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Quando sua ideia “vaza” e você descobre o que realmente constrói uma startup

Marina Ferraz sempre foi inquieta. Curiosa, criativa e detalhista, adorava rabiscar ideias em cadernos, explorar problemas e imaginar soluções. Mesmo quando trabalhava em grandes agências de marketing digital, carregava consigo uma certeza silenciosa: um dia, teria o próprio negócio. Mas nunca soube ao certo por onde começar.

Até que, durante a pandemia, passou a comprar roupas confortáveis e peças únicas diretamente de pequenas artesãs da sua cidade. Começou por necessidade, ficou por convicção. Percebeu o quanto era mais acessível, autêntico e humano. Mas também viu o caos: pedidos por mensagens diretas no Instagram, prazos desorganizados, pagamentos improvisados, artesãs com dificuldades de precificação e entrega.

Foi aí que nasceu a ideia: criar uma plataforma que conectasse artesãs e pequenos ateliês de moda sustentável diretamente aos consumidores, com pagamento integrado, catálogo organizado e apoio na logística. Algo como “um Elo7 da moda autoral” — mas com propósito social.

Marina mergulhou na ideia. Rascunhou jornadas de usuário no Miro, fez benchmark com plataformas de nicho, leu cases de moda circular e criou uma apresentação visualmente impecável. Era o projeto mais estruturado que já tinha tirado do papel. Mas faltava algo: feedback.

Com receio de ser copiada, Marina só mostrava a ideia para pessoas muito próximas — e, ainda assim, de forma superficial. Até que, em um evento de networking, cruzou com uma empreendedora conhecida no ecossistema. Ela ouviu com atenção, fez perguntas detalhadas, anotou tudo. Foi simpática, profissional. Marina sentiu confiança e compartilhou mais do que o usual.

Dois meses depois, levou o golpe: ao abrir o LinkedIn, viu o anúncio de uma nova startup. Uma plataforma de moda artesanal, com proposta parecida, público semelhante. Até o nome lembrava o que ela tinha pensado.

Congelou. Chorou. A frustração virou raiva. Sentia-se traída. “Roubaram minha ideia”, escreveu num grupo de empreendedoras. Recebeu acolhimento, mas também uma provocação:

“Quantas ideias incríveis já morreram no papel? E quantos negócios nasceram da coragem de executar o básico muito bem?”

Marina ficou em silêncio. Refletiu. Dias depois, em uma conversa com uma mentora, ouviu uma frase que mudou tudo:

“Ideias não valem nada. Execução vale tudo. O que torna você única não é o que pensou, mas o que vai fazer com isso agora.”

Respirou fundo. Desistir? Não. Copiar? Também não. Decidiu ir mais fundo.

Em vez de correr para lançar um app, voltou às origens — literalmente. Passou dias visitando ateliês locais, conversando com artesãs de periferia, ouvindo suas histórias, desafios e sonhos. Descobriu que muitas nem tinham conta bancária, outras sequer sabiam precificar suas peças. A maioria não queria “uma plataforma”, mas ajuda com entregas, recebimentos e organização da produção.

Percebeu que a dor era maior — e mais complexa — do que imaginava.

Pivotou a ideia. Deixou o marketplace em segundo plano e começou a desenvolver uma solução de gestão e logística simplificada para grupos de produção artesanal. Começou com papel, planilhas e WhatsApp. Criou modelos de fichas técnicas, controle de pedidos, fluxo de entregas e um sistema de pontos de retirada em bairros parceiros.

Os primeiros testes pagos vieram com um coletivo de 10 artesãs. Em três meses, dobraram a produção e reduziram as perdas em 35%. Marina entendeu, ali, o verdadeiro valor de uma ideia: não está no plano original, mas na escuta ativa, adaptação contínua e construção conjunta com quem sente a dor.

Hoje, ao contar sua história, Marina diz com convicção:

“Minha ideia foi copiada, sim. Mas meu negócio, não. Porque meu negócio foi feito com quem costura sonhos — não com quem só ouviu um pitch.”

Aprendizados do episódio:

  • A ideia tem valor — mas só nas mãos de quem se compromete com a execução real, profunda e adaptável.
  • Proteger demais a ideia pode te isolar. Compartilhar com as pessoas certas te ajuda a crescer mais rápido.
  • Ser “copiado” não é o fim — é só o começo de um novo nível de entrega. Ninguém copia sua escuta, sua vivência, seu propósito.

No próximo episódio: MVP: Feio, funcional e necessário. Como um grupo de universitários testou sua ideia com papel, WhatsApp e fita crepe e conquistou seus primeiros 100 usuários sem nem ter um app.

Gostou da história? Conecte-se comigo no LinkedIn e compartilhe este episódio com alguém que está guardando uma ideia como um segredo. O mundo não precisa de segredos. Precisa de soluções.

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CEO da Sapienza.

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