Por Daniela Martins, líder de RH e marketing da Franq.
Após décadas trabalhando no setor de Recursos Humanos em grandes multinacionais, há dois anos voltei a ter contato com o marketing ao assumir também a Diretoria de Marketing da Franq. Minha primeira imersão na área aconteceu na pós-graduação que concluí há mais de 20 anos, e como não poderia ser diferente após tantos anos, me deparei com um cenário completamente diferente.
O marketing digital, por exemplo, sequer existia na época em que comecei, e hoje redefine completamente os famosos “4 Ps” (Produto, Preço, Praça e Promoção) para empresas de todos os portes. O conceito de distribuição (contido no P de Praça) ganhou novos contornos, impulsionado pela viralização e pelo alcance exponencial das redes sociais.
Para dar conta das expectativas que essa nova posição exigia — e das minhas próprias ambições como líder — recorri a duas características que sempre me acompanharam: curiosidade e dinamismo. Somadas a minha vontade de aprender continuamente, foram fundamentais para que eu pudesse me adaptar rapidamente. É fato que as mudanças não se restringem ao marketing: vivemos hoje em constante volatilidade, em todas as frentes de atuação.
O valor de saber ouvir
Nesse ambiente fluido e imprevisível, percebi a importância de me colocar, antes de tudo, como uma aprendiz. Minha trajetória foi, durante muitos anos, voltada para Recursos Humanos, atuando próxima de lideranças seniores e colaborando com o desenvolvimento de organizações. Nesse percurso, aprendi que liderar não se resume a tomar decisões ou traçar estratégias; liderar, sobretudo, é saber ouvir.
Desenvolver a escuta ativa requer intenção genuína em entender o outro. Significa estar disposto a fazer perguntas, aprofundar discussões e considerar pontos de vista distintos do seu — ainda que eles tragam desconforto ou confrontem premissas já estabelecidas. É nessa predisposição para ouvir que surgem insights e inovações, pois cria-se um ambiente de colaboração autêntico, onde cada integrante da equipe sente liberdade para compartilhar ideias. E quando falamos em equipes diversas, com pessoas de diferentes idades, formações e backgrounds, a possibilidade de encontrar soluções criativas é ainda maior.
Um desafio especial para as mulheres
Para as mulheres que trilham o caminho da liderança, esse desafio se torna ainda maior. É preciso mostrar competência e consistência em um mercado que, embora tenha avançado, ainda carrega sinais de desigualdade de gênero. Entretanto, as características atribuídas historicamente às lideranças femininas — como empatia, escuta ativa e colaboração — podem fazer toda a diferença em um mundo corporativo que se transforma a cada dia.
Seja no marketing ou na gestão de pessoas, para mim a chave do sucesso está em manter a mente aberta, ter humildade para reaprender e a coragem de questionar o que parece imutável. Afinal, nenhum conceito deve ser tratado como verdade absoluta em tempos de mudanças tão aceleradas. Saber ouvir e se abrir para as mudanças — seja adaptando estratégias de marketing a novos cenários digitais ou reestruturando processos de RH para acolher a diversidade — foi, para mim, o melhor caminho para seguir avançando.