“E aí, como vão as coisas? Muita correria?”
Esse é um dos quebra-gelo mais utilizados e mais odiados do meio corporativo.
Afinal, quem pergunta não quer saber a resposta, e quem responde não quer responder.
Só perde da sequência, que é sempre uma valorização dessa tal correria: “poo, correria grande, mas se não for assim tá errado rsrsrs”. Risos fake.
Mas não é dessa correria que falaremos. Mas de uma que já faz parte real da rotina de 13 milhões de brasileiros: a corrida de rua.
Segundo uma pesquisa realizada pela consultoria Box 1824 para a Olympikus, 83% dessas pessoas correm para cuidar da saúde de uma forma geral, 46% para melhorar a saúde mental e 42% se sentem mais alegres depois de correr.
Outro dado interessante, é que 75% dos corredores começaram a correr durante o lockdown causado pela pandemia, e não pararam mais.
O que isso tem a ver com o trabalho? Tudo.
Foi durante a pandemia que eu senti uma mudança enorme nas prioridades do C-Level. Lembro de ter conversas diárias com CEOs e fundadores para entender como estavam vendo os seus principais desafios na época.
O que antes era focado em “crescer mais”, “melhorar meus canais de aquisição e retenção de clientes”, virou “cuidar do bem-estar do meu time”, “melhorar a saúde mental dos meus colaboradores”.
Isso foi uma quebra de tabu. Até o final de 2019, falar de burnout e saúde mental dos colaboradores era motivo de medo e até repulsa pelo C-Level.
Alguns julgavam que era mais um mimimi promovido pelo RH, que não tinha nada a ver com negócio.
E durante a pandemia isso se inverte. Vira prioridade.
Desde então, uma infinidade de empresas passa a oferecer academias, suporte psicológico e psiquiátrico através de benefícios, surgem leis que exigem o cuidado da empresa com a saúde mental dos colaboradores e, principalmente, as pessoas passam a demandar que seus empregadores ofereçam ambientes de trabalho que valorizem seu bem-estar.
Esse talvez seja o ponto fundamental. As pessoas passaram a se cuidar mais. Por isso demandam mais das empresas. E quem não entender esse movimento perderá competitividade na guerra por talentos.
Menos correria, mais corrida. Esse é o grito coletivo.
Não que não haja um compromisso com produzir adequadamente. Mas não a qualquer custo. Demandas sempre urgentes, jornadas de trabalho que atravessam madrugadas e finais de semana, tudo isso é aceito pelos times, mas com mais limites.
A empresa que ainda não promoveu uma revisão cultural baseada na valorização que as pessoas dão atualmente ao bem-estar está fadada a diminuir seus resultados.
Segundo uma pesquisa da USP com o Strava, 90% das pessoas afirmaram que correr é uma forma de aliviar o estresse, 87% que sentem que correr reduz a ansiedade, e 81% que correr é um caminho para a felicidade.
Para todos os líderes que estão discutindo o tema de Saúde Mental no trabalho, especialmente com o advento da NR-1: não há como deixar de lado a discussão da frequência de atividade física como parte fundamental de times de alta performance, e mentalmente saudáveis.
E a corrida é o esporte mais democrático e prático.
Afinal, tá todo mundo na correria. Mas tá todo mundo correndo também. Inclusive seus concorrentes, que já entenderam que o mundo mudou e abraçaram o movimento de bem-estar como diferencial competitivo.
E a sua empresa? Em que pace está?