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O tempo do ócio criativo é o tempo da inovação

Foto: divulgação

Vivemos em uma sociedade que transformou o fazer em uma religião. Medimos valor pela quantidade de tarefas realizadas, pelo número de reuniões na agenda e pela velocidade com que respondemos mensagens. O “estar ocupado” virou sinônimo de sucesso, enquanto o tempo livre passou a carregar o estigma da improdutividade.

Mas essa lógica começa a ruir. Em meio à era da automação e da inteligência artificial, surge um paradoxo: quanto mais tecnologia temos para nos liberar do trabalho repetitivo, menos tempo temos para pensar.

É nesse contexto que o pensamento de Domenico De Masi — sociólogo italiano e autor do conceito de ócio criativo — se torna revolucionário. Ele defendia que o futuro do trabalho não está em fazer mais, mas em pensar melhor. Que a verdadeira produtividade nasce da integração entre trabalho, estudo e lazer, três dimensões que, quando vividas em harmonia, liberam o potencial humano para criar e inovar.

O homem criativo é aquele que trabalha, estuda e se diverte ao mesmo tempo”, dizia De Masi.

O ócio criativo é o antídoto contra a fadiga cognitiva que consome líderes, empreendedores e profissionais. Ele nos lembra que a mente precisa de espaços de silêncio, contemplação e curiosidade para gerar ideias originais. É nas pausas — e não no frenesi — que surgem as grandes intuições.

A inovação, afinal, não nasce da urgência, mas da observação.
Ela floresce quando há tempo para questionar, experimentar e imaginar sem a pressão do cronômetro. Grandes invenções da história surgiram justamente nesses intervalos de aparente “inatividade”: Arquimedes teve seu famoso “Eureka” em uma banheira; Newton formulou sua teoria da gravitação enquanto descansava sob uma macieira.

Hoje, porém, trocamos esses momentos por notificações e planilhas. Criamos empresas que celebram a agilidade, mas esquecem a reflexão; escolas que ensinam conteúdos, mas não ensinam a pensar; líderes que pedem inovação, mas punem quem ousa parar para refletir.

O resultado é uma sociedade hiperconectada e subcriativa — eficiente, porém sem imaginação.

O tempo do ócio criativo é, portanto, o tempo da resistência intelectual. É o espaço em que retomamos o prazer de aprender, de observar o mundo com curiosidade e de conectar o inútil ao essencial — porque, como lembrava De Masi, a imaginação é filha do tempo livre.

Para as organizações do futuro, isso significa algo profundo: a gestão do tempo deve incluir a gestão da pausa. O líder inovador não é aquele que acelera tudo, mas o que permite respiros conscientes na rotina. É aquele que entende que ideias precisam de tempo, como o café precisa de infusão.

Talvez estejamos redescobrindo que o futuro do trabalho não será sobre horas, e sim sobre propósito, prazer e pensamento.

E que, em um mundo cada vez mais automatizado, o bem mais escasso não será a tecnologia — mas o tempo para imaginar o que ainda não existe.

Quando foi a última vez que você se permitiu um momento de ócio — não para descansar do trabalho, mas para se reencontrar com o prazer de pensar?

Porque o tempo do ócio criativo — é, verdadeiramente — o tempo da inovação.

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CEO da Sapienza.

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