Enquanto as práticas ESG ganham cada vez mais força no mundo dos negócios, muitas empresas ainda encontram-se estagnadas no dilema de “por onde começar?”.
A resposta para essa pergunta crucial pode estar na análise de materialidade, um processo que ajuda a identificar quais temas de sustentabilidade são realmente relevantes para o negócio e seus stakeholders.
Ao mapear os assuntos mais importantes, a análise de materialidade permite que as organizações direcionem seus esforços com mais clareza e propósito.
Essa ferramenta orienta a alocação de recursos e a definição de estratégias para temas que realmente influenciam o desempenho, a reputação e a sustentabilidade do negócio.
“A análise de materialidade é, antes de tudo, uma ferramenta de escuta qualificada. Quando bem conduzida, ela permite que a empresa compreenda o que é prioritário não apenas sob a ótica interna, mas também segundo os olhos de quem está do lado de fora, sociedade, investidores, parceiros e consumidores. Isso torna a estratégia ESG mais assertiva, mensurável e conectada com os desafios reais do setor”, explica Sharon Haskel Koepsel, especialista em ESG e consultora de Governança Sustentável no escritório Flávio Pinheiro Neto Advogados.
A construção de uma matriz de materialidade, com base no conceito de dupla materialidade, permite analisar dois critérios fundamentais: a materialidade financeira e a de impacto.
Quando se analisa de fora para dentro, é possível perceber como as externalidades, como, por exemplo, as questões climáticas e demais temas ESG, influenciam os resultados financeiros e a estratégia do negócio, o que diz respeito à materialidade financeira.
Já quando se faz um estudo de dentro para fora, pode-se notar como as atividades da empresa geram efeitos sociais, ambientais e econômicos para a sociedade, questões que estão centradas na materialidade de impacto.
O cruzamento dessas dimensões oferece uma visão clara sobre quais temas devem estar no centro da estratégia corporativa, não apenas pela relevância financeira, mas também pela importância para os stakeholders e para a sociedade.
Ao identificar o que realmente importa, a organização consegue direcionar seus esforços e investimentos com mais foco e eficiência. O resultado é a redução de riscos, o aumento da competitividade e a geração de valor sustentável no longo prazo.
Ao priorizar os temas que estão no topo da pirâmide de relevância, a empresa consegue transformar boas intenções em resultados concretos.
Esses temas devem orientar o posicionamento institucional, os investimentos sociais e ambientais, os indicadores de desempenho e até a comunicação com o mercado. Essa abordagem também impulsiona a inovação, reforça a reputação e fortalece o relacionamento com stakeholders.
“É importante lembrar que ESG não é sobre fazer tudo. É sobre fazer bem o que importa. Ao invés de tentar atender a todas as demandas ESG de forma genérica, a materialidade ajuda a elencar aquilo que é mais relevante, tanto para a estratégia da empresa quanto para os públicos com os quais ela se relaciona. A empresa que tenta responder a todas as demandas corre o risco de desperdiçar recursos, perder foco e, no fim, entregar pouco resultado. A clareza sobre os temas prioritários é o que torna possível avançar de forma consistente e relevante”.
Outro ponto crucial é evitar cair na armadilha das ações superficiais. Sharon reforça que a sustentabilidade não pode ser só uma vitrine.
“Mais do que selos, certificações ou relatórios bonitos, o que conta é a coerência entre discurso e prática. A verdadeira transformação acontece abaixo da superfície, no planejamento, na gestão, na mensuração de impactos e na incorporação da sustentabilidade no modelo de negócio”.
Por isso, construir uma estratégia ESG sólida começa com a pergunta: o que é material para o nosso negócio e para a sociedade? A resposta, pautada pela análise de materialidade, não só define prioridades, mas também abre caminho para uma atuação mais estratégica, responsável e eficaz.