Nos últimos anos, minha rotina como advogado de negócios internacionais tem sido marcada por uma pergunta recorrente de clientes estrangeiros: “Vale a pena entrar no Brasil agora?”. A resposta, que já foi cercada de incertezas, hoje ganha contornos diferentes. O Brasil voltou ao mapa das multinacionais, e a experiência que vivi no Startup Summit 2025, em Florianópolis, é uma prova viva desse movimento.
Durante três dias, notei uma circulação intensa de delegações internacionais nos corredores do evento. Mais de vinte comitivas oficiais vieram ao país para entender de perto como acessar o nosso mercado. Não eram apenas visitas institucionais: havia rodadas de negócios, agendas cirúrgicas de matchmaking e reuniões sobre regulação, tributação e canais de distribuição. Ou seja, um interesse real, estratégico e estruturado.
E não é difícil entender o porquê. O Brasil tem mais de 213 milhões de habitantes, um mercado consumidor robusto e em expansão. No digital, somos líderes da América Latina: concentramos mais da metade do e-commerce da região. Gigantes como a Mercado Libre anunciaram investimentos bilionários em logística e redução de barreiras de frete, enquanto o Pix, cada vez mais dominante, promete ultrapassar o cartão de crédito como principal método de pagamento online já em 2025. Para qualquer empresa global, esses são sinais claros de oportunidade.
Mas o que mais me chamou a atenção no Summit foi o tipo de pauta trazida pelos estrangeiros. Já não se fala apenas em abrir CNPJ ou contratar equipe. As comitivas querem entender desde o dia um como adequar contratos à LGPD, como estruturar compliance, como desenhar parcerias com governo e como adaptar pricing à realidade do consumidor brasileiro. O olhar é pragmático: entrar certo para crescer rápido, evitando erros básicos.
Vi também o Brasil ser tratado como hub regional. Muitas das conversas giravam em torno de usar o país não só como destino final, mas como plataforma de expansão para LatAm. É uma lógica que acompanha a dimensão do mercado interno, mas também a posição estratégica do Brasil nas cadeias de consumo e inovação latino-americanas.
O Startup Summit, nesse sentido, funcionou como uma grande vitrine. Foi impressionante perceber que, além dos painéis e palestras, os bastidores se transformaram em um verdadeiro fórum de internacionalização. Rodadas com delegações de Portugal, Alemanha, Estados Unidos e países latino-americanos mostraram o potencial de negócios cruzados e a vontade de atrair capital para cá.
Como alguém que atua justamente na conexão entre empresas estrangeiras e o Brasil, minha percepção é clara: estamos diante de uma janela rara. O país volta a ser uma tese de entrada, não apenas extensão. O que os números já indicavam, fluxo consistente de investimento estrangeiro direto, consumo resiliente mesmo em cenários voláteis, agora ganha materialidade em encontros, contratos e intenções de investimento que se desenham.
Claro, o caminho não é trivial. Entrar no Brasil exige estratégia, parceiros locais confiáveis e atenção aos detalhes culturais, jurídicos e regulatórios. No entanto, a recompensa pode ser significativa. O recado que levo do Summit é simples: o Brasil voltou ao radar global, e quem souber pousar bem terá espaço para crescer.