A gente passou tanto tempo sendo avaliado que desaprendeu a simplesmente existir.
Cada tentativa virou uma performance. Cada erro, um motivo pra se esconder.
Mas existe um lugar em nós que ainda lembra de quando brincar bastava.
Quando desenhar sem rumo, cantar fora do tom ou errar o passo não era vergonha. Era vida acontecendo.
Ser ruim virou um medo moderno. Um medo de não ser interessante, competente, estético o suficiente.
Mas ser ruim é o primeiro passo de quem tem coragem de tentar.
De quem não se acomoda na plateia, mesmo sabendo que pode desafinar no palco.
Ser ruim é o contrário de desistir.
A verdade é que ninguém aprende se não puder falhar. E ninguém descobre o próprio ritmo se só dança quando tem certeza de acertar o passo.
O processo é o que nos lapida, e não a perfeição que nos vendem.
Quando a gente se permite errar, o peso da expectativa se dissolve e o prazer de existir retorna no lugar certo: no presente.
Fazer algo sem meta, sem audiência, sem utilidade é um ato de resistência.
É lembrar que o valor não mora no resultado, mas na presença.
Na curiosidade de experimentar. No prazer de ser amador em um mundo que exige maestria o tempo todo.
Então sim, pinta feio. Escreve torto. Canta alto.
Erra de novo. E de novo.
Porque ser ruim, de vez em quando, é a forma mais sincera de continuar inteiro.