Por Maurício Comin, fundador da Venttidue Mobiliário Inteligente.
A ergonomia é frequentemente tratada como um detalhe no ambiente corporativo, e esse é o primeiro erro. Ela não é apenas uma preocupação estética ou de conforto, mas sim uma exigência legal e uma estratégia fundamental de produtividade, saúde ocupacional e economia para empresas de todos os portes. A NR17, norma regulamentadora que trata da ergonomia no trabalho, estabelece diretrizes claras sobre como devem ser os postos de trabalho para garantir o bem-estar físico e mental dos colaboradores.
A norma obriga que empresas realizem uma análise ergonômica do trabalho (AET), considerando desde o layout do espaço físico até a adequação de móveis, equipamentos e ritmo de trabalho. Quando falamos em mobiliário, estamos falando da estrutura básica de operação de um escritório. Cadeiras sem laudo técnico, mesas fora de padrão e decisões baseadas apenas no preço têm gerado não apenas desconforto para os funcionários, mas multas para empresas e profissionais responsáveis pelos projetos, como arquitetos e designers.
O desconhecimento técnico da NR17 ainda é um grande desafio. Muitas empresas compram mobiliário inadequado por falta de orientação ou porque desconhecem as exigências legais. Em geral, escolhem o que parece mais barato, e depois arcam com os prejuízos de retrabalho, afastamentos por LER/DORT ou autuações fiscais. O barato, nesse caso, costuma sair muito caro, pois investir em móveis corporativos que seguem as normas é investir em segurança jurídica, longevidade do equipamento e produtividade.
A ergonomia adequada reduz afastamentos médicos, melhora o desempenho da equipe e transmite uma imagem de responsabilidade organizacional. Empresas que levam esse tema a sério têm menos turnover, mais engajamento interno e ambientes mais saudáveis. Um relatório da Gallup, o State of the Global Workplace de 2024, revelou que o engajamento dos profissionais caiu de 23% para 21% globalmente, resultando em uma perda estimada de US$ 438 bilhões (R$ 2,4 trilhões) em produtividade. Investir em ergonomia, conforme a NR17, pode ajudar a reverter esse cenário, promovendo maior bem-estar e engajamento. Não se trata apenas de cumprir a lei, trata-se de respeitar as pessoas e o capital humano, o maior ativo de qualquer organização.
Outro ponto importante é o papel dos lojistas e vendedores de móveis corporativos. Eles precisam estar tecnicamente preparados para orientar seus clientes, inclusive arquitetos e gestores de compras, sobre os padrões exigidos. Conhecimento da NR17, laudos técnicos dos móveis e diferenciais de ergonomia devem fazer parte da rotina de vendas, além disso, treinamento técnico e educação continuada no setor são essenciais para mudar o mercado e gerar valor, não apenas preço.
Um ambiente de trabalho mal planejado pode parecer funcional no curto prazo, mas trará prejuízos de médio e longo prazo. Ao entender o que a NR17 determina, gestores conseguem tomar decisões mais assertivas, como por exemplo, a norma prevê que cadeiras devem ter apoio lombar, ajuste de altura, encosto reclinável e base estável. Mesas precisam ter altura compatível com a atividade exercida, e o monitor deve estar na linha dos olhos. São detalhes que fazem uma grande diferença.
Nos últimos anos, o número de fiscalizações por descumprimento da NR17 aumentou, especialmente em grandes centros urbanos. Com a transformação dos ambientes corporativos pós-pandemia e a volta ao presencial ou ao modelo híbrido, o mobiliário ganhou nova relevância. Não basta “decorar” um escritório, é preciso projetá-lo tecnicamente, com móveis certificados, duráveis e adaptados à realidade da empresa.
Ergonomia não é luxo, é estratégia, prevenção e legalidade, e empresas que ignoram essa realidade correm riscos jurídicos, financeiros e de imagem. A solução está na informação, na qualificação do mercado e em fornecedores comprometidos com qualidade e conformidade. Cumprir a NR17 é respeitar a lei, e, mais do que isso, respeitar quem faz o negócio acontecer, que são as pessoas.