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A nova descontinuidade: a IA à luz de Peter Drucker

Foto: divulgação

De acordo com um estudo recente da McKinsey, 65% das empresas globais já utilizam inteligência artificial (IA) em suas operações. Além disso, uma pesquisa da CNN Brasil indica que 72% das empresas aumentaram o uso de IA em seus processos. Como o pai da Administração Moderna, Peter Drucker, reagiria a essa realidade?

Renomado professor e escritor, Drucker enfatizou durante toda a sua carreira a importância da inovação contínua para a ascensão e sucesso empresarial. Durante meu MBA na Peter Drucker School of Management, nos EUA, Drucker destacava em suas aulas o quanto a tecnologia é excelente fonte de potencialização das capacidades humanas, devendo sempre ser utilizada a favor do capital intelectual, e jamais como substituta deste.

Com a ascensão meteórica da Inteligência Artificial (IA), nunca ficou tão claro o potencial desse capital, pois conciliando o uso consciente e estratégico dessa nova ferramenta que temos em mãos juntamente com o intelecto humano, as organizações podem alcançar patamares de inovação e sucesso jamais antes vistos.

Se Peter Drucker ainda estivesse vivo, como ele encararia a presença da IA? Seria ela uma aliada ou opositora de suas principais teorias e ideias? Como se daria a intersecção entre elas? Abaixo, trago algumas considerações sobre a potencial compatibilidade dessa relação, com possíveis veredictos sob a perspectiva de Drucker.

Capital intelectual: a visão de Drucker

Em 1959, Drucker popularizou em seu livro The Landmarks of Tomorrow o conceito de “knowledge worker”, ou literalmente “trabalhador do conhecimento”. Ele argumentava que, até o início do século XXI, o bem mais valioso de uma empresa seria o capital intelectual de seus colaboradores, prevendo assim uma mudança do trabalho braçal em direção ao uso de dados e informações no cotidiano empresarial – impulsionando assim o crescimento das organizações e consequentemente da economia do mercado.

Ademais, segundo ele, tal crescimento econômico e de produtividade estariam intrinsicamente dependentes da capacidade do homem de transformar tais dados em conhecimento útil.

Com o avanço da inteligência artificial, a quantidade de dados e informações compartilhadas cresce exponencialmente a cada dia, tornando o acesso ao conhecimento mais ágil e democrático para qualquer pessoa. No ambiente empresarial, a troca de informações e a aprendizagem contínua nunca foram tão simples e eficientes.

Se Drucker ainda estivesse vivo, provavelmente encararia a IA como uma força potencializadora do trabalho de tais knowledge workers, ao fornecer insights baseados em dados confiáveis e ao otimizar e facilitar processos analíticos essenciais para a alta performance da empresa. Além disso, vemos que os diversos modelos de IA processam também grandes quantidades de informação, o que permite aos gestores modernos a tomada de decisões de maneira mais rápida e embasada no dia a dia.

Veredicto de Drucker: IA como aliada. Ela amplia ainda mais a capacidade de análise dos trabalhadores de conhecimento, fornecendo conhecimentos e dados que auxiliam na aprimoração de seus intelectos e consequentemente aumentando as possíveis formas de evolução da inovação contínua nos negócios.

IA e a decisão baseada em dados

“O que pode ser medido, pode ser melhorado.”

Drucker reforça ao longo de toda a sua trajetória o fato de que a gestão eficaz deve se basear em informações e métricas objetivas para garantir melhores resultados, e não apenas na intuição ou experiência.

Atualmente, vemos com a IA a potencialização e transformação da gestão empresarial em um processo mais preciso, ágil e adaptável, ajudando líderes a minimizar riscos e maximizar oportunidades. Isso ocorre principalmente devido ao fato de a inteligência artificial sugerir ações estratégicas baseadas em modelos preditivos, como por exemplo algoritmos como o machine learning e o big data, que analisam padrões e tendências que levaria aos humanos meses ou até mesmo anos para serem identificados.

Veredicto de Drucker: IA como aliada. Ela promove velozmente aos gestores modernos a possibilidade de conduzir precisas análises e verificação de fatos, facilitando o rápido acesso de informações confiáveis à empresa, e consequentemente promovendo praticidade e agilidade ao cotidiano dos colaboradores.

Pessoas como centro estratégico

“A cultura organizacional devora a estratégia no café da manhã.”

Essa citação de Drucker destaca a relevância das pessoas dentro do âmbito empresarial. Ela demonstra que o real impulsionador do sucesso organizacional é o fator humano, independentemente da tecnologia aplicada no negócio; esta deve ser uma forma potencializadora da produtividade e melhora do ambiente de trabalho, e não ser vista como um fim em si mesma.

A IA, nesse caso, pode personalizar as experiências de aprendizado e treinamento dos colaboradores, tornando o desenvolvimento profissional mais eficiente, empoderando as pessoas e reforçando sua importância à cultura organizacional. Podemos conectar essa facilidade de praticidade da cultura organizacional a ferramentas de automação inteligente, como Trello e Notion IA. Elas permitem aos colaboradores estarem constantemente em conhecimento com o que ocorre na empresa, além de fornecer contato direto e prático entre eles.

