação será ainda em 2025 e vai alcançar mercados em todo o globo. A solução de Cross Border responde à necessidade das empresas de oferecer prêmios e incentivos de forma simplificada, ainda que em diferentes moedas e países.