Julia Prado, 27 anos, fundadora da MeRespira, uma startup de bem-estar emocional que nasceu no quarto da avó com vídeos de respiração guiada para aliviar ansiedade. O que começou como um projeto pessoal virou, em menos de um ano, uma plataforma com práticas curtas de meditação, exercícios de respiração e ferramentas de regulação emocional — focada no público jovem, cansado de soluções místicas e apps cheios de promessas.
Julia viralizou no TikTok com um vídeo de 30 segundos ensinando uma técnica de respiração para crises de ansiedade. O vídeo bateu 2,5 milhões de visualizações em uma semana. No mesmo período, o número de cadastros na plataforma subiu de 800 para 42 mil.
Ela comemorou. “É agora.”
Sem pensar duas vezes, chamou mais três amigos para ajudar. Depois contratou dois devs e uma designer freelancer. Em dois meses, o time tinha 11 pessoas. Criaram grupo no Slack, novo site, roadmap acelerado, atendimento 24h por e-mail. Mas tudo ainda era frágil: planilhas, testes, no-code improvisado e um servidor barato. A base crescia. Os bugs também.
E então começaram os e-mails:
“Não consigo logar.”
“A plataforma saiu do ar.”
“Meu histórico de progresso sumiu.”
“Vocês estão me ajudando a ter mais ansiedade do que antes!”
O time corria para apagar incêndio. Cada usuário insatisfeito gerava mais estresse interno. A líder de atendimento saiu dizendo que não tinha estrutura. O dev principal pediu pausa por saúde mental. Julia passou a trabalhar 14 horas por dia tentando sustentar tudo — e não conseguia respirar nem ela mesma.
Foi em uma reunião com um consultor do programa de aceleração que ela ouviu a frase que mudou tudo:
“Você não está escalando uma solução. Você está multiplicando o caos.”
Duro, mas real.
Julia parou. Estagnou todas as campanhas de marketing. Pausou as funcionalidades novas. Cancelou contratações. Chamou os 5 usuários mais ativos para uma conversa profunda. Eles disseram o que ela precisava ouvir:
“A gente não quer um app com mil recursos. A gente quer só o que vocês faziam no começo — e funcionava.”
Julia entendeu. Menos features, mais estabilidade. Menos ambição, mais estrutura.
Reescreveu o roadmap. Cortou o time pela metade. Contratou suporte técnico de verdade. E reconstruiu a plataforma com foco total em experiência real, não em hype.
Hoje, a MeRespira não tem mais 42 mil usuários ativos. Tem 4 mil. Mas são 4 mil que ficam, usam e indicam.
Julia aprendeu que escalar só é bom quando o que se escala é sólido.
Aprendizados do episódio:
- Crescimento repentino parece vitória, mas pode ser armadilha se a estrutura não acompanhar.
- Escalar um sistema desorganizado é correr para o colapso — quanto mais gente entra, mais evidente fica o caos.
- Sucesso sustentável exige maturidade para desacelerar antes de tudo desmoronar.
E agora? Na próxima temporada de Vida de Startup, vamos falar sobre um outro tipo de crescimento: