Chega dezembro e o corpo já sabe antes da agenda confirmar. O cansaço não é só físico. É um cansaço mais fundo, difícil de explicar, que não se resolve com férias marcadas nem com alguns dias longe do escritório. É o cansaço de quem passou o ano inteiro respondendo a demandas, apagando incêndios, batendo metas, resolvendo problemas que nunca acabam de verdade. Um cansaço que nasce quando a vida vira apenas sequência de tarefas.
O fim de ano costuma ser vendido como reta final. Último esforço. Última entrega. Última reunião. Último sprint antes do descanso. Mas, curiosamente, é também o momento em que muita gente se pergunta, ainda que em silêncio, se faz sentido começar tudo de novo daqui a poucos dias, com o mesmo ritmo, as mesmas cobranças e as mesmas expectativas.
Talvez o problema não seja o trabalho. Nem as metas. Nem o esforço. Talvez o problema seja atravessar tudo isso sem saber, com clareza, por que estamos fazendo o que fazemos.
Nietzsche dizia que quem tem um porquê enfrenta qualquer como. Mas o que vemos, especialmente no mundo corporativo, é o oposto. Muitos “comos”, muitas metodologias, muitos frameworks, muitas rotinas e quase nenhum espaço para refletir sobre o motivo. A agenda lotada vira desculpa para não pensar. A correria vira anestesia.
E aí chegamos ao fim do ano exaustos, contando os dias para parar, mas sem conseguir responder uma pergunta simples e desconfortável: se amanhã tudo isso acabasse, o que de fato sentiria falta?
Falar de propósito nesse contexto não é sobre frases bonitas nem sobre grandes missões inspiracionais penduradas na parede. É algo muito mais íntimo. É sobre entender o que sustenta você quando ninguém está olhando. O que faz o esforço valer a pena mesmo nos dias em que o reconhecimento não vem. O que conecta o que você faz com quem você é, e não apenas com o cargo que ocupa.
Talvez o convite deste fim de ano não seja planejar mais um ciclo cheio de objetivos ambiciosos. Talvez seja, antes disso, criar um espaço de honestidade consigo mesmo. Olhar para o ano que passou e perguntar, sem julgamento: isso aqui ainda faz sentido para mim? O que eu estou construindo está alinhado com a vida que quero viver? Ou estou apenas repetindo um roteiro que alguém escreveu e disse que era sucesso?
Porque quando o porquê está claro, o trabalho pesa menos. As metas não viram prisão. O esforço encontra direção. Mas quando ele falta, até as conquistas mais bonitas chegam vazias, e o descanso nunca parece suficiente.
Que este fim de ano seja menos sobre fechar planilhas e mais sobre abrir perguntas. Menos sobre acelerar e mais sobre escutar. Menos sobre repetir o que sempre foi feito e mais sobre decidir, com consciência, o que merece continuar.
Talvez o maior presente que você possa se dar agora não seja começar o próximo ano mais produtivo, mais disciplinado ou mais eficiente. Talvez seja começar mais verdadeiro.
E isso, sim, muda tudo.