Será que a inovação faz sentido na minha empresa? Essa é uma pergunta que muitos líderes e empreendedores fazem diante das rápidas transformações do mercado.
Mais do que adotar novas tecnologias ou seguir tendências, inovar é uma questão de propósito e estratégia.
Entender se a inovação realmente agrega valor ao negócio, melhora a experiência do cliente e impulsiona resultados é o primeiro passo para definir caminhos mais assertivos e sustentáveis dentro das organizações.
Conversamos com Geraldo Campos, CEO da Sapienza, sobre como implementar e o que vem no mercado em 2026, confira abaixo:
Quais são os pilares que uma empresa precisa pensar quando quer implementar alguma inovação?
Geraldo: Quando uma empresa decide implementar a inovação, o primeiro passo é entender que inovação não é um departamento — é um mindset e um life style estratégico. E para que isso aconteça de forma consistente e sustentável, eu costumo dizer que é preciso trabalhar sobre quatro pilares fundamentais:
- Cultura e Interação entre Humanos e Não-humanos.
Nenhuma inovação se sustenta sem uma cultura que promova ambientes (físicos, virtuais e mentais) que estimulam a geração e o compartilhamento do conhecimento, a segurança psicológica para o compartilhar, a curiosidade, o aprendizado contínuo e a liberdade para a experimentação. As pessoas (atores humanos) são parte importante do processo inovador, e ampliam a sua capacidade a partir dos atores não-humanos (neste caso compreendidos como as IAs, para este texto), aumentando a sua inteligência empreendedora e possibilitando com que se desenvolva uma maior vantagem competitiva frente aos concorrentes. - Estratégia com Propósito.
Inovar sem estratégia e sem propósito é apenas gastar energia. Poderíamos chamar de espasmos inovativos. Uma empresa com uma gestão profissional deve e precisa conectar a inovação à sua missão e à visão de futuro que deseja alcançar. É essa conexão que dá sentido ao investimento e direciona os esforços para gerar valor real — para o cliente, para o mercado e para a sociedade. É preciso lembrar que: mesmo a inovação sendo um tema transversal ela pode se manifestar apenas em uma área da empresa. Posso ser uma empresa muito inovadora em produtos, mas ser menos inovadora em meus processos. Ser muito inovadora na experiência do cliente, mas menos inovadora em ambiente. A estratégia e o posicionamento definem onde devo inovar e onde devo investir os meus recursos. - Abordagens, Métodos, Processos, Instrumentos e ROII.(com dois “is”)
A inovação precisa de abordagens, métodos, processos e instrumentos (ferramentas e indicadores) que irão ajudar a transformar demandas e/ou oportunidades de mercado em soluções que possam ser validadas, testadas e implementadas junto aos consumidores. Esta implementação deve utilizar os instrumentos e indicadores qualitativos e quantitativos para fazer a medição do impacto da inovação junto aos consumidores e do quanto isto impacta no ROII (Retorno sobre o Investimento da Inovação, por isto o segundo “i”, de inovação). É um grande erro achar que a inovação corporativa séria se dá por um processo “ideativo hackthoniano”. Este é apenas o início do processo). A inovação se pauta em pesquisa e desenvolvimento de forma robusta a partir de processos estruturados, orçamentos claros, equipes de alta performance e de estratégias de implementação de mercado. - Sistemas, Ecossistemas e Egosistemas
Dizer que nenhuma organização inova sozinha é compreender apenas a inovação como uma abordagem aberta (open innovation). Muitas empresas que desenvolvem inovação de ponta (radicais e disruptivas) inovam dentro das paredes dos seus escritórios e laboratórios, em virtude do processo de sigilo e confidencialidade, reserva de mercado, de busca por proteção intelectual e segredo industrial. Para determinados segmentos de mercado, contar com um ecossistema e parceiros é fundamental para o desenvolvimento das primeiras etapas do funil de inovação, visto que, boa parte das empresas, mesmo as startups, optam, na grande maioria das vezes, trazer para dentro de casa o desenvolvimento das soluções. Estar conectado a um ecossistema de universidades, startups, incubadoras, aceleradoras e outras empresas auxiliam no fortalecimento dos negócios, amplificando atuações de mercado. Mas, cuidado com os egosistemas geradores de movimentos sem progresso e iniciativas sem acabativas, tornando apenas mais um movimento caçador de likes.
