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Por que equipamentos domésticos são uma economia arriscada para as empresas

Foto: divulgação

Por Kleiton Schwantes de Jesus, head das unidades Print Solutions e Device Solutions da Selbetti.

Muitas empresas, na tentativa de cortar custos, optam por notebooks projetados para uso doméstico (de consumo) em vez de modelos corporativos. À primeira vista, essa escolha pode parecer uma economia, mas acaba ignorando questões críticas de segurança cibernética e robustez física. Mas no final, a conta pode sair cara: notebooks de linha doméstica carecem de diversos recursos de proteção e durabilidade presentes em máquinas empresariais, o que pode resultar em riscos elevados e custos ocultos no longo prazo.

Embora o preço inicial de um notebook empresarial seja tipicamente mais alto que o de um modelo doméstico, a médio e longo prazos essa aparente “economia” pode rapidamente se desfazer diante dos custos ocultos de falhas, brechas de segurança e interrupções na produtividade.

Considere, por exemplo, o impacto de uma pane ou defeito em um notebook de trabalho: além do gasto com reparo ou substituição, há o custo da parada técnica – o funcionário fica impossibilitado de trabalhar enquanto o computador está inoperante. Um estudo realizado pela Atlassian em 2023 indica que o downtime – tempo de sistemas ou equipamentos indisponíveis – pode custar a empresas de pequeno e médio porte entre US$ 137 e US$ 427 por minuto em perda de receita e produtividade

Ainda mais sério é o risco de um incidente de segurança decorrente da menor proteção de um equipamento de consumo. Vazamentos de dados confidenciais ou violações causadas por notebooks desprotegidos podem gerar custos enormes – multas regulatórias, danos à reputação, perda de clientes e ações jurídicas. Há evidências de que um único laptop corporativo extraviado sem devida proteção acarreta um prejuízo médio de US$ 49 mil à organização, quando se contabilizam todos os impactos diretos e indiretos.

Robustez e durabilidade

O primeiro ponto que diferencia um equipamento doméstico de um corporativo é a robustez e durabilidade física. No contexto empresarial, um laptop corporativo deve aguentar extensas jornadas de trabalho, e ter uma vida útil de cerca de cinco anos de uso contínuo. Isso significa que a estrutura da máquina é projetada para operar 40 horas por semana, suportando ambientes adversos, tais com variações de temperatura, vibração, poeira, entre outros aspectos, sem sofrer uma degradação prematura.

Em comparação, notebooks para o mercado consumidor não são feitos para uso tão intenso e prolongado – fabricantes assumem que o usuário doméstico médio os utilizará de forma menos rigorosa e possivelmente buscará substituí-los com mais frequência para acompanhar tendências. Consequentemente, um laptop doméstico tende a ter ciclo de vida menor, muitas vezes saindo de linha em até dois anos.

Também há diferenças nos materiais: modelos empresariais costumam empregar chassis de alumínio ou magnésio, conferindo maior resistência mecânica, ao passo que os notebooks domésticos utilizam predominantemente plástico em sua construção. Essa superioridade de materiais se traduz em maior resistência a impactos e ao desgaste do dia a dia.

Segurança cibernética e proteção de dados

Em ambiente corporativo, a proteção dos dados e a prevenção de brechas de segurança devem ser prioridades absolutas. Por isso, notebooks empresariais normalmente incluem camadas extras de segurança ausentes nos modelos domésticos.

É comum encontrar nesses equipamentos leitores biométricos de impressão digital, leitores de cartão Smart Card e outros mecanismos de autenticação integrada, enquanto notebooks de consumo raramente trazem tais recursos de fábrica. Por exemplo, sensores de impressão digital são praticamente padrão em laptops empresariais – mesmo em modelos básicos – mas continuam raros em notebooks voltados ao consumidor doméstico.

Esses elementos adicionais dificultam acessos não autorizados e protegem informações sensíveis armazenadas no dispositivo. Outra diferença crítica é a presença do TPM (Trusted Platform Module). O TPM é um chip de segurança incorporado à placa-mãe que atua na criptografia de dados e na verificação de integridade do sistema, prevenindo acessos não autorizados ao conteúdo da máquina.

A construção dos processadores também é diferente para máquinas corporativas. Esses dispositivos normalmente contam chips de gerações mais recentes, que oferecem maior eficiência energética e desempenho, enquanto modelos de consumo final tendem a utilizar processadores menos robustos, priorizando preço em detrimento da performance e segurança. Toda essa segurança na estrutura física do equipamento reflete também na BIOS, que contempla uma camada adicional de criptografia para segurança, aumentando a confiança na integridade dos dados e protegendo o processo de inicialização contra ataques.

Por fim, notebooks corporativos utilizam versões profissionais de sistemas operacionais, que geralmente possuem mais recursos de gerenciamento e segurança para ambientes corporativos do que edições voltadas para usuários finais.

Suporte pós-venda e manutenção

Outro ponto onde notebooks empresariais superam os domésticos é no suporte técnico e facilidade de manutenção. Equipamentos pensados para uso corporativo levam em conta que reparos e upgrades possivelmente serão realizados por equipes de TI, então seu design costuma facilitar esse trabalho.

Em geral, laptops de categoria profissional são mais reparáveis e atualizáveis, permitindo trocar componentes como bateria, memória RAM ou disco de forma relativamente simples.

No quesito garantia e suporte pós-venda, a distinção também é grande. Notebooks de consumo normalmente vêm com garantia limitada de um ano, conforme as exigências mínimas do Código de Defesa do Consumidor, e o atendimento ocorre via assistências técnicas genéricas ou centrais padrão. Já os notebooks corporativos frequentemente incluem, já de fábrica, garantias estendidas, e contam com canais de serviços para empresas.

Em resumo, mesmo que a aquisição de equipamentos domésticos, a primeira vista, pareça muito vantajosa, a realidade é outra. Aquilo que se poupa na compra inicial pode acabar sendo gasto (ou perdido) múltiplas vezes em decorrência de paradas técnicas inesperadas, violações de dados sensíveis e prejuízos operacionais. A longo prazo, os notebooks empresariais trazem mais confiabilidade, menos dor de cabeça e melhor custo-benefício, protegendo a empresa de gastos imprevistos e garantindo que a equipe mantenha a produtividade.

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