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Sororidade corporativa: como e por que colocar em prática?

Foto: divulgação.

Nos últimos anos, a palavra sororidade tem ganhado força nas discussões sobre equidade de gênero. No ambiente corporativo, ela vai além do apoio entre mulheres – trata-se de abrir oportunidades, fortalecer conexões estratégicas e impulsionar carreiras. O mercado ainda apresenta barreiras significativas para a ascensão feminina: globalmente, as mulheres ocupam apenas 32% dos cargos de liderança e representam apenas 8% das CEOs das empresas na Fortune 500, segundo um estudo da McKinsey. A Fortune 500 é um ranking anual que lista as 500 maiores empresas dos Estados Unidos em faturamento, funcionando como um termômetro importante para entender a representatividade feminina no topo corporativo.

No Brasil, a realidade também é desafiadora – um levantamento do IBGE aponta que, apesar de as mulheres representarem mais da metade da população (51,1%), elas ainda ganham cerca de 20% menos do que os homens em cargos equivalentes. Esses dados revelam as barreiras estruturais que precisam ser superadas, e é aí que a sororidade corporativa se torna um elemento chave para gerar mudanças reais.

Esse conceito significa recomendar uma colega para uma oportunidade, valorizar suas ideias e garantir que sua voz seja ouvida. Pequenos gestos, como reforçar a autoria de um projeto ou abrir espaço para que mais mulheres participem de decisões estratégicas, fazem diferença. Um exemplo disso aconteceu no The New York Times, onde um grupo de jornalistas criou um pacto: sempre que uma delas sugerisse uma ideia em uma reunião e fosse ignorada, outra colega reforçaria o ponto e daria o devido crédito. Esse simples ato ajudou a aumentar a visibilidade das profissionais na redação, um ambiente historicamente dominado por homens.

Construir essa cultura de apoio passa também pela criação de espaços de troca, onde diferentes gerações possam compartilhar experiências e aprendizados. No Brasil, algumas empresas já entenderam essa importância e estruturaram programas de mentoria feminina, criando redes de suporte para ajudar mulheres a crescerem dentro das organizações. Além das iniciativas internas, programas de mentoria pro-bono, como o Mentoria W-CFO, a Mentoria IBEF-SP e o PDeC Elas do IBGC, desempenham um papel essencial na inclusão de mulheres executivas e conselheiras, ampliando seu acesso a posições estratégicas. No Portobello Grupo, a Trilha Mulheres na Liderança foi desenvolvida para acelerar esse processo na indústria e recebeu o Prêmio Ser Humano, da ABRH-SC, pelo impacto gerado. Esses programas não apenas impulsionam carreiras, mas ajudam a transformar a cultura corporativa, mostrando na prática os benefícios de equipes mais diversas e colaborativas.

Outro ponto fundamental é a mudança na cultura de competição. O ambiente corporativo muitas vezes estimula rivalidades, como se houvesse espaço para apenas uma mulher em determinadas posições. Mas quando deixamos de nos enxergar como concorrentes e passamos a nos apoiar, os ganhos são coletivos. Esse conceito ficou conhecido como “Shine Theory”, criado pelas jornalistas Ann Friedman e Aminatou Sow e amplamente debatido em veículos internacionais. A ideia central é simples: em vez de competir, mulheres devem apoiar e amplificar o sucesso umas das outras. Empresas que incentivam essa postura criam ambientes mais diversos, inovadores e produtivos. Afinal, a diversidade não deve ser apenas um discurso, mas uma estratégia real de negócios.

Ainda há muito a ser feito para que o mercado seja mais equilibrado, e cada atitude conta. Pequenos gestos diários moldam a cultura de uma organização e ampliam o impacto da sororidade no mundo corporativo. Ao apoiar, indicar, reconhecer e incentivar outras mulheres, estamos contribuindo para um cenário em que o crescimento feminino seja cada vez mais natural. No LinkedIn, por exemplo, líderes têm adotado essa prática ativamente, usando a plataforma para destacar o trabalho de outras mulheres e abrir portas para novas oportunidades.

Mais do que um conceito inspirador, a sororidade deve ser uma prática diária. Quando as mulheres se apoiam, não apenas ocupam mais espaços, mas transformam a cultura corporativa, ampliando as possibilidades para as próximas gerações. Que março seja um convite à reflexão e à ação, porque o sucesso de uma mulher nunca deveria ser exceção – mas sim a regra.

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CFO do Portobello Grupo

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