Por Felipe Ribeiro, sócio da Evermonte Executive Search.
A governança corporativa tem assumido um papel cada vez mais estratégico nos principais mercados globais, impulsionada pela crescente exigência por parte de investidores, reguladores, consumidores e demais públicos de interesse. Nesse cenário, os conselhos se consolidam como instâncias centrais de direção, controle e legitimidade institucional nas organizações.
Estruturados em diferentes formatos — como o Conselho de Administração, o Conselho Fiscal ou Comitê de Auditoria, e os Conselhos Consultivos — esses órgãos são desafiados a combinar solidez, agilidade e diversidade em sua atuação, contribuindo para decisões mais sustentáveis, éticas e conectadas às transformações do ambiente de negócios.
A importância da avaliação contínua
Contar com estruturas de governança é apenas o primeiro passo. Avaliar, de forma periódica e criteriosa, o desempenho dos conselhos é essencial para garantir que esses órgãos estejam cumprindo seu papel de forma efetiva.
Através da avaliação contínua, é possível identificar falhas, alinhar expectativas e ajustar práticas que estejam desalinhadas às necessidades da companhia ou às novas demandas do mercado. Além disso, o processo contribui para o aprimoramento individual dos conselheiros e fortalece a cultura de responsabilidade corporativa.
Cenário internacional: práticas consolidadas
Nos mercados mais maduros, a avaliação dos conselhos já é uma prática amplamente adotada. De acordo com o Spencer Stuart Board Index, 98% das 500 maiores empresas dos Estados Unidos realizam avaliações formais anuais de seus conselhos. Na Europa, os códigos de governança incentivam avaliações periódicas, e no Reino Unido, há a exigência de uma avaliação externa independente a cada três anos.
Essas práticas se tornaram fundamentais para manter a efetividade e a legitimidade das decisões tomadas pelos boards, além de contribuírem para a transparência junto aos stakeholders.
Brasil: um caminho em construção
No Brasil, esse cenário ainda é incipiente. Segundo a pesquisa Board Trends Brazil, realizada pelo Evermonte Institute, 39,8% das empresas brasileiras não possuem nenhum mecanismo formal de avaliação do desempenho de seus conselhos.
Essa ausência representa um desafio considerável à governança, uma vez que cria ambientes propensos à informalidade, dificulta o acompanhamento da performance e compromete a evolução das práticas corporativas em direção à excelência.
Instrumentos de avaliação: onde estamos
Entre as empresas que já adotam algum tipo de avaliação, a autoavaliação ainda é a mais comum, presente em 37,6% dos conselhos. Já métodos mais robustos, como a avaliação individual dos conselheiros (15%) e a avaliação por terceiros independentes (7,5%), ainda são práticas adotadas por uma minoria.
A baixa adesão à avaliação externa e à análise independente evidencia a necessidade de um avanço na cultura de governança no país, especialmente no que diz respeito à imparcialidade e à qualidade dos diagnósticos obtidos.
Obstáculos estruturais à governança no país
Além da ausência de avaliações formais, o estudo do Evermonte Institute aponta outros desafios que ainda limitam a evolução da governança no Brasil, como:
- A baixa diversidade de gênero nos conselhos;
- A alta concentração geográfica no eixo Sudeste-Sul;
- A predominância de conselheiros com perfil financeiro, em detrimento de experiências mais diversas.
Esses fatores contribuem para que o Brasil ainda seja classificado como um país em estágio intermediário de desenvolvimento em termos de governança corporativa, especialmente quando comparado a mercados mais desenvolvidos.
Avaliar para evoluir
Para que as empresas brasileiras avancem rumo às melhores práticas globais, é fundamental consolidar a cultura da avaliação periódica dos conselhos. Mais do que um mecanismo de controle, trata-se de uma ferramenta estratégica que possibilita a adaptação contínua da governança às transformações do ambiente empresarial.
A construção de uma governança mais transparente, responsável e eficiente passa, necessariamente, pela avaliação constante de seus conselhos. Avançar nesse campo é um passo decisivo para elevar o padrão da governança corporativa no país e garantir que as organizações estejam preparadas para os desafios futuros.