Search

Como o cooperativismo de crédito constrói Coopland no mundo real

Foto: divulgação

No meu novo livro, Coopland – Passaporte para o sucesso, proponho um exercício de imaginação: como seria viver em um lugar onde a cooperação é a base de tudo? Uma nação onde o desenvolvimento não é privilégio de poucos, mas resultado do esforço coletivo. Onde os negócios prosperam de forma sustentável e a riqueza circula nas próprias comunidades.

O interessante é perceber que, embora Coopland seja um conceito imaginário, ele tem muito mais a ver com a nossa realidade do que muitos imaginam. Estive em maio no Legado Coop, em Nova Petrópolis, no Rio Grande do Sul, e lá tive a oportunidade de refletir sobre isso com mais profundidade. Durante o evento, vi dados de um levantamento do Sistema OCB que mostram, na prática, como o cooperativismo de crédito já cumpre esse papel transformador no Brasil.

Quando olhamos para a presença das cooperativas de crédito no país, fica evidente que elas chegam onde o sistema financeiro tradicional não consegue – ou não quer – estar. Enquanto um banco só considera viável abrir uma agência em cidades com pelo menos oito mil habitantes, uma cooperativa consegue atuar em municípios bem menores, a partir de 2,3 mil habitantes. E a lógica se repete quando analisamos os indicadores econômicos. Uma cooperativa se sustenta em cidades com PIB a partir de R$ 79 milhões, enquanto um banco público exige, no mínimo, R$ 146 milhões, e um privado, R$ 220 milhões. Ou seja, o cooperativismo enxerga oportunidade onde o mercado financeiro tradicional vê apenas dificuldade.

O tamanho desse movimento é mais expressivo do que muita gente imagina. No ranking do sistema financeiro nacional, o cooperativismo de crédito ocupa a primeira posição em crédito ao pequeno negócio, a segunda em crédito rural e a terceira em consórcios. Não é pouca coisa. E o impacto não para por aí. Só entre 2016 e 2021, a economia gerada para os cooperados nas operações de crédito chegou a R$ 87,5 bilhões. Isso significa dinheiro que permaneceu no bolso dos associados, girou na economia local e fortaleceu as próprias regiões.

Para muitos municípios brasileiros, o cooperativismo de crédito não é apenas uma alternativa – é a única opção. Existem hoje 368 cidades no Brasil onde a única instituição financeira presente é uma cooperativa de crédito. O efeito disso na economia local é direto e mensurável. Esses municípios apresentam um acréscimo de até R$ 3,9 mil no PIB por habitante, além de índices comprovados de redução da pobreza, geração de empregos e fortalecimento da renda.

O cooperativismo de crédito está diretamente ligado ao aumento da atividade econômica, à geração de riqueza, ao fortalecimento dos pequenos negócios e da agropecuária, e, principalmente, à inclusão financeira. É uma engrenagem que movimenta não só dinheiro, mas desenvolvimento, pertencimento e transformação social.

Por outro lado, mesmo com tantos resultados, ainda há desafios importantes a serem superados. O levantamento do Sistema OCB aponta pontos sensíveis que precisam de atenção. O primeiro deles é o desconhecimento de grande parte da população sobre o que é, de fato, uma cooperativa e como ela funciona. Soma-se a isso uma cultura ainda muito individualista, que muitas vezes trava o avanço de modelos mais colaborativos. A desigualdade regional no acesso ao cooperativismo, a complexidade da legislação e, especialmente, a dificuldade em atrair os jovens e incorporar inovação também aparecem como barreiras a serem vencidas.

Esse último ponto, aliás, é algo que tenho reiterado em diversos fóruns e conversas: se queremos construir, de fato, uma Coopland no mundo real, precisamos urgentemente dialogar com as novas gerações, tornar o cooperativismo mais atrativo, mais inovador e mais conectado com os desejos e necessidades do futuro.

Os números, os resultados e os impactos mostram que já começamos essa caminhada. O cooperativismo de crédito já é, há muito tempo, uma ponte concreta entre o mundo que temos e o mundo que queremos construir.

Compartilhe

CEO de cooperativa de crédito, autor de livros sobre cooperativismo e Influenciador Coop do Sistema OCB.

Leia também