Se 2022 foi o ano da popularização da inteligência artificial generativa e 2023/2024 consolidou sua presença em diversos setores, 2025 representou, para a saúde, um ponto de inflexão. Deixamos a euforia de lado e passamos a olhar para a tecnologia com lentes mais pragmáticas para implementar soluções inteligentes com garantias de retorno financeiro, eficiência e sustentabilidade.
Acredito que o principal aprendizado do setor neste ano foi que a adoção de automação e IA só faz sentido quando vem acompanhada de maturidade financeira. Grandes grupos adotaram uma postura mais crítica sobre onde e como aplicar IA, especialmente no atendimento ao beneficiário. O foco agora está em mensurar o impacto real, reduzir custos operacionais e garantir ROI sustentável. É a transição definitiva do hype para o valor comprovado.
Esse pragmatismo também se refletiu na expectativa do mercado. Em um projeto recente de chatbot com um player nacional, por exemplo, ficou evidente que o cliente buscava equilíbrio: tecnologia sim, mas com controle. Não era o “agente livre” de IA que atraía, e sim a combinação entre fluxos bem definidos e pontos estratégicos de automação inteligente. A decisão de compra foi guiada pela segurança e pelo impacto, e não por promessas futuristas.
Em 2025, participei de duas missões internacionais — Vivatec Paris (Apex Brasil) e Web Summit (FAPESC/Câmara Brasil-Portugal) — que reforçaram essa leitura. As Big Techs estão focadas em levar IA ao usuário final, com experiências conversacionais cada vez mais sofisticadas. Mas, nos bastidores, a incerteza sobre o custo real dessas soluções continua alta, mesmo em mercados maduros. Por outro lado, o B2B segue firme, com ferramentas consolidadas em uso desde muito antes da popularização. O verdadeiro desafio não está em inventar soluções, mas em aplicar com inteligência.
Outro destaque dessas missões foi o movimento estratégico da União Europeia para atrair empresas de IA, cibersegurança e defesa por meio de fundos de inovação. O bloco europeu, junto a municípios e universidades estão, literalmente, abrindo as portas para startups tecnológicas do mundo todo. A oportunidade de internacionalização nunca esteve tão concreta.
No Brasil, porém, ainda enfrentamos um entrave estrutural: a interoperabilidade. A falta de sistemas integrados capazes de conectar diferentes informações ainda compromete a adoção segura e escalável de qualquer tecnologia avançada. Em plena era da IA, muitas instituições de saúde não têm sequer o básico para conectar dados entre sistemas. É o que chamo de “remendo digital”: inovações que são aplicadas em ilhas, sem integração real.
É urgente que 2026 seja o ano da interoperabilidade. A base precisa estar pronta para que a inovação aconteça com propósito. Projetos com início, meio e fim, voltados à integração de dados, são o verdadeiro caminho para transformar a jornada do paciente e tornar o setor mais eficiente, confiável e conectado.
Agora, se pudesse resumir 2025 em uma frase, diria que a tecnologia não é uma etapa. É o alicerce para jornadas do paciente feitas com responsabilidade.