Pesquisar

Custo de oportunidade: um conceito essencial para a estratégia de investimentos

Foto: divulgação

Por João Victor da Silva, economista e analista de mercado da Orsitec. 

“Custo de Oportunidade” é um conceito básico da ciência econômica. Entretanto, trata-se de conceito que frequentemente é desconhecido ou mal interpretado pelos administradores de empresas. Contudo, desconsiderar essa ideia pode resultar em decisões empresariais errôneas por parte dos gestores.

Em primeiro lugar, é preciso entender o que é “custo de oportunidade”. Em poucas palavras, entende-se custo de oportunidade como o valor do melhor uso alternativo de um recurso. Essencialmente, em cada atividade econômica, nos deparamos com uma multiplicidade de opções. No momento em que se opta por uma decisão econômica em detrimento de outra, há um custo de oportunidade embutido nessa escolha.

Uma representação bastante evidente dessa dinâmica são os programas de MBA oferecidos em países como Estados Unidos e Inglaterra. Nesses países, observa-se um acréscimo considerável nas inscrições para os cursos de MBA em períodos de recessão. Por quê? Esse fenômeno ocorre, uma vez que o custo de oportunidade para realizar o MBA diminui. Afinal de contas, em períodos de recessão, as oportunidades de emprego tornam-se mais escassas — a probabilidade de demissões aumenta, enquanto a de promoções diminui. Dessa forma, optar por interromper a atividade laboral para realizar uma especialização acadêmica se torna uma alternativa mais atraente, uma vez que os candidatos compreendem que não comprometerão significativamente sua trajetória profissional e financeira e, ainda assim, obterão maiores benefícios pessoais e profissionais com essa interrupção para os estudos.

No contexto empresarial, a ideia de custo de oportunidade é ainda mais relevante. Toda a empresa enfrenta o dilema de alocar o capital escasso. O objetivo é sempre escolher a estratégia que potencialize os lucros de seus acionistas ou sócios. Por exemplo, quando os administradores de uma empresa deliberam sobre a ampliação das linhas de produção de um determinado produto, não devem limitar-se unicamente à capacidade de geração de receita que tal investimento pode oferecer. Na realidade, é adequado realizar uma comparação entre o retorno que tal investimento pode proporcionar em relação às alternativas disponíveis, como alocar recursos em pesquisa e desenvolvimento de novos produtos, destinar verbas ao marketing ou até mesmo repartir lucros entre os acionistas, que, por sua vez, podem aplicar esses recursos em melhores oportunidades de investimento.

O conceito de custo de oportunidade também se aplica a decisões operacionais. A deliberação referente ao nível de estoque de uma empresa não constitui uma decisão trivial. Quanto maior for o estoque, mais segurança uma empresa possui para assegurar o fornecimento a seus clientes. No contexto da pandemia da COVID-19, supermercados que possuíam excesso de estoques de produtos de higiene e limpeza tiraram proveito da crise. Entretanto, a adoção de uma política de manter um estoque elevado pode ter acarretado um custo de oportunidade para a empresa. O capital poderia ter sido alocado em ativos financeiros, além de investimentos em outros segmentos da empresa.

Além disso, as decisões relacionadas à carteira de clientes têm um custo de oportunidade. Afinal, várias empresas acabam proporcionando condições de compra mais favoráveis para grandes clientes, visando incrementar sua receita. A empresa acaba reduzindo sua margem de lucro e deixando de servir clientes menores, porém mais lucrativos. No final das contas, isso resulta em prejuízo econômico para a empresa.

Em última análise, o custo de oportunidade altera a percepção dos administradores sobre suas escolhas. O foco muda de “como posso impulsionar o crescimento ou aumentar os lucros da empresa” para “onde posso aplicar o capital restrito que possuo para proporcionar maior retorno aos sócios ou acionistas”. Dessa forma, o lucro contábil não se configura mais como a principal métrica de referência para os administradores empresariais. Com essa nova percepção, o objetivo é conquistar o lucro econômico. Diferentemente do lucro contábil, o lucro econômico considera tanto os custos explícitos quanto os implícitos. Em outras palavras, o lucro econômico proporciona uma perspectiva mais abrangente do real lucro de uma atividade, considerando o retorno de investimentos alternativos.

Compartilhe

Tudo sobre economia, negócios, inovação, carreiras e ESG em Santa Catarina.

Leia também