Por Roberto Vilela, consultor empresarial, estrategista de negócios, escritor e palestrante
Nunca se viveu um desafio tão grande em relação à liderança dentro das empresas. Essa ausência não se traduz apenas em cargos vagos, mas em uma dor latente que impacta boa parte das organizações: a dificuldade de encontrar pessoas preparadas e dispostas a assumir a responsabilidade de liderar. A questão que se impõe é direta — para onde foram os líderes?
Muitas companhias acabam promovendo profissionais que não possuem maturidade, experiência ou sequer desejo de ocupar posições de liderança. Com isso, instala-se um círculo vicioso: líderes inseguros, que não se sentem confortáveis no papel, acabam frustrando a si mesmos e às equipes.
Não se trata de incapacidade das novas gerações. Pelo contrário, os jovens profissionais são talentosos, inteligentes, conectados e demonstram grande potencial. O problema está em outro ponto, a liderança deixou de ser atrativa. Se antes assumir um cargo de gestão era quase uma etapa natural na carreira, hoje esse lugar perdeu parte de seu brilho. Há capacidade de sobra, mas falta vontade de estar ali.
Existem razões objetivas para isso. Uma delas é a herança de maus exemplos. Muitos profissionais convivem com líderes autocráticos, despreparados, incapazes de ouvir, dar feedback ou lidar com erros. Quando chega a hora de ocupar o mesmo posto, a percepção é clara: “se liderança é isso, eu não quero”. Sem novos referenciais, cria-se um desestímulo para que talentos sigam esse caminho.
Outro fator relevante é a sobrecarga emocional. Em um mundo hiperconectado, onde a fronteira entre vida pessoal e profissional é constantemente testada, os jovens buscam equilíbrio. Liderar, nesse contexto, significa lidar não só com a própria pressão, mas também com a dos liderados — e muitos preferem evitar esse peso. A liderança, que já foi vista como sinônimo de status, hoje se apresenta como uma função que exige muito e devolve pouco em reconhecimento ou bem-estar.
Diante desse cenário, emerge uma necessidade urgente, que é ressignificar a liderança. Isso passa por programas de formação consistentes, que equilibrem o desenvolvimento técnico e, sobretudo, o preparo emocional. Um líder emocionalmente estável consegue tomar decisões mais assertivas, manter segurança diante das adversidades e não carregar para casa o peso de cada escolha.
Também é fundamental rever a forma como o erro é tratado dentro das empresas. Quando cada falha é punida com intensidade, cria-se um ambiente hostil, que desestimula a autonomia e afasta talentos da liderança. O erro, no entanto, é parte do processo de aprendizado e deve ser encarado como oportunidade de crescimento.
Por fim, é preciso abandonar a ideia do líder-herói. A busca pelo profissional fora da curva, capaz de resolver todos os problemas, acaba desumanizando a liderança. O que as organizações realmente precisam é de múltiplos líderes: humanos, próximos, com quem as equipes consigam se identificar. Figuras excepcionais são importantes, mas não podem ser a única referência.
A ausência de líderes não é resultado da falta de talento, mas da incapacidade de tornar o papel de liderança atrativo e sustentável. Para responder à pergunta “para onde foram os líderes?”, o caminho está em recriar condições para que pessoas queiram estar nesse lugar — liderando com preparo, equilíbrio e humanidade.