Por Guilherme Neves, sócio e headhunter na Evermonte Executive & Board Search.
Nos últimos anos, a construção civil brasileira passou por um processo de amadurecimento forçado. Saiu de uma fase de crescimento acelerado – marcada por expansão territorial, grandes obras e alta demanda de contratações – e entrou em um ciclo mais técnico, disciplinado e seletivo.
Com crédito escasso, inflação persistente e custo de capital acima de 15% ao ano, o avanço do setor deixou de ser sobre fazer mais. Agora, trata-se de fazer melhor. Nesse novo cenário, eficiência não é apenas uma meta operacional. Virou o centro da estratégia. E, nesse setor, eficiência nasce da liderança – principalmente, das lideranças que estão no centro da operação.
Mudança na lógica de valor
O relatório Brazil Construction Market Pulse 2026, publicado pelo Evermonte Institute, confirma essa mudança. De 2024 para cá, as contratações de diretoria cresceram 18,1%, enquanto as de gerência recuaram 31,4%. Essa inversão no organograma reflete mais do que uma reorganização hierárquica: mostra que o setor passou a enxergar valor nas lideranças capazes de gerar eficiência, controle e retorno com alto nível técnico.
Com mais de 290 mil unidades em estoque, 19 mil vagas formais abertas por mês, e R$ 1,8 trilhão em investimentos previstos no Novo PAC, o volume voltou. Mas agora, o diferencial está em quem consegue transformar esse volume em resultado com controle de risco.
As diretorias mais demandadas
Nesse novo contexto, as posições mais estratégicas do setor estão concentradas em operações e tecnologia. Segundo o estudo, Engenharia e Obras respondem por 33% das contratações executivas, com Suprimentos e Finanças logo em seguida, ambos acima de 13%.
O que se busca são lideranças capazes de conectar a operação de ponta a ponta: da previsão de insumos ao desembolso financeiro, do sequenciamento físico à governança contratual. Profissionais que identificam gargalos antes que eles virem desvios – e que transformam projeto em caixa, não apenas em cronograma.
O novo perfil de liderança
O perfil técnico dessas lideranças também evoluiu. Diretores de Engenharia passaram a liderar planejamentos 4D e 5D, com pré-fabricação integrada e analytics de produtividade em tempo quase real. Já os Diretores de Suprimentos lidam com volatilidade de preços, padronização contratual e rastreabilidade, sendo agora avaliados por TCO (Custo Total de Propriedade) – não apenas por economia por item.
Do lado financeiro, os CFOs enfrentam ciclos curtos de capital de giro, integração com fontes de funding público-privadas e exigências crescentes de compliance. A previsibilidade operacional passou a ser condição para acesso a crédito competitivo.
Crescimento depende de liderança
A virada é clara: crescimento deixou de depender só de capital e passou a depender da liderança certa. É essa liderança que consegue combinar técnica, visão estratégica e habilidade de entrega em ambientes complexos.
A boa notícia é que o mercado está contratando – e melhor ainda: está valorizando quem domina essa nova complexidade com clareza, consistência e resultado. Afinal, o setor não quer apenas executores, quer líderes técnicos com visão de negócio.