Por Leonardo Grisotto, cofundador e sócio da ZAXO.
Quando olho para trás e revisito as operações de M&A que conduzi ao longo da minha trajetória, que já somam mais de R$ 7 bilhões, percebo a constante de que nenhum grande negócio foi construído sozinho.
Pode soar óbvio, mas ainda encontro empresários e até advogados que acreditam que basta uma boa negociação ou um contrato bem redigido para que tudo dê certo. Não é assim.
Fusões e aquisições são, por natureza, complexas. Exigem leitura de mercado, análise financeira, visão estratégica, entendimento regulatório e, sobretudo, a capacidade de integrar pessoas diferentes em torno de um mesmo objetivo.
Nesse ambiente, o advogado deixa de ser somente um guardião jurídico e passa a atuar como um aliado estratégico, alguém que conecta pontos, antecipa riscos e abre caminhos para que a transação aconteça com segurança e agilidade.
Na prática, o que vejo é que as melhores operações são aquelas feitas a quatro mãos, ou até a várias mãos. Quando advogados trabalham lado a lado com especialistas em finanças, compliance, estratégia e até em comunicação, o resultado é outro. Ganha-se em profundidade de análise, em velocidade de resposta e, principalmente, em confiança entre as partes.
O que temos observado é que a colaboração entre áreas importa, e muito.
Uma pesquisa da Deloitte apontou que cerca de 30% das operações de M&A fracassam por falta de uma due diligence adequada, processo estruturado de análise e verificação (jurídica, financeira, contábil, tributária, trabalhista, ambiental etc.) feito para identificar riscos e oportunidades antes de concluir uma operação de M&A, o que mostra como essa etapa é determinante para reduzir riscos.
Um estudo da McKinsey indica que transações acompanhadas por due diligence completa têm 50% mais chances de atingir ou superar as metas financeiras, enquanto a PwC aponta que empresas que investem nesse processo possuem 18% mais probabilidade de sucesso e que 83% dos executivos consideram a prática essencial para alcançar sinergias.
Já foi comprovado inúmeras vezes que a falta de due diligence leva a uma taxa de fracasso em fusões e aquisições entre 70% e 90%, segundo estudos e análises de mercado amplamente citados em relatórios de consultorias e publicações acadêmicas sobre M&A.
Um bom exemplo histórico do que pode acontecer quando a integração não é bem planejada é a fusão de 2000 entre a America Online (AOL) e a Time Warner. Avaliada em US$ 165 bilhões, essa operação é considerada o fracasso de fusões e aquisições mais caro da história.
A transação acabou em separação em 2009, em grande parte devido a objetivos desalinhados, diferenças culturais e superestimação das sinergias entre as duas empresas.
Casos como esse reforçam a importância de atuação integrada, comunicação clara e due diligence rigorosa para reduzir riscos e garantir que o valor pretendido seja realmente alcançado.
Na Zaxo, acompanhamos casos em que essa sinergia foi decisiva. Em uma operação recente, por exemplo, havia um ponto sensível em que o comprador estava preocupado com passivos ocultos e o vendedor, ansioso por não perder valor na mesa de negociação.
Foi a integração entre jurídico e financeiro que permitiu estruturar uma solução equilibrada, que garantiu proteção a ambos os lados e viabilizou o acordo. Sem essa atuação colaborativa, o negócio provavelmente teria travado.
É por isso que insisto: M&A é também sobre construir relações de confiança. E confiança só nasce quando existe diálogo entre profissionais, quando todos se sentem parte da mesma construção.
Advogados que se isolam perdem a chance de agregar valor e de se tornarem protagonistas em decisões estratégicas.
Em um ambiente de negócios cada vez mais volátil, a lógica de trabalhar sozinho está ultrapassada. Operações de M&A são complexas, reguladas e carregam impactos de longo prazo. Um erro ou omissão pode significar perdas milionárias.
Mas a boa notícia é que, quando diferentes especialistas se unem, esses riscos se transformam em oportunidades.
O futuro das operações de fusão e aquisição exige cada vez mais essa postura colaborativa. Investidores e empresas não procuram apenas bons técnicos, procuram parceiros que consigam enxergar o todo, conectar disciplinas e transformar riscos em oportunidades.
Na minha visão, advogados que compreendem isso estão à frente. Eles não apenas entregam segurança jurídica, mas também ajudam a desenhar negócios mais sólidos, mais inteligentes e mais sustentáveis no longo prazo.
Fusões e aquisições não são apenas sobre empresas que mudam de dono, são sobre pessoas e competências que se unem para criar algo maior. Porque, no fim do dia, M&A bem-sucedido é sempre um trabalho em equipe.