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Como conduzir a entrada do primeiro CEO executivo em empresas familiares?

Foto: divulgação.

Por Guilherme Abdala, sócio da Evermonte Executive Search.

Trazer um CEO de fora para uma empresa familiar é um dos movimentos mais desafiadores que um fundador pode fazer. É um passo importante para a profissionalização e pode ser o caminho natural para garantir a continuidade do negócio. Mas, sem um processo bem estruturado, o risco de atrito e desalinhamento é alto. A resistência interna, as interferências da família e a falta de clareza sobre o papel do novo líder costumam estar no centro dos casos que não dão certo.

Muitos negócios familiares crescem com um modelo de gestão centralizado, muitas vezes liderado pelo fundador. O problema aparece quando o tamanho da empresa exige uma estrutura mais robusta, e não há sucessores preparados ou interessados. Nesse momento, a decisão de trazer um CEO externo pode parecer a única alternativa. Mas contratar um executivo de mercado não resolve tudo por si só. A forma como essa transição é conduzida é o que define se a mudança será um sucesso ou um desastre.

1. Nenhum CEO externo vai dar certo se a família e o Conselho não estiverem alinhados sobre o que esperam dessa liderança.

O novo executivo terá autonomia para tomar decisões ou será apenas alguém para executar ordens? A família está pronta para respeitar os limites entre gestão e propriedade? Essas são perguntas que precisam ser respondidas antes mesmo do hunting começar.

Além disso, a governança precisa estar estruturada. Empresas familiares operam, muitas vezes, com processos informais, e a chegada de um CEO externo exige regras claras. Um Conselho de Administração forte e independente não só legitima o novo líder, mas também protege sua gestão de interferências. Sem isso, o CEO pode se ver paralisado entre expectativas conflitantes e decisões que nunca saem do papel.

2. Achar o CEO ideal não é só sobre currículo e histórico profissional. O desafio maior é encontrar alguém que entenda e respeite a cultura da empresa.

Um executivo que chega tentando mudar tudo de imediato pode enfrentar uma barreira intransponível. Empresas familiares bem-sucedidas não escolhem um CEO apenas pelo que ele fez antes, mas pelo que ele pode fazer dentro daquele contexto específico.
Sendo assim, o novo CEO precisa se comprometer com a preservação do legado da empresa. Isso não significa que ele deva manter tudo como está, mas sim que precisa entender e respeitar os valores e a história da organização. Esse engajamento com a identidade da organização é essencial para conquistar a confiança da família, do Conselho e dos colaboradores. A profissionalização não pode significar uma ruptura brusca, mas sim uma evolução natural que fortaleça o que a empresa tem de melhor.

Além disso, um recrutamento bem conduzido considera mais do que habilidades técnicas. O fit cultural, a capacidade de navegar em ambientes familiares e a inteligência emocional para lidar com diferentes stakeholders são tão importantes quanto a experiência de mercado. É por isso que muitas empresas optam por preparar um executivo interno para assumir o cargo, em vez de trazer alguém de fora sem qualquer histórico na organização.

3. A chegada de um CEO externo sempre gera dúvidas.

Funcionários e até mesmo membros da família podem resistir à nova liderança. Por isso, os primeiros meses são críticos para a construção da legitimidade. O novo executivo precisa se dedicar a entender a empresa antes de querer transformá-la. Conhecer a história, os valores e a forma como as decisões são tomadas é essencial para ganhar a confiança das pessoas e evitar rupturas desnecessárias.

O relacionamento com o Conselho e com a família também precisa ser prioridade. Criar essa conexão desde o início evita ruídos e garante que o CEO tenha apoio para implementar mudanças sem gerar resistência desnecessária. Pequenas vitórias nos primeiros meses ajudam a mostrar valor e solidificar sua posição.

Trazer o primeiro CEO externo é um divisor de águas para qualquer empresa familiar. Mas não é só sobre contratar um bom executivo. É sobre garantir que essa transição seja feita de forma planejada, com governança clara, expectativas bem definidas e comunicação transparente. Se a empresa não estiver preparada para dar autonomia ao novo líder e se a família não estiver disposta a abrir espaço para essa mudança, a contratação pode acabar sendo apenas um curto experimento frustrado.

A pergunta que fica é: a empresa quer, de fato, um CEO externo ou apenas alguém para cumprir um papel sem poder real?

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