Nem todo aprendizado sobre liderança, conexão e humanidade acontece em salas de reunião. Alguns deles surgem no topo de uma cachoeira, no meio de uma travessia de cânion ou pendurado a 70 metros do chão por uma corda. Por alguns anos, vivi essa realidade sendo parte da equipe da Rota Aventura, uma empresa de turismo de aventura que operava suas atividades, na época, em Nova Roma do Sul.
Rapel, acampamentos, rafting, saltos, trilhas e travessias eram parte da rotina dos nossos fins de semana. Mas, por trás de toda a adrenalina, havia muito mais do que a busca por emoção. Havia cuidado. Havia entrega. E havia um líder.
A Rota era liderada pelo Ronaldo Garbin, o Garba, que nos ensinava, na prática, o que significa estar à frente de uma equipe quando o risco é real e a confiança precisa ser absoluta. Ele sempre deixou claro: a prioridade número um era a segurança. Não importava o quão empolgante fosse a atividade, tudo era pensado para garantir que cada pessoa voltasse para casa em segurança.
Era um cuidado que começava nos detalhes dos equipamentos, passava pelas técnicas de condução e chegava na preocupação com cada participante. Quem ouve isso pode imaginar que a equipe era composta por gente séria e sisuda. Mas não poderia estar mais longe da verdade. Na Rota, o pré-requisito não era um diploma de engenharia, era não ter saído da 5ª série. E eu falo isso com orgulho.
Ali, a leveza era ferramenta de trabalho. Criar um ambiente descontraído, leve e divertido fazia parte do pacote de segurança emocional. Porque a maioria das pessoas que participavam das atividades estavam ali para viver algo fora da zona de conforto. Muitas vezes, enfrentando seus maiores medos.
Imagine estar em pânico na beira de um penhasco e, ao olhar para o lado, ver um instrutor rindo, brincando, fazendo piada com a situação, mas ao mesmo tempo, demonstrando total confiança e controle. Esse era o segredo. Sabíamos que, para as pessoas darem o primeiro passo, elas precisavam acreditar em nós. E para isso, precisávamos nos conectar de verdade.
Mas como criar uma conexão real com uma pessoa que você conheceu há menos de meia hora? A resposta, o Garba nos mostrou sem precisar explicar: sendo verdadeiro.
A confiança não vinha apenas do conhecimento técnico — embora ele tivesse muito. Ela vinha da transparência, da autenticidade. Ele mostrava quem era, sem filtros. Mostrava suas forças e suas fragilidades. E isso ensinava mais do que qualquer manual.
Durante meu tempo com a Rota, aprendi muito sobre esportes de aventura. Mas aprendi ainda mais sobre gente. Sobre a importância de cuidar do outro, sobre liderar com o coração, sobre rir até nas situações mais tensas, e sobre construir laços que sobrevivem ao tempo.
O Garba se foi nesse fim de semana, mas o legado que ele deixou segue vivo em cada pessoa que desceu uma trilha com a Rota, em cada amigo que encontrou coragem para pular da ponte, em cada risada no acampamento, em cada equipe que ele formou.
Por tudo isso, obrigado Garba. Pelas aventuras, pelos ensinamentos, e principalmente, por mostrar que a maior liderança é aquela que nos faz sentir seguros para sermos quem somos, mesmo quando estamos pendurados a 70 metros do chão.