Nos últimos anos, parece que o mundo entrou em modo automático. Todo dia surge uma nova receita de sucesso: acordar às 5h, banho gelado, meditação, leitura de 30 minutos, foco, disciplina, consistência. Viramos consumidores de manuais de alta performance, copiando rotinas, hábitos e até frases prontas. O problema é que, quanto mais seguimos o roteiro, mais nos afastamos de nós mesmos.
A busca pela performance virou religião. E, nessa busca, a autenticidade ficou pelo caminho. Fazemos o que disseram que é certo, repetimos o que ouvimos de alguém que “chegou lá” e, quando percebemos, estamos interpretando um papel que não escolhemos. Seguimos o script com perfeição, mas esquecemos de sentir se ele ainda faz sentido.
Durante muitos anos, fui referência na área de segurança em computação em nuvem. Viajava todas as semanas para dar palestras, ministrar treinamentos e atuar em grandes projetos. À primeira vista, eu tinha tudo o que se poderia desejar: reconhecimento, oportunidades, sucesso profissional. Mas, em algum momento, percebi que todo esse “sucesso” estava me afastando justamente do que eu mais buscava: ter mais tempo livre. Tempo para mim, para as pessoas que amo, para viver com leveza. Foi aí que comecei a questionar se o caminho que eu seguia era realmente o meu.
É curioso pensar como falamos tanto sobre propósito, o propósito da marca, da empresa, da organização, mas quase nunca falamos sobre o propósito do CPF por trás do CNPJ. O que te move de verdade? O que te faz levantar todos os dias, além do que está na agenda? O que te conecta com aquilo que faz?
O propósito do CPF é o que dá alma ao negócio. É o que sustenta quando o resultado não vem, quando o reconhecimento atrasa, quando as coisas saem do controle. Sem ele, a rotina vira repetição e a motivação vira cobrança. É o que diferencia fazer porque esperam isso de você de fazer porque você acredita.
Mas o piloto automático é sedutor. Ele dá a sensação de progresso, mesmo que você só esteja girando no mesmo lugar. Ele te faz sentir produtivo, mesmo quando o que você está produzindo não tem mais significado. A cada novo “hack de produtividade”, a cada novo “método infalível”, a gente terceiriza um pouco mais da própria vida. E, sem perceber, passamos a viver o propósito dos outros, não o nosso.
Por trás de cada empresa, de cada resultado, existe alguém que sente, que duvida, que cansa, que busca sentido no meio do caos. E é nesse espaço humano, imperfeito e vulnerável, que mora o propósito real. O CPF que esquece de si adoece, e quando isso acontece, nenhum CNPJ dá conta de sustentar o peso.
O sucesso é pessoal. Cada conquista tem um significado diferente para cada pessoa. Para alguns, sucesso é alcançar posições de destaque. Para outros, é ter tempo para almoçar com a família ou surfar no meio da semana. Não existe uma única definição, nem um único caminho. Às vezes, o trajeto que levou alguém até lá é completamente diferente do caminho que você vai trilhar, e está tudo certo.
Autenticidade é isso: reconhecer o que faz sentido para você e seguir, mesmo que o mundo diga o contrário.
Porque o sucesso sem propósito é só performance.
E a vida é curta demais para ser vivida no piloto automático.