Em resumo, inovar é alinhar os quatro elementos citados acima. Quando estão em equilíbrio, a inovação deixa de ser um discurso e passa a ser uma prática viva dentro da empresa.
Inovação faz sentido para todas as empresas?
Geraldo: Sem dúvida. A inovação faz sentido para todas as empresas — mas em diferentes intensidades e contextos.
Muitas vezes, quando falamos em inovação, as pessoas pensam apenas em grandes transformações tecnológicas, laboratórios futuristas ou startups do Vale do Silício. Mas a verdade é que inovar é simplesmente criar valor de uma forma nova — e isso pode acontecer em qualquer lugar, em qualquer porte de empresa.
Uma padaria pode inovar na experiência do cliente. Uma indústria pode inovar em processos produtivos. Um pequeno comércio pode inovar na forma de se comunicar com seus clientes. E uma grande corporação pode inovar em modelos de negócio ou sustentabilidade.
Na Sapienza, nós costumamos dizer que a inovação é um meio, não um fim. Ela precisa estar a serviço de algo e definido na estratégia com um propósito — de melhorar a vida dos atores humanos (pessoas, animais, plantas…) e atores não-humanos (máquinas, hardwares e softwares…), do ambiente econômico, social e ambiental, tornando processos humanos, mais eficazes, assertivos e geradores de impacto positivo.
Portanto, toda empresa pode inovar, desde que esteja disposta a repensar seus hábitos, abrir espaço para o aprendizado e cultivar a coragem de experimentar o novo, compreendendo que o mundo precisa urgentemente de um modelo de inovação regenerativa. Inovação requer gestão de mudança. Quero inovar, mas quero continuar fazendo o que sempre fiz; faz com que a inovação seja apenas um discurso de marketing.
Inovação garante sucesso de uma organização? O que define?
Geraldo: Inovação, por si só, não garante o sucesso de uma organização. Pode inclusive em alguma escala e intensidade levá-la ao fracasso, se não for bem estruturada e implementada. Porém, a inovação é um fator essencial, mas precisa estar acompanhada de estratégia, execução, monitoramento e propósito.
Muitas empresas confundem inovação com invenção — lançam produtos, fazem campanhas criativas, mas sem uma visão clara de onde querem chegar e sem gerar impacto e valor. Definir sucesso no mundo em que vivemos é algo muito complexo. De que tipo de sucesso estamos falando? Financeiro, número de seguidores no instagram, portfólio recheado de produtos, receber investimento. Cada empresa (e pessoa) terá uma visão sobre o que é sucesso. O sucesso empresarial vai depender de diversos fatores, tanto internos, quanto externos. A obtenção das metas pode ser uma forma de sucesso. Sobreviver a volatilidade do mercado, a instabilidade econômica, política, ambiental, pode ser uma forma de sucesso.
O ato de empreender-se e empreender é um jogo infinito. Hoje tenho sucesso (a partir de uma perspectiva, de uma visão de mundo) amanhã posso não ter. Mesmo que saibamos que vivemos no mundo capitalista e que o sucesso empresarial são muitos clientes pagantes por determinada solução na busca do lucro, muitas vezes vemos empresas que possuem lucro, mas que sofrem grandes turbulências.
Na perspectiva da inovação, o que pode definir o sucesso é a capacidade que a solução inovadora tem de gerar valor e impacto de maneira contínua, durante o seu ciclo de vida, tanto para o negócio quanto para os atores humanos e não humanos que impactam.
O sucesso pode nascer de uma combinação de elementos.
- Implementação clara da estratégia: entender o porquê de inovar, qual problema está sendo resolvido e qual valor será gerado e como isto impacta os atores quando da sua utilização.
