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Profissionais globais: Brasil vira vitrine, mas ainda há desafios invisíveis

Foto: divulgação.

Por Alan Sikora, CTO e fundador da TechFX.

O produto de exportação do Brasil que mais cresceu em 2024 não foi a soja, o petróleo ou o minério de ferro, mas sim o talento.

O número de profissionais contratados por empresas estrangeiras aumentou 53% no último ano, colocando o país entre as cinco nações que mais exportam profissionais, segundo a Deel.

Essa ascensão resulta da combinação entre mão de obra qualificada, câmbio favorável e a possibilidade de internacionalização sem exigir passaporte carimbado.

O Brasil se tornou uma vitrine global de talentos. Além disso, fatores econômicos pesam: o aumento salarial médio de 4% para quem recebe em dólar, somado à valorização da moeda americana em mais de 27% frente ao real, fortaleceu o interesse de profissionais e empresas.

No entanto, abrir portas para o exterior não significa simplicidade. A hiperconectividade pode criar a ilusão de que internacionalizar a carreira se resume a enviar um currículo e esperar o retorno.

Na prática, barreiras contratuais, fiscais e culturais ainda existem, muitas vezes invisíveis para quem está começando.

Em vários casos, os contratos transferem riscos ao profissional, enquanto impostos, formas de pagamento e adaptação às normas internacionais exigem preparo técnico e jurídico.

Outro ponto crucial é a concorrência. Ao disputar espaço com profissionais da Índia, Estados Unidos, Europa ou América Latina, apenas quem entrega consistência se mantém. Currículos mal estruturados e perfis pouco ativos no LinkedIn dificilmente passam pelos primeiros filtros.

A visibilidade também é um desafio. Sem um CV adaptado aos padrões internacionais ou presença em repositórios técnicos como GitHub, muitas candidaturas sequer são avaliadas.

Nesse ambiente turbulento, é essencial ser analítico: pesquisar empresas, checar a legitimidade das propostas e investir tempo em construir uma reputação digital sólida.

Os processos seletivos também mudam. Além da comprovação técnica, destacam-se resiliência, clareza na comunicação e adaptabilidade. Diferenças de fuso horário, equipes multiculturais e entregas orientadas a resultados exigem um novo ritmo de trabalho, que deve ser considerado desde o início da jornada.

Mesmo após a conquista da vaga, os desafios permanecem. A euforia com salários em moeda estrangeira pode ocultar armadilhas financeiras importantes.

O desconhecimento sobre o fluxo de pagamento internacional, da emissão de invoices ao saque em reais, pode gerar custos e atrasos que reduzem significativamente a remuneração. Sem planejamento fiscal e contábil, aquilo que parecia um ganho expressivo pode rapidamente se transformar em frustração.

As empresas também têm responsabilidade nesse processo. Muitas ainda não oferecem onboarding estruturado, contratos claros ou suporte ao desenvolvimento contínuo do profissional. Isso compromete a adaptação e a retenção de talentos.

O trabalhador global busca, além de boa remuneração, segurança jurídica, clareza nas expectativas e qualidade de vida. A experiência internacional só é sustentável quando benefícios e responsabilidades são equilibrados para ambos os lados.

O surgimento dessa nova geração de profissionais globais representa uma transformação estrutural no mercado de trabalho.

O movimento é irreversível e combina oportunidades reais com desafios que, à primeira vista, podem passar despercebidos. Cabe ao profissional brasileiro investir em preparo, informação e estratégia de posicionamento.

O mercado de trabalho hoje não apresenta fronteiras e, se antes exportávamos apenas commodities, agora precisamos estar prontos para exportar inteligência.

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