Decidi que, de tempos em tempos, vou contar aqui um pouco das minhas viagens.
Das minhas aventuras pelo mundo, que às vezes são planejadas com mil abas abertas no navegador, e às vezes são só o que acontece quando a gente muda de lugar por uns dias.
Começo pelo Chile. Onde estive na virada do ano. Fora da temporada. No meu tempo.
E claro, pode ser que um dia eu volte pra lá. Com outra visão. Outra cabeça.
Porque, no fundo, quando a gente volta pra um lugar, já não é mais a mesma pessoa que esteve ali da primeira vez.
Tem lugares que mudam a gente de forma sutil.
Outros só escancaram o que já estava aqui dentro.
E eu quero, aos poucos, trazer essas experiências. Intercalando com os outros textos, os outros assuntos.
Porque viajar também me organiza por dentro. E às vezes, é disso que a gente precisa pra seguir.
Comecei por Santiago. A chegada do avião já é incrível: ver a Cordilheira dos Andes dominando a paisagem antes mesmo de pousar.
A cidade é viva, moderna, segura, fácil de andar. Fiquei na região da Providência. Prático, bem localizado, perto do metrô. Dá pra andar bastante por lá. Tem cafés, restaurantes e parques que valem a pausa.
Fui até o Parque Bicentenário. Vi flamingos no lago e gente deitada no gramado sem pressa de voltar. Também subi o Cerro San Cristóbal. Dá pra ir de funicular ou encarar a subida a pé. A vista vale. Lá de cima, Santiago se estende inteira na sua frente.
Perto de Santiago, conheci o Embalse de Yelo, uma represa cercada por montanhas que parece ter parado no tempo. Esse vale até uma foto, porque palavras faltam: o silêncio e a paisagem falam por si.
Depois, fui pro Atacama. San Pedro é outra lógica. Cidade pequena, ruas de terra, mochileiros, silêncio e céu escancarado.
Acordei às 4 da manhã pra ver os Gêiseres del Tatio. Frio cortante, mas o sol nascendo com vapor subindo da terra compensa qualquer tremedeira. Foi uma das experiências mais fortes da viagem. E à noite, fiz um tour astrofotográfico. Chocolate quente, cobertor, telescópio. Vi Saturno com os próprios olhos. E nunca mais esqueci.
Fui nas Lagunas Escondidas de Baltinache. Um conjunto de sete lagoas de água absurdamente clara, em tons que variam entre o azul piscina e o verde cristal, no meio do nada. Cercadas por sal e silêncio, parecem esquecidas no meio do deserto. Difícil acreditar que existem mesmo.
Por causa da alta concentração de sal, dá pra flutuar com facilidade, como no Mar Morto. Mas hoje não é mais permitido entrar na água, por preservação. E tudo bem. A paisagem já compensa por si. A cor, a textura do chão, o contraste com o céu… Parece outro planeta.
O acesso até lá não é dos mais fáceis. A estrada é de chão, com muita pedra solta. Mas se tiver de 4×4 ou com passeio fechado, vale cada sacolejo. Chegando, o visual recompensa. E o bom é que, por ser mais afastado, o lugar costuma ser menos cheio que outros pontos do Atacama.
O Valle de la Luna também impressiona. O terreno seco, as formações rochosas e o silêncio criam um clima diferente. Vale ir com água, óculos escuros e casaco. O calor some de repente e a temperatura cai rápido.
Também fiz o tour das Piedras Rojas e Lagunas Altiplánicas. O caminho é longo, a altitude pesa, mas o visual compensa. Água turquesa, céu limpo, montanhas ao fundo. É bonito de um jeito quieto. Difícil explicar, mas fácil de lembrar.
Depois, fui ver flamingos na Laguna Chaxa. Eles ficam lá, tranquilos, enquanto o céu se pinta de rosa, laranja, roxo. No caminho, ainda cruzei o Trópico de Capricórnio, uma daquelas placas no meio do deserto que te lembram que o mundo é maior do que parece. E que você, de fato, está longe de casa.
Se for, vá preparado. De dia, faz calor. De noite, congela. Vista-se em camadas. Beba muita água. E não subestime a altitude: ela te cobra no meio do passeio, se você esquecer.
Entre um lugar e outro, experimente a sopa de quinoa. Simples, gostosa, e parece feita pra quem precisa desacelerar.
Pra fechar, passei por Valparaíso e Viña del Mar, com uma parada estratégica para visitar cinco vinícolas no caminho. Paisagens bonitas, ótimos vinhos e um tempo pra desacelerar antes de continuar. Viagem boa também se mede assim.
Valparaíso é desordem com charme. Arte nos muros, casas coloridas, ruas inclinadas, vista pro mar. É o tipo de lugar onde se perder é o melhor plano. Se puder, visite La Sebastiana, a casa do Pablo Neruda. É poesia com vista.
Viña é pausa. Mais calma, mais praia, mais empanada. Fiquei ali, ouvindo o mar e lembrando de nada.
Talvez viajar não transforme tudo. Mas abre uns espaços dentro da gente. Espaços que a rotina vai apagando.
E escrever sobre isso me ajuda a manter esses espaços abertos. Mesmo depois de voltar.