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Por que empresas familiares são tão fortes?

Foto: divulgação

Por Priscila Schapke, diretora executiva da Evermonte Executive & Board Search.

Não é de hoje que as empresas familiares ocupam um lugar central na economia brasileira. Elas estão por todos os lados – do agronegócio às indústrias centenárias, passando pelo varejo, pelas incorporadoras, prestadoras de serviços e até por empresas de capital fechado com atuação regional muito forte. 

Os números confirmam essa presença robusta: segundo o IBGE, cerca de 90% das empresas no Brasil têm perfil familiar; elas geram 75% dos empregos do setor privado e respondem por 65% do PIB nacional. Esse impacto chama atenção não apenas pela escala, mas pelo jeito como operam.

Um modelo diferenciado

Empresas familiares mantêm vínculos profundos com as comunidades onde nasceram, cultivam relações diretas com seus times e adotam uma mentalidade de longo prazo – não para trimestres, mas para gerações. Essa combinação de raízes locais, proximidade e visão de futuro conferem singularidade ao modelo.

Contudo, longevidade não é garantia. Apenas 30% das empresas familiares sobrevivem até a terceira geração, e apenas 15% continuam ativas após isso. Esse cenário reforça o tamanho do desafio – e a importância de olhar com mais profundidade para esse modelo de negócio.

Gestão sofisticada

Um estudo recente do Evermonte Institute produzido a partir da análise de 982 executivos(as) brasileiros(as) de alta gestão mostrou que as empresas familiares são, sim, sofisticadas. Operam com estrutura e exigência, e oferecem remuneração competitiva. Para ilustrar: 66,7% dos CEOs dessas companhias têm remuneração anual acima de R$ 1 milhão; e 22,7% dos diretores também superam essa faixa.

Entretanto, ainda persistem lacunas na adoção de mecanismos modernos de gestão de performance. Por exemplo: apenas 26,4% dessas empresas oferecem incentivos de longo prazo (ILPs) – como stock options ou bônus atrelados à geração de valor – contra 41,2% nas empresas não familiares. Em muitos casos, a retenção de pessoas segue baseada em confiança, estabilidade e relacionamentos diretos com a liderança. Funciona? Sim, mas pode não ser suficiente em contextos de crescimento ou sucessão.

Agilidade da decisão e cultura de confiança

A tomada de decisão nas empresas familiares costuma ser mais ágil: a liderança está mais próxima da operação. A confiança torna‑se uma verdadeira ferramenta de gestão – construída com tempo, coerência e repetição. Quem lidera sabe que não está apenas gerenciando ciclos de resultados, mas carregando uma história, um legado. E isso muda tudo.

Por outro lado, essa proximidade fortalece cultura e identidade – e traz uma vantagem competitiva importante: a capacidade de ajustar rotas com flexibilidade. Em mundo de mudanças aceleradas, isso se converte em ouro.

Diversidade e cultura presencial como desafios

Apesar das vantagens, os desafios permanecem. No estudo citado, apenas 19,5% dos cargos executivos em empresas familiares são ocupados por mulheres – praticamente o mesmo índice que em empresas não familiares. Nas áreas de Pessoas essa presença feminina aparece mais, mas em Negócios ou Finanças, ainda é minoria. A inclusão, portanto, não depende apenas de competência, mas de uma revisão de estruturas históricas de decisão.

Outro aspecto curioso é o modelo de trabalho: 70,4% das empresas familiares ainda operam majoritariamente de forma presencial, ante 48,8% nas não familiares. Em tempos de digitalização acelerada, esse dado tem significado: presença física ainda é vista como sinônimo de comprometimento, proximidade e confiança. A figura do fundador no dia a dia reforça esse padrão.

Tradição e modernização 

O mais revelador desse estudo é ver o quanto esse modelo está em plena transição. Muitas empresas familiares estão implementando comitês de sucessão, revisando políticas de remuneração e contratando executivos de mercado com mandato claro de transformação. Estão se abrindo sem perder a essência.

E esse é o ponto chave: tradição e modernização não são opostos. Quando bem equilibradas, formam exatamente a combinação que torna essas empresas resilientes, coerentes e relevantes num mercado cada vez mais imprevisível. 

Essa é, também, uma das maiores forças das empresas familiares: flexíveis, elas ajustam rotas, testam formatos, adaptam modelos de negócio com agilidade – o que, nos dias atuais, é um enorme diferencial competitivo. 

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Referência em recrutamento executivo na Região Sul do Brasil, a Evermonte tem como propósito garantir a evolução da governança corporativa por meio do recrutamento de lideranças estratégicas. Com escritórios em Porto Alegre, São Paulo, Curitiba, Florianópolis e Joinville, o grupo conta com uma equipe de headhunters especialistas, com vasta experiência nas áreas para as quais recrutam. Seus processos seletivos são conduzidos a partir de uma metodologia própria, que inclui a utilização de ferramentas de Inteligência Artificial, people analytics e avaliação cognitiva para garantir os melhores resultados aos seus parceiros.

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