Resumo da Temporada 1: o começo de tudo
Na primeira temporada da série Vida de Startup, mergulhamos nos bastidores do início de uma jornada empreendedora. Falamos sobre o Day One — aquele momento de virada em que a inquietação vira ação. Acompanhamos personagens em transição de carreira, enfrentando a dúvida entre seguir o caminho estável ou apostar em uma ideia que ainda nem tinha forma.
Exploramos os desafios de validar problemas, os riscos das sociedades informais, a ilusão de que a ideia por si só é suficiente e o poder de um MVP improvisado. Também falamos sobre ética no pitch e a importância de sustentar uma narrativa com verdade. Cada episódio trouxe uma história diferente, mas com um ponto em comum: a coragem de começar.
Agora entramos em um novo território: o que acontece depois que você lança sua startup? Quando o MVP está no ar, o nome está no Instagram, a logo está pronta — e ainda assim, ninguém aparece? É aqui que a realidade mostra que começar é só o começo. Bem-vindo à Temporada 2: Sobreviver é um Milagre.
Episódio 1: Ninguém comprou. E Agora?
Gabriel Souza, 29 anos, engenheiro civil de formação e autodidata em programação, começou a desenvolver sua startup depois de ver o caos da agenda de seu barbeiro de confiança. O dono da barbearia era ótimo profissional, mas se perdia entre anotações em papel, mensagens no celular e esquecimentos de horário. Um clássico.
Gabriel viu uma oportunidade: criou um sistema simples de agendamento online, com lembretes automáticos e controle de pagamentos. Fez pesquisas com outros barbeiros da região, validou o problema, desenvolveu o MVP no Figma, depois no no-code. Tudo bem pensado: páginas intuitivas, acesso rápido, onboarding enxuto. A ideia era ajudar os profissionais a se organizarem melhor e fidelizar os clientes.
Lançou em uma segunda-feira com entusiasmo. Subiu a plataforma, fez um post no Instagram, compartilhou nos grupos do bairro e avisou os barbeiros que tinham dado feedback. Esperava que os primeiros cadastros chegassem em horas.
Mas… nada aconteceu.
Um dia inteiro sem um único acesso.
No segundo dia, um barbeiro entrou — e saiu.
Na primeira semana, o número total de cadastros era… dois. Ambos amigos de Gabriel.
Ele ficou frustrado. Começou a revisar tudo: o layout, o fluxo, os textos. Mexeu no botão de “Cadastrar”, trocou o tom da comunicação, testou novos CTAs. Fez anúncios simples, postagens com vídeo, reels mostrando a solução. Nada parecia funcionar.
Até que, num fim de semana, decidiu visitar presencialmente os barbeiros da região para ouvir, de novo. Foi quando entendeu o que realmente estava acontecendo.
As respostas foram diretas:
– “Ah, achei que era pago, nem cliquei.”
– “Não entendi como funcionava.”
– “Já uso WhatsApp, tá funcionando.”
– “Não confio em botar meus dados em site novo.”
Gabriel teve um choque de realidade. A dor existia. A solução era útil. Mas o público não confiava. Não entendia. Não via o valor. O problema não era o produto — era a forma de chegar nas pessoas certas, da maneira certa.
Ele percebeu que havia feito tudo certo tecnicamente, mas falhado naquilo que mais importa no início: distribuição, educação e confiança.
Nos meses seguintes, Gabriel adaptou a estratégia. Em vez de tentar escalar pela internet, bateu de porta em porta. Gravou vídeos tutoriais específicos para cada tipo de cliente. Criou uma jornada de onboarding assistida via WhatsApp. Ofereceu o sistema gratuito por 30 dias e acompanhou pessoalmente o uso. Assim, lentamente, os acessos começaram a crescer.
Hoje, a plataforma atende 42 profissionais ativos — número modesto, mas real, com recorrência e satisfação.
Gabriel aprendeu o que nenhuma planilha mostra: você não valida uma solução com um botão publicado — valida com uma conversa sincera e um usuário engajado.
Aprendizados do episódio:
- Ter um MVP no ar não significa que alguém vai usá-lo. O lançamento é o ponto de partida, não a linha de chegada.
- O silêncio do mercado é um dado poderoso. Ele mostra que talvez você ainda esteja falando com a pessoa errada — ou da forma errada.
- Testar a comunicação, criar confiança e acompanhar o uso inicial é tão importante quanto construir a solução em si.
No próximo episódio: o cliente não tem sempre razão, mas tem razão em ir embora. A história de uma edtech que cresceu rápido — e viu seus clientes saírem pela porta dos fundos, sem entender por quê.