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Autenticidade e estratégia: desafios e tendências do marketing médico, segundo Sabrina Isabela

Foto: divulgação.

Em um cenário no qual o marketing se tornou cada vez mais acessível e competitivo, manter a autenticidade e entregar resultados consistentes são diferenciais estratégicos.

Essa é a visão de Sabrina Isabela da Rosa, fundadora da agência Fever Marketing Médico, criada em 2015 em Florianópolis e especializada em ajudar médicos do Brasil e do exterior a construírem um posicionamento sólido e elegante.

Com uma equipe multidisciplinar formada por jornalistas, publicitários, administradores e designers, a Fever se consolidou ao longo de uma década com um modelo de atuação bastante específico: atende apenas médicos e aposta em relacionamentos de longo prazo, sempre unindo estratégia, criatividade e ética. Às vésperas de completar 10 anos, a agência conta com 19 profissionais e clientes em diversas regiões do país e no exterior.

Ao Economia SC Drops, ela fala sobre os caminhos para sobreviver em um mercado saturado, as escolhas que moldaram a Fever, o impacto da inteligência artificial no dia a dia da agência e as tendências que devem guiar o marketing até 2026.

Como sobreviver e se destacar em um mercado cada vez mais saturado?

Há 10 anos, o desafio era convencer o cliente a acreditar no marketing. Hoje, o problema é fazê-lo entender que seu conhecimento não substitui uma equipe especializada. A barreira de entrada para o setor é baixa, o que faz surgir profissionais despreparados que prejudicam o mercado. Para sobreviver, a agência precisa se especializar em áreas em que realmente gera resultado, em vez de querer atender a todos. Muitas clínicas têm profissionais internos de marketing, mas falta estratégia. Nesse ponto, a agência entra para trazer uma visão macro. Na Fever, nós atuamos junto com a equipe interna do médico,  assumindo a parte estratégica, trazendo uma visão macro de fora da “bolha”. Buscamos referências de outros segmentos, como beleza e luxo, e adaptamos para a realidade médica, o que ajuda a ampliar o posicionamento dos nossos clientes.

Por mais que seja importante ter uma visão 360, também é importante escolher quais soluções ofertar. Que escolhas vocês fizeram na Fever de não entregar para se especializar em outras?

Na Fever, a escolha mais polêmica foi atender exclusivamente médicos. Não atendemos dentistas ou veterinários porque entendemos profundamente o universo médico e conseguimos entregar um trabalho mais consistente. Outra decisão foi não oferecer todos os serviços: por exemplo, não fazemos tráfego pago. Esse mercado exige especialistas dedicados e, no nosso caso, não acreditamos que gere resultados proporcionais para os perfis que atendemos, como dermatologistas, cirurgiões plásticos e nutrólogos. Para esses médicos, o que realmente conecta o paciente é o posicionamento e o universo que eles constroem, não apenas um anúncio. Hoje em dia, as pessoas não procuram um dermatologista porque viram num anúncio; o que vai fazer as pessoas se conectarem com esse médico é o quanto o lifestyle e a visão dele são coerentes com o que ele prega no consultório. 

Como aumentar o ticket no decorrer do contrato? E como fidelizar o cliente?

Na Fever, a fidelização vem do atendimento personalizado. Procuramos entender cada detalhe do cliente, até situações pessoais, como uma médica que estava em licença-maternidade, para adaptar a comunicação da clínica nesse período. Outro diferencial é o senso estético: tudo que entregamos tem o “toque Fever” – prezamos por um marketing mais elegante, sofisticado, sem sensacionalismos e que, principalmente, respeita a identidade única de cada médico. Para aumentar o ticket, entendemos o momento do cliente. Alguns começam com produtos pontuais, como produção de fotos e vídeos ou uma mentoria de 2 meses, e depois avançam para assessoria completa com um contrato anual. Outros iniciam com contratos menores e, conforme crescem e abrem clínicas maiores, ampliam o investimento em marketing. Assim, o relacionamento evolui junto com o negócio do médico. 

Como a inteligência artificial impactou a rotina da Fever? O que vocês usam e o que não usam? A I.A. hoje representa alguma ameaça para profissionais de marketing?

Quando o ChatGPT se popularizou, surgiu o boato de que a I.A. substituiria o profissional de marketing. Na Fever, nunca vimos como ameaça, mas como otimização. Você vai precisar de um humano para operar uma máquina. Talvez essa máquina seja 10 mil vezes mais eficiente que um humano, mas a I.A. depende de comandos e esses comandos, quem está do outro lado, precisa ser capaz de dar. Então essa é a diferença de quem usa IA e faz coisas incríveis e quem usa IA e faz coisas que são mais do mesmo. O comando que a gente dá para a IA é o nosso conhecimento, é o nosso background, por isso, quem tem bagagem consegue usar melhor a ferramenta. A IA facilitou muita coisa, por exemplo, tarefas que levavam dias hoje são feitas em minutos. Na agência, usamos ChatGPT e Claude, criando prompts personalizados para cada cliente, respeitando seu tom de voz e posicionamento. Assim, a IA ajuda na agilidade e análise de dados, mas a personalização continua sendo essencial e insubstituível.

Ser autêntico é o principal pilar para prosperar no mercado. Como vocês filtram as novas tendências para se manter autênticos?

Na Fever, a autenticidade vem de entender quem somos, como nos posicionamos e qual é o nosso perfil de cliente. Desde o início, o desafio foi transmitir meu jeito de trabalhar para a equipe, mas hoje todos seguem diretrizes claras que mantêm nossa essência. Não nos deixamos levar por qualquer tendência ou ferramenta que promete resultados rápidos, porque construímos uma reputação de 10 anos que prezamos muito. Nosso foco é entregar ao médico um posicionamento elegante, refinado e alinhado à sua essência, capaz de atrair os pacientes certos. Acreditamos que não é preciso ter todos os pacientes do mundo para ter sucesso, mas sim os ideais.

Com base nas tuas viagens, estudos e congressos, quais tendências você enxerga para 2026 no marketing, especialmente no marketing médico? E o que não vale mais?

Para 2026, vejo como tendência a criação de comunidades. Não basta ter clientes; é preciso construir um grupo engajado em torno de um estilo de vida, valores e objetivos em comum. Cada vez mais as marcas terão clientes que se tornam embaixadores, ajudando a fortalecer a marca de forma orgânica. Dentro dessa ideia de comunidade, ganham força espaços de interação mais íntimos, como newsletters, canais de transmissão no Instagram e eventos offline que aproximam marca e público. O foco não deve estar apenas em “quantos clientes eu atinjo”, mas em “quão engajada está a minha comunidade”. O que não faz mais sentido é a comunicação forçada, aquela que só tenta empurrar o produto o tempo todo. Isso afasta o consumidor. O caminho é “vender sem vender”, trazendo o cliente para dentro do universo da marca. Um exemplo é a marca de skincare da Hailey Bieber, que transmite o estilo de vida dela. As pessoas compram não só o produto, mas o que ele representa. Essa é a essência do novo marketing: menos venda direta, mais conexão autêntica.

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