André Klem, 35 anos, nunca teve medo de trabalho. Filho de comerciantes, cresceu dentro de uma loja, aprendeu desde cedo a “dar conta de tudo” e virou o tipo de empreendedor que romantiza o esforço. Fundou sua startup, a TrackFlow, com a proposta de otimizar processos logísticos para e-commerces de pequeno porte. A solução era boa, o mercado era promissor, e os clientes começaram a chegar rápido.
O problema é que André também quis fazer tudo: produto, marketing, vendas, suporte, relacionamento com investidor, financeiro, eventos, parcerias, captação, roadmap. A cada nova demanda, um novo compromisso na agenda. A cada problema, uma madrugada a menos de sono. O pitch era encantador, mas os bastidores estavam em colapso.
Em dois anos, a startup alcançou 160 clientes ativos, estava pré-acelerada e com um time de 6 pessoas. Por fora, era crescimento. Por dentro, era caos.
André já não dormia mais do que 4 horas por noite. Começou a ter crises de ansiedade antes de reuniões, lapsos de memória, irritabilidade constante. Na tentativa de “aproveitar as oportunidades”, entrou em mais três programas simultâneos. Quando chegou o convite para um Demo Day internacional, ele aceitou — mesmo exausto.
Foi durante o evento que o corpo cobrou. André teve um mal-estar antes de subir ao palco. Suor frio, batimento acelerado, sensação de desmaio. Foi atendido por paramédicos no local. O diagnóstico: crise de burnout em estágio avançado.
Depois disso, foi obrigado a parar. Literalmente.
Ficou afastado por dois meses. Terapia, medicação, reestruturação de rotina. Pela primeira vez, precisou confiar no time — e o time segurou as pontas. Mas o mais importante: ele aprendeu a lidar com o maior risco do negócio naquele momento… ele mesmo.
Hoje, a TrackFlow continua em operação. Cresce de forma mais orgânica. André trabalha menos horas — mas com mais presença. Entendeu que sua startup não precisava de um herói — precisava de um gestor saudável, consciente e estratégico.
Aprendizados do episódio:
- A obsessão por “dar conta de tudo” pode parecer admirável, mas é insustentável — e perigosa.
- Founders precisam de autocuidado tanto quanto planejamento estratégico. Uma mente exausta sabota qualquer visão de futuro.
- Liderar também é delegar, confiar e criar uma cultura onde o sucesso da empresa não depende do colapso do fundador.
No próximo episódio: pivotar ou morrer tentando. A história de uma startup de impacto ambiental que, mesmo bem intencionada, teve que mudar radicalmente de rumo, ou fechar as portas.