Search

O custo oculto da demissão de um CHRO

Foto: divulgação

Por Felipe Ribeiro, sócio da Evermonte Executive Search.

Há algum tempo, escrevi sobre o custo invisível da demissão de um CEO – e como essa decisão pode gerar impactos profundos e difíceis de prever. Essa reflexão voltou à tona recentemente, quando um cliente procurou a Evermonte para iniciar a busca por um novo CHRO. A saída do executivo anterior havia sido silenciosa, sem grandes ruídos. Mas, conforme avançávamos nas conversas com o board, ficava claro que os efeitos da decisão iam muito além da vaga aberta.

Foi aí que a pergunta reapareceu, agora sob outra perspectiva: qual é o real custo de demitir um CHRO? Estamos falando apenas de uma troca de liderança? Ou existe um impacto mais profundo?

A sucessão como ponto cego

A sucessão de um CHRO costuma ser tratada como algo emergencial – quando, na verdade, deveria ser estruturada com o mesmo cuidado reservado às demais funções do C-Level. Ainda assim, na prática, isso raramente acontece.

Segundo a McKinsey, apenas 30% dos CHROs se consideram parte do núcleo estratégico da empresa. Esse dado diz muito. Quando o próprio executivo de RH não se vê no centro da estratégia, é pouco provável que sua sucessão esteja claramente mapeada ou priorizada.

E quando essa cadeira fica vaga, os efeitos são imediatos. Não é sobre ter um nome pronto para assumir. É sobre manter a continuidade de uma agenda que, cada vez mais, sustenta o negócio – até porque, o que seria de qualquer companhia sem as pessoas que as constituem?

A peça-chave que segura a cultura

O CHRO não é só o executivo responsável pelos processos de RH. Ele é quem sustenta a cultura, o clima organizacional e a conexão entre estratégia e pessoas. É quem ajuda a moldar como a liderança se comporta, como decisões são comunicadas, como os talentos são desenvolvidos e retidos.

Perder essa peça, de repente, significa desorganizar estruturas invisíveis que seguram a empresa de pé. E reconstruí-las leva tempo. Muito mais do que o onboarding de um novo executivo pode dar conta.

O preço de reconstruir confiança

Repor um CHRO é caro. Não só pelo salário e pelo tempo de recrutamento executivo (que não é curto), mas porque é preciso reestabelecer a confiança entre os times, entre a liderança e com o mercado.

Além disso, há um custo intangível que poucos colocam na conta: o tempo que se perde para reengajar a cultura, corrigir desalinhamentos e recuperar projetos que estavam sob a liderança direta do CHRO. Muitas vezes, a empresa passa meses apenas tentando voltar ao “ponto neutro” – e nesse meio-tempo, muita coisa pode acontecer.

Quando Laszlo Bock deixou o cargo de CHRO do Google em 2016, após mais de uma década à frente da área de People Operations, a transição foi planejada. Mas não passou despercebida.

Durante seu tempo na liderança, o Google se consolidou como uma referência global em gestão de pessoas. Bock foi o responsável por criar práticas baseadas em dados, promover uma cultura forte e influenciar o mercado global de RH. Sua saída marcou o fim de uma era. Nos anos seguintes, o Google enfrentou sérios desafios relacionados à gestão de pessoas, incluindo protestos internos e queda na confiança dos colaboradores.

O recado é claro: mesmo com planejamento, a saída de um CHRO estratégico pode deixar a cultura exposta.

Não é apenas encerrar um ciclo

Demitir um CHRO não é apenas encerrar um ciclo. É abrir uma série de frentes delicadas: recuperar a confiança da liderança, reestabelecer a conexão com os times, manter a narrativa da cultura viva e retomar projetos estratégicos que estavam em curso.

É por isso que essa decisão precisa ser tomada com mais cuidado do que muitas vezes se vê no mercado. E, principalmente, precisa ser antecedida por conversas difíceis, alinhamento claro e um longo planejamento – mesmo que a decisão final seja seguir por outro caminho.

Afinal, o custo de demitir um CHRO vai muito além da folha de pagamento. Ele se reflete em clima, reputação, estratégia e, no limite, em performance.

Compartilhe

Referência em recrutamento executivo na Região Sul do Brasil, a Evermonte tem como propósito garantir a evolução da governança corporativa por meio do recrutamento de lideranças estratégicas. Com escritórios em Porto Alegre, São Paulo, Curitiba, Florianópolis e Joinville, o grupo conta com uma equipe de headhunters especialistas, com vasta experiência nas áreas para as quais recrutam. Seus processos seletivos são conduzidos a partir de uma metodologia própria, que inclui a utilização de ferramentas de Inteligência Artificial, people analytics e avaliação cognitiva para garantir os melhores resultados aos seus parceiros.

Leia também