Por Augusto Fontoura, sócio da Evermonte Executive Search.
Em um ambiente de negócios cada vez mais desafiador — marcado por disrupções tecnológicas, exigências sociais crescentes e volatilidade econômica —, os conselhos das empresas brasileiras enfrentam uma reconfiguração inevitável. Mais do que simples órgãos de supervisão, os boards precisam assumir um papel ativo e estratégico na definição do futuro das organizações.
Essa evolução no papel dos conselhos é impulsionada por uma crescente pressão para que liderem decisões de longo prazo, fortaleçam a resiliência institucional e garantam a sustentabilidade dos negócios.
O que dizem os conselheiros?
A pesquisa Board Trends Brazil, conduzida pelo Evermonte Institute, aponta que gestão de riscos e sucessão de lideranças são hoje os temas mais urgentes na agenda dos conselhos. Foram mencionados por 57,9% dos conselheiros entrevistados, evidenciando a preocupação com a capacidade das empresas de antecipar crises e garantir a continuidade de sua liderança estratégica.
Esse dado reflete uma transição importante: o foco está deixando de ser apenas o presente operacional e se voltando à preparação para o futuro, com atenção redobrada a riscos emergentes e à formação de líderes que possam sustentar o crescimento em um cenário incerto.
Falta cultura de prevenção
Apesar da clara percepção dos riscos, a realidade prática em muitas organizações ainda está aquém do ideal. Muitas empresas operam sob uma lógica reativa, com baixa institucionalização de processos de planejamento de riscos e planos sucessórios. Isso limita o amadurecimento da governança corporativa e torna as empresas mais vulneráveis a mudanças abruptas no mercado ou na estrutura interna.
Nesse contexto, estruturar planos de sucessão robustos e implementar modelos eficientes de gestão de riscos se torna não apenas necessário, mas urgente, especialmente em setores altamente regulados ou expostos a transformações rápidas.
Inovação e tecnologia: desafios em destaque
A pesquisa também revela a importância crescente da transformação digital e da inovação na visão dos conselheiros, com 57,1% das menções. Os boards entendem que a tecnologia deixou de ser uma vantagem competitiva para se tornar uma condição de sobrevivência.
Contudo, digitalizar processos não basta. É preciso repensar modelos de negócio, promover uma cultura de inovação contínua e garantir que a tecnologia esteja integrada à estratégia corporativa, sempre com responsabilidade e segurança.
Complexidade crescente e múltiplas pressões
Outros desafios apontados pelos conselheiros reforçam a complexidade do cenário atual. Entre eles, destacam-se:
- Crises econômicas e instabilidades políticas (47,4%);
- Gestão das expectativas dos acionistas (42,1%);
- Governança de dados e cibersegurança (32,3%).
Esses dados indicam que os conselhos precisam estar cada vez mais preparados para lidar com múltiplas variáveis estratégicas, muitas vezes simultâneas e interdependentes.
Hora de agir com visão de futuro
Diante desse cenário desafiador, é essencial que os conselhos evoluam e se posicionem como verdadeiros agentes de transformação organizacional. Isso passa por:
- Fortalecer práticas de sucessão com foco em talentos diversos e preparados para contextos complexos;
- Adotar uma abordagem preventiva e institucionalizada na gestão de riscos;
- Debater profundamente temas como transformação digital, inovação e segurança da informação.
Não se trata apenas de responder a desafios pontuais, mas de construir a capacidade de antecipar tendências, mitigar vulnerabilidades e garantir a continuidade dos negócios.
Conselhos como protagonistas da mudança
Mais do que nunca, espera-se que os conselhos deixem de ser figuras distantes e passem a atuar com responsabilidade, visão de longo prazo e compromisso com a sustentabilidade. A integração entre estratégia, inovação e governança é o caminho para manter as empresas brasileiras relevantes, sólidas e preparadas para os desafios do presente — e, sobretudo, do futuro.