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Make Business Human Again: minha experiência no SXSW 2025

Foto: divulgação.

Por Mariana Torquato, co-fundadora e COO da Sensorama Design.

O South by Southwest (SXSW) sempre foi um termômetro do que está por vir. Tecnologia, inovação e comportamento se misturam num caldeirão de ideias que desafia o status quo. Estar nesse ambiente é essencial para quem trabalha com experiência, produtos e serviços, mas, acima de tudo, para quem quer entender o que realmente importa nessa equação: as pessoas.

Tecnologias emergentes: o futuro está acontecendo agora

As novas tecnologias já existem há anos, mas agora estão finalmente ganhando escalabilidade e aplicação real. Um dos motivos para essa aceleração é a interconexão entre diferentes avanços. Por exemplo, robôs sempre existiram, mas não tinham hardware suficientemente avançado para operar como esperado. Com a computação quântica e sensores mais eficientes, os sistemas estão evoluindo de forma integrada.

Percebi – na prática do dia a dia dos projetos – o quanto devemos trabalhar para antecipar essas transformações, ajudando empresas a construir soluções inovadoras que minimizam riscos e maximizam oportunidades. Um time multidisciplinar com especialidade no mundo de UX é muito importante para focarmos no objetivo de ampliar o entendimento do impacto humano dessas tecnologias, garantindo que sejam implementadas de forma responsável e estratégica.

Anne-Laure Le Cunff, pesquisadora e neurocientista do Ness Labs, sempre presente no SXSW, este ano com uma sessão de autógrafos do livro “Tiny Experiments: How to Live Freely in a Goal-Obsessed World”, destaca que o desafio das próximas décadas não será apenas desenvolver ferramentas mais avançadas, mas sim integrá-las de forma que aumentem nosso bem-estar e produtividade sem nos desumanizar. Como pessoas empresárias e profissionais, é nosso papel pensar nisso com seriedade.

Longevidade e qualidade de vida: o papel da saúde mental

Um dos temas mais debatidos no evento foi a longevidade. Mas aqui, não se trata apenas de viver mais, mas sim viver melhor por mais tempo. A geração Z tem sido um grande catalisador dessa discussão, trazendo a saúde emocional para o centro do debate. Questões como biohacking, uso de alucinógenos terapêuticos e mindfulness estão em alta, mas no fim, a mensagem principal é simples: uma mente sã é fundamental para uma vida plena e um envelhecimento saudável.

Empresas que realmente se preocupam com o futuro não podem olhar apenas para a experiência do cliente — é preciso pensar na jornada completa e em todos que fazem parte dela, incluindo quem faz parte da organização. O cuidado com as pessoas dentro das empresas precisa ser tratado com a mesma atenção dedicada à inovação e ao crescimento, garantindo um acompanhamento de ponta a ponta.

A interseção entre tecnologia e relações humanas

Um dos painéis mais impactantes que assisti reuniu Esther Perel, Amy Webb e Frederick Fert para discutir a relação entre tecnologia e conexões humanas. Um conceito que me chamou a atenção foi a “atrofia social”: quanto mais interagimos com máquinas e algoritmos, mais perdemos a capacidade de navegar na complexidade das relações humanas.

Interagir com sistemas automatizados tem seu lado prático, mas também um custo: perdemos a prática da escuta ativa, da empatia, da negociação interpessoal. Isso impacta diretamente a saúde mental, o desempenho no trabalho e até mesmo nossa capacidade de criar e inovar.

Se há uma lição clara que o SXSW nos deixou, é que a tecnologia deve servir as pessoas, e não o contrário. Empresas que conseguirem equilibrar avanço tecnológico com propósito e empatia sairão na frente nos próximos anos.

A inovação acontece quando desafiamos modelos tradicionais e encontramos novas formas de integrar inteligência de mercado com um olhar sensível para o fator humano. Ainda que muitos enxerguem tecnologia e empatia como forças opostas, acredito que é a interseção entre esses dois mundos é o que realmente moldará o futuro.

Amy Webb destacou que um futurista não apenas faz previsões, mas usa a narrativa para influenciar decisões no presente. Frederick Fert reforçou que não basta prever o futuro — precisamos experimentá-lo e moldá-lo ativamente.

Pensar no futuro não é apenas criar produtos e serviços eficientes, mas repensar como a tecnologia e seus avanços podem fortalecer nossas relações e melhorar a experiência de quem interage com eles. Metodologias como service design, pesquisa qualitativa e transformação cultural mostram que é possível inovar sem perder a dimensão humana, garantindo que o progresso tecnológico ande lado a lado com conexões mais saudáveis e significativas.

Futurismo aplicado: como construir o futuro que queremos

Desde 2023, venho explorando melhores formas de aplicar futurismo nos projetos da minha empresa, a Sensorama Design. Um aprendizado essencial do SXSW foi sobre a relação entre a IA e a humanidade. Amy Webb fez um ponto interessante: “A IA não irá dominar o mundo porque lhe falta o que nos torna humanos: emoções e vulnerabilidade”. No entanto, fomos condicionados a acreditar que sentimentos não pertencem ao ambiente de trabalho, o que nos deixa pouco preparados para lidar com essas questões.

Minha sócia, Luisa, e eu sempre acreditamos que esse cuidado deve fazer parte da cultura das empresas. “Buscamos não apenas entender o que as pessoas fazem, mas como elas sentem e pensam. Usamos desde metodologias simples, como mapas de empatia, até estratégias mais complexas para humanizar processos que historicamente foram desenhados para remover a dimensão humana da equação”, ela reforça.

Essa é uma lacuna que buscamos endereçar, especialmente através da pesquisa qualitativa. O design de experiência não pode se limitar a interfaces intuitivas ou fluxos eficientes — ele precisa considerar o impacto emocional daquilo que criamos. E isso é algo que qualquer empresa pode (e deveria) aplicar. Com a evolução das IAs, vemos uma transição das interfaces tradicionais para agentes conversacionais, que exigem um novo tipo de design centrado no ser humano, levando em conta todo o ecossistema que o cerca. E há um tempo vejo que estamos prontas para atuar nessa transição, garantindo que essas tecnologias sejam implementadas com um olhar humanizado e estratégico.

Make Business Human Again

O que devemos procurar no fim das contas, é trazer de volta a humanidade para os negócios. A tecnologia deve ser uma ferramenta para melhorar nossa experiência no mundo, e não um obstáculo para nossas relações. Para isso, é preciso assumir o compromisso de criar soluções que respeitam a complexidade humana, ajudando empresas a navegar esse futuro com empatia, inteligência e responsabilidade.

Se a inovação do futuro é cada vez mais humana, estamos no caminho certo.

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