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Você acha que conhece a Geração Z? Prepare-se para conhecer os super zoomers

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Foto: divulgação

Nos últimos anos, os jovens da Geração Z vêm sendo associados a um estilo de vida marcado por inovação, fluidez, ativismo social e domínio das redes sociais. No entanto, uma subcategoria silenciosa, mas crescente, tem chamado a atenção por propor um caminho diferente ou, talvez, um retorno às raízes. Estamos falando dos Super Zoomers, jovens que unem disciplina, espiritualidade, busca por virtudes clássicas e, paradoxalmente, uma forte presença nas redes.

Esse novo perfil ganhou notoriedade nas plataformas digitais por suas rotinas rígidas, hábitos religiosos, interesse por filosofia clássica, autocuidado intenso e postura conservadora em certos aspectos da vida. Eles acordam cedo, rezam, meditam, estudam, treinam o corpo e a mente, evitam vícios e pregam uma vida com propósito. Tudo isso, muitas vezes, compartilhado com estética impecável nas redes sociais, gerando curiosidade, admiração e também sátiras e memes.

Apesar de parecer um contraste à cultura mais flexível e imediatista associada à Geração Z, os Super Zoomers não vivem à margem da modernidade, eles a reinterpretam. Com uma base de valores tradicionais, utilizam a internet como vitrine e ferramenta para propagar um estilo de vida que busca o autoconhecimento, o equilíbrio e a elevação pessoal. E isso tem implicações culturais, sociais e até econômicas que merecem atenção.

Quem são os Super Zoomers, afinal?

Os Super Zoomers são jovens da Geração Z que adotaram um arquétipo mais disciplinado, espiritual e reflexivo, em contraponto ao comportamento mais liberal, fragmentado e hiperestimulado que costuma caracterizar sua geração. Em vez de viverem guiados por tendências passageiras, buscam se ancorar em valores atemporais como fé, propósito, ordem, autocontrole e excelência.

Esse arquétipo surgiu de forma orgânica, mas ganhou tração por meio de conteúdos que viralizaram no TikTok, YouTube e Instagram. Perfis de jovens que mostram suas rotinas com despertador às 5h, leituras de autores como Epicteto, reflexões sobre estoicismo, orações matinais e treinos físicos diários têm inspirado (e dividido) opiniões. Para muitos, trata-se de um culto ao “alto desempenho moral e espiritual”. Para outros, uma encenação superficial de virtudes.

Mas uma coisa é certa: os Super Zoomers respondem a um vazio contemporâneo. Em meio ao excesso de estímulos, notificações, ansiedade e relativismo moral, muitos jovens começaram a buscar uma vida mais centrada, com princípios claros e hábitos sólidos. Essa busca não necessariamente é religiosa no sentido institucional, mas é espiritual no sentido mais amplo e filosófico.

Isso os distingue não apenas de outras gerações, mas também de seus próprios pares. Enquanto a Geração Z em geral busca autenticidade e liberdade, os Super Zoomers buscam estrutura e significado. E esse contraste, longe de ser um conflito, representa a riqueza de um momento cultural em que diferentes modelos de vida coexistem e influenciam uns aos outros.

As virtudes tradicionais e os rituais dos Super Zoomers

No centro da filosofia de vida dos Super Zoomers estão as virtudes clássicas. Eles resgatam práticas que remetem a um ideal de vida virtuosa e disciplinada, com destaque para hábitos que exigem constância, foco e reflexão. Essas práticas vão desde acordar cedo e manter uma rotina estruturada até investir em espiritualidade e estudo filosófico.

A disciplina é uma das marcas mais visíveis. O dia de um Super Zoomer costuma começar cedo, com alarmes programados para antes das 6h, sessões de oração ou meditação, exercícios físicos e planejamento do dia. O objetivo é criar uma estrutura que promova autodomínio, produtividade e clareza mental. Esse ritmo contrasta com a imagem comum do jovem procrastinador e disperso — outro estereótipo da Geração Z.

Assim como a espiritualidade também ocupa lugar central. Muitos Super Zoomers praticam a oração diária, mesmo sem necessariamente se vincularem a instituições religiosas formais. Outros exploram meditação, contemplação filosófica e tradições de sabedoria antiga. O ponto em comum é a busca por uma vida interior rica e conectada a algo maior que o “eu” digital.

Outro elemento importante é o desempenho pessoal aliado ao autocontrole. Os Super Zoomers evitam vícios como pornografia, álcool, procrastinação, consumo excessivo e até o uso abusivo das redes sociais. Para eles, a liberdade está na disciplina. Muitos acompanham métricas do próprio desempenho, leem clássicos da filosofia, controlam a alimentação e se envolvem em debates morais e éticos com seriedade.

Por fim, há a valorização da reflexão filosófica. O interesse por autores como Sêneca, Marco Aurélio, Aristóteles e C. S. Lewis revela uma tentativa de ir além das frases prontas de autoajuda. Trata-se de um movimento de reencantamento do saber clássico, que busca fundamentos para viver de forma mais sábia, coerente e profunda — mesmo que isso seja exibido em vídeos curtos no TikTok.

A tensão entre tradição e digitalidade

A grande curiosidade (e polêmica) que os Super Zoomers despertam vem exatamente do contraste entre seu discurso tradicionalista e sua atuação moderna. Afinal, como conciliar uma vida espiritual e disciplinada com a cultura da exibição digital? É aqui que reside uma das características mais intrigantes desse perfil: a vivência de valores antigos dentro das estéticas e linguagens contemporâneas.

Eles usam redes sociais para propagar ideias que, muitas vezes, se opõem ao imediatismo, à superficialidade e à desordem moral que criticam. E fazem isso com filtros, trilhas sonoras, roteiros e edição profissional. Isso leva muitos a questionarem a autenticidade do movimento. Estariam apenas performando virtudes para ganhar likes? Ou realmente vivenciam o que pregam?

A resposta, talvez, esteja na complexidade da própria Geração Z. Essa é uma geração que cresceu entre dois mundos — o físico e o digital — e aprendeu a navegar entre o real e o encenado. Para os Super Zoomers, exibir virtudes pode ser tanto um ato de vaidade quanto uma forma de testemunho, de inspiração e até de resistência contra os vícios da era digital.

Esse paradoxo é importante de ser compreendido, especialmente por empresas, educadores e formadores de opinião. Criticar os Super Zoomers pela exposição não é suficiente. É preciso entender que, para essa juventude, o digital é parte da vida e também pode ser usado para o bem, para ensinar, refletir e influenciar positivamente.

Por que os Super Zoomers importam (e o que podemos aprender com eles)

O surgimento dos Super Zoomers é mais do que uma curiosidade cultural, é um sinal de que a juventude está buscando respostas mais profundas em meio ao caos contemporâneo. Eles mostram que não é necessário abandonar o mundo digital para buscar sentido, virtudes e vida com propósito.

Esses jovens são indicadores de que há uma demanda reprimida por espiritualidade, estrutura, valores éticos e compromisso pessoal. Enquanto o mundo corporativo, a educação e a política tentam se adaptar a um futuro líquido e incerto, os Super Zoomers estão tentando encontrar terra firme em princípios que resistiram ao tempo.

Empresas e marcas podem aprender muito com esse perfil. Não se trata de vender produtos religiosos ou livros de filosofia, mas de entender que há um novo público que valoriza profundidade, clareza moral, autenticidade e coerência. O marketing de impacto precisa ir além da estética e abraçar também o conteúdo ético e filosófico.

Mais do que uma tendência, os Super Zoomers são um chamado a um novo tipo de protagonismo juvenil, um protagonismo que une razão e fé, corpo e espírito, modernidade e tradição. Eles não querem apenas seguir tendências; querem se tornar pessoas melhores e influenciar o mundo a partir dessa busca.

Seriam os guardiões da virtude em tempos líquidos?

Em um mundo marcado pelo excesso de informação, estímulos e superficialidade, os Super Zoomers representam uma guinada inesperada, mas necessária. São jovens que olham para trás, para as tradições e virtudes que moldaram civilizações, e tentam trazê-las para o presente de forma criativa, disciplinada e pública.

Eles não negam a tecnologia nem vivem em mosteiros digitais. Pelo contrário, utilizam todos os recursos do mundo contemporâneo para viver (e divulgar) uma vida com propósito, autocontrole e espiritualidade. Essa combinação de antigo e novo, sagrado e conectado, causa desconforto mas também admiração.

Para o futuro, os Super Zoomers nos provocam uma lição essencial: o progresso não está apenas em acelerar, mas também em aprofundar. E, nesse sentido, talvez essa juventude esteja nos mostrando um caminho mais equilibrado, consciente e virtuoso em meio ao barulho das redes.

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CEO da Drin Inovação, TEDx speaker, mentor, conselheiro e Linkedin TOP Voice.

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