O esporte sempre teve um papel gigante na minha vida. Mas não pelo que muita gente costuma buscar nele: performance, estética, status. O que sempre me pegou foi outra coisa. Liberdade. Autonomia. Contracultura. Aquela sensação de estar fazendo algo fora da curva, no meu ritmo, do meu jeito. E sem pedir permissão.
O skate e o patins foram talvez meus primeiros professores. Me ensinaram, de cara, que cair faz parte. Que o tombo é parte do rolê. E que, muitas vezes, a parte mais divertida vem logo depois da queda. Não porque a gente gosta de se machucar, mas porque a gente aprende a se levantar. A tentar de novo. A rir do tropeço. “A felicidade da sua vida depende da qualidade dos seus pensamentos”, disse Marco Aurélio. E poucos pensamentos são tão poderosos quanto a decisão de levantar após uma queda.
E o skate também ensinou algo que nenhum outro esporte me mostrou com tanta força: a potência da comunidade. No skate, ninguém torce pela queda do outro. Todo mundo comemora quando você acerta. Mesmo se for seu “oponente”. Existe uma alegria genuína em ver o outro evoluindo. Isso me ensinou que o verdadeiro progresso não é sobre vencer alguém, mas sobre crescer junto.
No surf, entendi que não adianta bater o pé. A onda vem quando ela quiser. Não tem como mandar no mar. O que dá para fazer é observar, esperar, aprender o ritmo da coisa. Saber a hora de remar. Saber a hora de parar. É a vida mostrando que controle é ilusão e que o jogo é sobre adaptação. “Aceite tudo o que acontecer a você, mesmo aquilo que lhe pareça adverso”, já dizia Epicteto.
O rafting vai na mesma linha. Não adianta remar contra a corrente só por teimosia. Tem momento que a melhor estratégia é fluir com o rio. Economizar energia. Ter calma. Saber quando é a hora certa de entrar em ação. E isso também vale para a vida, para o trabalho, para aqueles dias em que tudo parece estar te arrastando.
Aí entrou o mergulho. Silêncio. Presença. Nada de celular, notificação, prazos, cobranças. Só eu, minha respiração e o azul em volta. Nunca estive tão presente quanto debaixo d’água. E é engraçado pensar que a gente tem que se desconectar de tudo para, finalmente, se conectar com algo. “Nada, para quem raciocina bem, é um obstáculo intransponível”, diria Sêneca.
O yoga virou uma outra chave. Mostrou que soltar, muitas vezes, é mais difícil do que segurar. Que a verdadeira força, muitas vezes, é relaxar. Confiar. Deixar fluir. A mente ocidental pira com isso, mas quem vive entende. E aprende.
No kitesurf, aprendi com o vento. Se ele não vem, paciência. Se vem demais, aceita. Aprende a fluir com ele. Porque não tem como controlar. Tem como ajustar, aproveitar, curtir o velejo. O vento é um lembrete constante de que a vida é assim: incerta, imprevisível e cheia de possibilidades.
No fim, todos eles me lembram, todos os dias, que a queda não é o fim. Que a queda faz parte do processo de evolução. Que o segredo é levantar, sacudir a poeira, dar risada e seguir para o próximo obstáculo. E que estar cercado por gente que te aplaude, mesmo quando você é o último a acertar, é uma das maiores fortalezas que você pode ter.
Esses aprendizados, apesar de nascidos no esporte, fazem ainda mais sentido quando levados para o universo corporativo. A capacidade de adaptação diante de mudanças no mercado, a paciência em esperar o momento certo para agir, a habilidade de manter a calma em meio ao caos e a importância de construir um ambiente onde as pessoas torcem umas pelas outras — tudo isso forma a base de uma liderança mais consciente e mais humana.
Como executivo, aprender a cair com dignidade, ajustar o curso com serenidade e reconhecer que nem tudo está sob seu controle é vital. A pressão, os prazos e as cobranças são como o vento ou a correnteza: você não os controla, mas pode aprender a navegar com eles.
E talvez o mais curioso de tudo isso é que esses aprendizados, que hoje eu consigo linkar com a filosofia estoica, vieram primeiro no corpo. Vieram nas quedas, no sal, na areia, no vento, no suor. Vieram antes de qualquer leitura. Vieram da vida. E são esses que ficam.