Por Graciele Lima, head do segmento de agronegócio na Senior Sistemas.
A aplicação da Inteligência Artificial (IA) no agronegócio já não é uma promessa futura, é uma realidade presente e em expansão. Se, inicialmente, sua utilização se concentrava em tarefas dentro da porteira, como análise de pragas, monitoramento do solo e agricultura de precisão, hoje vivenciamos uma transformação ainda mais profunda: a IA passou a ocupar um papel estratégico na gestão do agronegócio como um todo. Estamos diante de uma nova fase, o Agro 5.0, em que a tecnologia transcende a lavoura para impactar decisivamente os processos gerenciais, logísticos e comerciais.
A principal mudança está na percepção e uso das ferramentas de gestão, especialmente os sistemas ERP (Enterprise Resource Planning). Antes vistos como soluções operacionais voltadas apenas ao controle, esses sistemas agora ganham um caráter transformacional, com o uso de IA para interpretar grandes volumes de dados, gerar insights valiosos e automatizar decisões. Isso permite um novo tipo de experiência: mais conectada, eficiente e orientada por dados. Assim, a IA deixa de ser apenas uma aliada do campo e torna-se peça-chave na tomada de decisões em todas as etapas do agro, do plantio à comercialização.
Essa transformação é impulsionada por uma nova geração de líderes rurais. Nascidos entre os anos 1980 e 1990, esses profissionais cresceram em meio ao avanço da tecnologia digital. Diferentemente das gerações anteriores, que baseavam suas decisões na experiência prática, esses novos gestores exigem informações precisas e em tempo real, e esperam interagir com os sistemas de gestão de forma intuitiva, conversacional e integrada. Eles não querem apenas relatórios: buscam respostas, recomendações, alertas e análises preditivas. Para eles, dados são ativos estratégicos — e a IA é a chave para ativá-los.
Contudo, apesar de toda essa evolução, ainda há desafios importantes a serem superados. Um dos maiores entraves é a subutilização das informações já disponíveis. Estima-se apenas entre 10% a 20% dos dados gerados por máquinas, sensores e tratores sejam, de fato, transformados em decisões práticas. Isso ocorre não apenas por limitações tecnológicas, mas também por falta de conhecimento, treinamento e maturidade digital. Nesse contexto, o papel da IA não é “reinventar a roda”, mas resolver problemas reais e cotidianos: identificar padrões fora do esperado, evitar desperdícios, melhorar a qualidade dos processos e, principalmente, aumentar a produtividade.
Além disso, o agro opera sob variáveis que não estão sob o controle direto do produtor, como clima, câmbio, cotações internacionais entre outros. Portanto, quanto maior for o domínio sobre os fatores internos, como custos, desperdícios e desempenho operacional, mais preparada estará a gestão para reagir a esses elementos externos. A IA aplicada é uma poderosa aliada nesse processo de tomada de decisão baseada em dados confiáveis e atualizados.
É fundamental desmistificar a ideia de que essas tecnologias são inacessíveis ou restritas a grandes produtores. Pelo contrário: muitas soluções já são aplicáveis e viáveis para pequenas propriedades e seus produtores neste cenário temos a fortaleza das cooperativas do setor, as quais transacionam mais de 54% de toda produção agrícola do país, segunda a Organização das Cooperativas Brasileiras, Sistema OCB. A democratização do acesso à informação e à gestão de dados é um dos caminhos mais promissores para a evolução sustentável e competitiva do agronegócio brasileiro.
Em suma, a IA não apenas pode, como deve ser usada como catalisadora da gestão inteligente no campo. Trata-se de um movimento inevitável e necessário, que coloca o agro brasileiro na trilha da inovação global. O desafio agora é ampliar a maturidade digital do setor, formar profissionais capacitados e transformar dados brutos em decisões estratégicas. Afinal, a tecnologia está pronta.