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Transformando criadores de conteúdo internos em aliados estratégicos da sua empresa

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Foto: divulgação

Você já percebeu como, nos últimos meses, parece que todo mundo resolveu compartilhar sua rotina de trabalho nas redes sociais? O que antes era um hábito restrito a influenciadores digitais agora chegou também ao universo corporativo. Colaboradores comuns, de diferentes áreas, abrem o dia mostrando reuniões, conquistas e até bastidores da empresa. Esse movimento, que atrai seguidores e reconhecimento, também desperta dúvidas: até onde vai a liberdade do colaborador e onde começa o incômodo da organização?

Uma reportagem recente do G1 trouxe casos de profissionais que acreditam ter sido demitidos por conta da exposição digital. Nenhuma empresa confirmou oficialmente essa motivação, mas a percepção está posta: existe uma tensão crescente entre empresas e colaboradores que acumulam o papel de criadores de conteúdo. Afinal, o que fazer quando a imagem de um funcionário influencia a visibilidade da própria marca do negócio?

É justamente nesse ponto que surge a oportunidade de transformação. 

Em vez de enxergar os “blogueiros CLT” como ameaça, as empresas podem utilizá-los como parceiros estratégicos. O nome disso já é conhecido no marketing: UGC, ou User Generated Content. E é nesse modelo que pode estar a chave para transformar um problema em vantagem competitiva.

O desafio é quando a exposição gera ruído

A preocupação das empresas não é à toa. Pesquisas mostram que a reputação é um dos ativos mais valiosos para qualquer organização. Segundo estudo da Weber Shandwick, 63% do valor de mercado de uma empresa está ligado diretamente à sua reputação. Isso significa que qualquer ruído, mesmo individual, pode afetar a percepção pública.

Por outro lado, colaboradores criadores de conteúdo não estão, na maioria dos casos, buscando prejudicar a empresa. Pelo contrário: compartilham sua rotina com autenticidade, conquistam identificação com o público e, muitas vezes, acabam fortalecendo a imagem da própria marca sem nem perceber. O conflito nasce justamente da falta de alinhamento e da ausência de políticas claras sobre esse tipo de comunicação.

Outro ponto sensível é o medo da perda de controle. As empresas, por tradição, sempre centralizaram a narrativa institucional em áreas específicas como marketing e comunicação. De repente, surge um colaborador com mais audiência que o perfil oficial da empresa no LinkedIn. Esse descompasso pode causar insegurança, mas também pode ser interpretado como oportunidade.

Afinal, o mercado já mostra sinais claros: consumidores confiam muito mais em vozes humanas do que em discursos institucionais. Pesquisa da Nielsen revela que 92% das pessoas confiam mais em recomendações de indivíduos do que em publicidade direta. Ou seja, talvez o caminho esteja justamente em aproveitar essa autenticidade.

O potencial do UGC dentro das empresas

User Generated Content não é novidade no marketing digital. Marcas de todos os segmentos já incentivam seus clientes a produzirem conteúdos espontâneos, gerando engajamento real e confiança. O que muitos ainda não perceberam é que dentro da empresa já existe uma mina de ouro: seus próprios colaboradores.

Quando bem estruturado, o UGC interno pode gerar ganhos em três frentes. Para o colaborador, significa reconhecimento e até remuneração justa por algo que ele já faz naturalmente. Para a empresa, representa reputação fortalecida, proximidade com clientes e economia em marketing. Para o mercado como um todo, abre espaço para narrativas mais humanas, transparentes e confiáveis.

Um exemplo prático: imagine uma empresa de tecnologia cujo colaborador de atendimento possui milhares de seguidores no TikTok. Se esse colaborador recebe orientação, alinhamento de linguagem e apoio institucional, ele pode se tornar uma poderosa ponte entre a marca e potenciais clientes. O mesmo vale para profissionais de áreas como design, RH ou até operações.

Em vez de competir com a audiência desses criadores internos, a empresa pode somar forças. Isso significa não apenas permitir, mas incentivar que a voz do colaborador seja parte da estratégia. O segredo está no equilíbrio entre autonomia e responsabilidade.

O que falta ainda é diálogo e maturidade digital

Apesar de todo o potencial, a maioria das empresas ainda falha em um ponto básico: diálogo. Muitas preferem adotar uma postura defensiva, criando regras rígidas ou simplesmente ignorando o fenômeno. Essa escolha, além de ineficaz, gera mais tensão e até ressentimento dentro das equipes.

O caminho mais inteligente é desenvolver maturidade digital. Isso significa compreender que vivemos em uma era de exposição constante, onde cada colaborador é, inevitavelmente, um porta-voz da marca. Fingir que isso não acontece é fechar os olhos para a realidade.

Investir em políticas de comunicação interna, programas de embaixadores de marca e treinamentos de mídias sociais pode ser o primeiro passo. Esses recursos não devem ser vistos como limitações, mas como ferramentas de empoderamento. Quanto mais preparado o colaborador estiver, menor a chance de ruídos e maior o impacto positivo da sua voz.

Além disso, empresas que estimulam esse movimento tendem a atrair e reter talentos. Jovens profissionais, em especial, valorizam organizações que entendem sua identidade digital e não tentam silenciá-la. Em um cenário de escassez de mão de obra qualificada, essa postura pode ser um diferencial estratégico.

A transformação possível

Diante desse contexto, é hora de refletir: o que sua empresa está fazendo em relação aos criadores de conteúdo internos? A opção mais fácil é ignorar ou reprimir. Mas a mais estratégica é reconhecer, valorizar e transformar esses colaboradores em aliados.

Isso não significa abrir mão do controle total, mas sim redesenhar as regras do jogo. É possível criar diretrizes claras, estabelecer limites saudáveis e, ao mesmo tempo, dar espaço para a autenticidade. A lógica aqui não é censura, mas parceria.

O resultado dessa escolha é poderoso. Empresas que abraçam o UGC interno não apenas fortalecem sua comunicação, mas também criam uma cultura organizacional mais aberta, inclusiva e adaptada ao futuro.

O recado é simples: sim, é possível ser CLT e criador. Sim, é possível proteger a empresa e, ao mesmo tempo, dar voz ao colaborador. O que hoje parece conflito pode, na verdade, se transformar em vantagem competitiva.

A vida digital não separa o pessoal do profissional

O fenômeno dos “blogueiros CLT” não vai desaparecer. Pelo contrário, tende a crescer à medida que mais profissionais entendem o valor de construir sua marca pessoal. O desafio das empresas é decidir se vão lutar contra isso ou se vão aproveitar essa energia para construir algo maior.

Transformar colaboradores em criadores parceiros exige diálogo, confiança e maturidade digital. Mas, quando bem feito, gera benefícios para todos: colaboradores reconhecidos, empresas fortalecidas e consumidores mais conectados com narrativas humanas e transparentes.

Então, fica a reflexão: sua empresa está pronta para transformar o sucesso individual dos seus colaboradores em sucesso coletivo? A hora de agir é agora. Inspire-se nesse movimento, abra espaço para o diálogo e descubra o poder de ter verdadeiros embaixadores dentro da sua própria equipe.

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CEO da Drin Inovação, TEDx speaker, mentor, conselheiro e Linkedin TOP Voice.

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