Veredicto de Drucker: IA como aliada. A importância de propagar a cultura organizacional enfatizada por Drucker, em conjunto com o potencial de fortalecimento ao se utilizar novas ferramentas de automação inteligente, é o cenário ideal para que os colaboradores estejam em sinergia constante entre si, se concentrando em atividades estratégicas e criativas para o desenvolvimento e sucesso da organização.

Inovação impulsionada por IA

“A melhor maneira de prever o futuro é criá-lo.”

Para Drucker, a inovação contínua é a peça central para a sobrevivência e sucesso de uma empresa. Com a IA, a aplicação da inovação em um negócio se tornou muito mais prática do que antes do seu surgimento. Seus diferentes modelos auxiliam na identificação de tendências emergentes no mercado, onde aqueles que sabem utilizar a IA a seu favor tem maior capacidade de adaptação e de rápida experimentação de seu produto ou serviço no mercado.

Um exemplo clássico de empresa que utiliza a IA como forma de inovação contínua é a Netflix. A plataforma utiliza algoritmos de machine learning para analisar os interesses de seus usuários, assim podendo sugerir indicações personalizadas de filmes e séries que mais se adaptem às suas preferências. A empresa também usa a inteligência artificial para otimizar a produção de seu conteúdo original, analisando tendências para criar produções que se alinhem ao interesse atual do público. Tal abordagem de utilização de dados dos usuários através da IA tem sido fundamental para sua inovação contínua e excelência do seu serviço.

Veredicto de Drucker: IA como aliada. O uso da inteligência artificial tem promovido a facilidade de criação do futuro dos negócios. Com a análise prática e constante do que o mercado precisa e demanda em determinado instante, a aplicação da inovação contínua nunca esteve tão possível e rápida de ser aplicada, sobretudo em empresas onde os gestores estão continuamente atentos ao que a inteligência artificial oferece em prol da organização.

Desafios éticos da IA

“A empresa que não gera impacto social positivo não tem razão para existir.”

Para Drucker, além do foco no lucro, as empresas também devem dar prioridade à sua responsabilidade social, garantindo que suas ações sejam guiadas por princípios sólidos de ética – incluindo o uso da tecnologia. Ele enfatiza a importância das organizações como sendo agentes de transformação, que devem saber balancear a inovação com seu impacto positivo para a sociedade.

Com a revolução da inteligência artificial, os princípios de responsabilidade e ética das empresas têm se tornado cada vez mais essenciais para a proteção dos usuários de seus produtos e serviços. Porém, muitas vezes o equilíbrio entre a IA e tais princípios têm colidido. Por exemplo, manter a transparência ao informar claramente aos usuários quando estão interagindo com sistemas de IA e estabelecer diretrizes claras sobre a responsabilidade em casos de falhas ou decisões tomadas por modelos de inteligência artificial têm sido enfoque de debates em organizações de todo o mundo.

As medidas sendo tomadas envolvem a transparência nos algoritmos, combatendo assim vieses e protegendo a privacidade dos usuários, além da adoção de práticas de governança de IA, para garantir que suas aplicações estejam alinhadas aos valores sociais e éticos da empresa. Exemplos são a Microsoft e a Google, que criaram comitês de ética em IA para o supervisionamento do desenvolvimento e implementação responsável dessas tecnologias.

Veredicto de Drucker: IA como aliada e opositora. A inteligência artificial tem desafiado a aplicação dos princípios éticos valorizados por Drucker. Com sua rápida evolução, a IA exige uma constante atualização de normas e responsabilidades, tornando essencial a adaptação dos valores empresariais. Empresas que negligenciam essa necessidade correm o risco de comprometer sua reputação e sua credibilidade no mercado.

Drucker e IA: aliados imbatíveis ao sucesso empresarial?

A visão pioneira de Peter Drucker nunca foi tão relevante. Ao prever décadas atrás que o conhecimento e a inovação seriam essenciais no futuro das organizações, ele indiretamente já abraçava o potencial da inteligência artificial.

Hoje, empresas que compreendem essa sinergia entre a sabedoria de Drucker e as possibilidades da IA podem transformar desafios em oportunidades únicas, criando vantagem competitiva sustentável no mercado moderno. Afinal, como Drucker sabiamente afirmou:

“A única vantagem competitiva sustentável é a capacidade de aprender mais rápido que a concorrência.”

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Autor best-seller do livro “A Mandala da Inovação”, idealizador do Clube BoraFazer, TEDx Speaker, investidor anjo e conselheiro do pool de IA da Bossa Invest. É o brasileiro que mais participou como mentor e avaliador de Reality Shows de Empreendedorismo e Startups no mundo, com atuação nos programas Shark Tank Brasil, Planeta Startup, Batalha das Startups, Meet the Drapers, Startup World Cup e Empreender para Vencer.

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