- Excelência e consistência na execução: a implementação da inovação deve ser primorosa, de forma que a experiência do consumidor (cliente e usuário) tenha sentido para o alcance das suas necessidades e demandas, resolvendo-as de forma consistente e continuada, sem intermitências. Quem utiliza um MVP ruim, possivelmente não volta a utilizar uma solução da mesma empresa, pois experienciou algo que não lhe trouxe benefícios, ou seja, perderá valor.
- Cultura organizacional antifrágil com líderes plásticos/líquidos: o mundo VUCA e BANI traz desafios incalculáveis todas as horas do dia. Muito mais do que resilientes as equipes devem ser antifrágeis e plásticas/líquidos para estarem atentos ao que acontece no ambiente externo e estarem seguros para conduzirem suas equipes no ambiente interno. O mundo líquido de Bauman está atropelando e esmagando as empresas. Manter o time engajado, criativo e preparado para lidar com as mudanças que a inovação naturalmente traz não é mais o desafio. O desafio agora é ter um time, que dure mais do que uma primavera.
Portanto, a inovação é no mundo atual uma das propulsoras da vantagem competitiva, mas o sucesso tende a vir da consistência, da entrega, da repetição exaustiva dos processos internos, do relacionamento apaixonado e assertivo, sem “babação” e “enrolação” do consumidor; e, ainda com um pouco de sorte (para alguns que pouco acreditam na ciência). Uma empresa inovadora (ou não) sem estratégia se perde, sem uma liderança determinada (não teimosa) se desequilibra. Empresas e líderes do hoje e do amanhã devem se tornar excelentes surfistas. Sabem que para pegarem as melhores ondas, deverão ter muito fôlego e habilidades para passar pela arrebentação, deverão disputar espaços com os outros surfistas e com os “haoles”, precisarão ter estar atento a formulação das ondas “lá fora” e deverão remar para superar os adversários para pegar a melhor onda.
Na onda deverão se equilibrar de forma habilidosa, imprimindo potência nas manobras para que não caiam, ao mesmo tempo que monitoram a formação e a força da onda. Miram a crista da onda para se destacarem e serem vistos por que está no mar e por quem está na praia. Ao chegar no final, lembra do prazer gerado (ou do “caldo” tomado, quando a onda não é tão boa); e, refaz o ciclo, com a esperança que sempre a próxima onda será a melhor.
Esta deve ser a postura do empreendedor, do inovador, do líder, do sujeito que entende que a sua existência será marcada por realizações, e que não veio nesta vida para chupar picolé.
2026 está logo aí, quem não inovar em algum sentido, fica para trás?
Geraldo: Sem dúvida. 2026 será um divisor de águas ainda maior para quem realmente entende a inovação como vantagem competitiva.Tenho dito que por vezes é melhor ser mais promissor do que inovador, pois tenho clareza que a inovação deve servir para aumentar a vantagem competitiva da organização. É muito mais do que apenas gerar valor, como falamos de forma superficial.
Estamos vivendo um tempo em que as transformações tecnológicas, sociais, ambientais e econômicas acontecem numa velocidade nunca vista antes. A inteligência artificial, a sustentabilidade, os novos modelos de trabalho e as demandas de um consumidor cada vez mais consciente estão redesenhando o jogo dos negócios, necessitando de uma maior agilidade e capacidade absortiva.
Nesse cenário, quem não se adapta, derrete, antes de desaparecer — mas quem se antecipa, lidera. Inovar não é mais uma escolha; é uma questão de sobrevivência. Mas inovar não significa apenas adotar tecnologia — significa pensar diferente, agir com propósito e entregar valor de forma inteligente e humana.
Na Sapienza, chamamos isso de Human Ecotech uma nova geração de empreendedores que unem humanismo, inovação, tecnologia, consciência socioambiental e cidadania, redesenhando o futuro.
As empresas que entenderem este movimento possivelmente estarão à frente. As que esperarem o “momento certo” para começar… provavelmente já estão desaparecendo.