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O futuro já começou (e ele não espera por você)

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Foto: Daniel Zimmermann/divulgação.

O SXSW 2025 consolidou o que muitos líderes de marketing e negócios ainda tentam negar: o futuro não é mais um exercício de futurologia, é uma realidade em tempo real. E Scott Galloway, com seu estilo direto e brutalmente lúcido, entregou um diagnóstico tão claro quanto desconfortável: o jogo mudou, os jogadores também e, spoiler, você provavelmente não está entre eles.

A inteligência artificial não é uma promessa. É a infraestrutura dominante da nova ordem econômica. O conteúdo não é mais um produto, é uma plataforma. E a atenção, outrora conquistada com jingles e celebridades, virou um ativo volátil que se perde com um deslizar de dedo. Diante disso, a pergunta que paira no ar não é “o que fazer?”, mas sim: você está pronto para perder relevância?

O novo império da inteligência artificial: o código como idioma do poder

Galloway cravou com precisão: os novos donos do jogo são OpenAI e Nvidia. E não se trata de hype. Trata-se de controle de infraestrutura, domínio de linguagem e geração de valor em escala exponencial. No mundo de hoje, quem não fala o idioma da IA está se comunicando em latim em uma era de linguagem binária.

Se você está no LinkedIn e não mencionou inteligência artificial pelo menos seis vezes nos últimos meses, parabéns: você reduziu em 40% a chance de ser notado por recrutadores. Parece superficial? Pode ser. Mas é assim que algoritmos funcionam — e são eles que selecionam o que (e quem) aparece na tela. E se o algoritmo não te enxerga, o mercado também não.

Para as marcas, isso significa que AI não é mais um projeto de inovação, é um novo modelo operacional. Marcas que utilizarem IA para personalização profunda, automação de processos e design de experiências terão vantagem competitiva real. Isso vale tanto para a gigante do varejo quanto para a startup que ainda opera no Google Sheets.

A solidão como sintoma oculto do colapso social

No meio da euforia tecnológica, Galloway aponta um efeito colateral devastador: a solidão — especialmente entre jovens homens. Uma geração desconectada, sem vínculos reais, dopada por algoritmos que recompensam isolamento e radicalização. A grande ameaça da IA, portanto, não é substituir humanos, mas substituí-los nas relações humanas.

Aqui entra um insight fundamental para os estrategistas de marca: o branding do futuro será menos sobre produtos e mais sobre pertencimento. Marcas que entenderem o papel social que ocupam — como pontos de conexão humana — terão mais resiliência e relevância. Em um mundo solitário, comunidades são um diferencial competitivo.

O colapso da atenção e o novo campo de batalha das marcas

Esqueça o horário nobre. O Super Bowl, com seus 123 milhões de espectadores, perde feio para vídeos do Mr. Beast que ultrapassam 500 milhões de visualizações. O YouTube já representa 45% de todo o consumo de vídeo online. Isso não é uma tendência. É um domínio consolidado.

A lógica é clara: quem controla o tempo das pessoas, controla o fluxo de valor. E as plataformas que permitem produção e consumo sem intermediários venceram essa guerra. A Netflix está para a década passada como a Blockbuster para os anos 2000.

Marcas precisam produzir como criadores, pensar como plataformas e agir como mídias. O conteúdo precisa ser recorrente, nativo, conversacional. Não dá mais para pensar em campanhas. O pensamento precisa ser contínuo, como uma série, não um filme. E o formato? Vídeo e voz. Sempre.

Podcasts: o novo território de construção de autoridade

Mais de 50% dos adultos já consomem podcasts regularmente. A publicidade em áudio cresceu 26% em 2024, atingindo US$ 2,3 bilhões. Mas o dado mais poderoso é outro: podcasts retêm 60% mais atenção do que vídeos ou artigos. Sabe o que isso significa? Que enquanto a maioria tenta vencer a batalha da atenção com mais interrupção, há um canal onde as pessoas querem ouvir.

Para marcas brasileiras, esse é um chamado claro. Podcasts não são apenas mídia, são ecossistemas de conteúdo, autoridade e intimidade. Em um país onde a oralidade é culturalmente forte, o áudio pode se tornar o canal mais potente de construção de marca — especialmente para líderes que querem se posicionar como referência em seus setores.

Brasil, a próxima fronteira do capital global

A frase de Galloway ecoa como alerta e oportunidade: o capital global está saindo dos EUA e se movendo para os mercados emergentes. Isso muda tudo. Por quê? Porque o Brasil, com sua dimensão continental e riqueza cultural, pode se tornar protagonista de uma nova economia digital.

Mas isso só será possível se nossas marcas souberem jogar o jogo certo. Isso significa:

  • Tecnologia como motor, não como acessório.
  • Internacionalização de mindset, não apenas de operação.
  • Criação de valor de marca, não só de produto.
  • Narrativas globais com sotaque local.

A lógica é simples: enquanto o mundo olha para fora, o Brasil pode ser o próximo “dentro” da inovação global — se soubermos nos posicionar como protagonistas.

O que isso exige das marcas brasileiras?

  • Adotar a IA como linguagem estratégica: não é sobre usar IA para fazer um banner mais rápido. É sobre redesenhar a estrutura da empresa com base em inteligência, dados e automação inteligente. É AI by design, não by demand.
  • Construir conteúdo nativo e constante: você ainda tem um plano de comunicação trimestral? Esqueça. O algoritmo não respeita cronograma. Ele responde à relevância do momento. Pense em conteúdo como uma linha de produção com alma — e estratégia.
  • Criar conexões humanas: a marca que se distancia do humano está fadada à irrelevância. Em tempos de solidão digital, criar experiências que geram pertencimento é o maior investimento em equity que se pode fazer.
  • Assumir protagonismo global: chegou a hora de parar de copiar tendências de fora e começar a exportar inovação daqui. O mundo está buscando novos polos criativos, e o Brasil tem talento, cultura e visão para ser um deles — desde que haja coragem estratégica.

Síntese e provocação final: construir o futuro antes que ele chegue

Scott Galloway não faz previsões. Ele conecta sinais. Mostra o que já está acontecendo — só que a maioria ainda não percebeu. O que ele trouxe ao SXSW 2025 é um mapa, não uma profecia. E esse mapa deixa claro: quem não está preparado já ficou para trás.

Acredito que o ponto mais urgente e poderoso desse debate é o papel da IA não como fim, mas como meio para restaurar o humano. Em um mundo que acelera cada vez mais, as marcas que conseguirem desacelerar a experiência e aprofundar relações — criando significado, presença e conexão — serão as que deixarão legado.

O futuro exige coragem, mas também sensibilidade. Exige dados, mas também emoção. Exige visão, mas principalmente, ação.

E agora, o que você vai fazer com isso?

As marcas brasileiras estão diante de uma encruzilhada histórica: continuar reagindo ou começar a construir. Olhar para fora ou criar de dentro. Ser espectadoras ou protagonistas.

Então, eu te pergunto:

Como a sua marca está se preparando para ser relevante em um mundo que já virou a página?

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Estrategista de marcas, especialista em inovação de marketing, fundador da Nexia Branding e sócio-fundador do Fluxo.

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