Pessoas acima de 65 anos são os que percebem a pandemia como menores os riscos e apresentam menor comprometimento com as políticas de isolamento social em Santa Catarina.
A conclusão é da pesquisa “Covid-19 em Santa Catarina: Estudo sobre níveis de conhecimento, padrões de comportamento social e impactos na vida social e econômica”, desenvolvida por professores dos departamentos de Sociologia e Ciência Política e de Saúde Pública da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
O estudo mapeou atitudes e comportamentos da população em relação à pandemia, identificando alguns dos principais efeitos sociais e econômicos das medidas de restrição à circulação e os padrões de acesso à informação sobre a doença.
A primeira etapa da pesquisa, feita em junho via internet e por aplicativos de redes sociais, colheu respostas de 2.636 pessoas de 129 municípios catarinenses.
Como não é uma amostragem probabilística, não é possível fazer inferências populacionais a partir dos dados.
Os resultados permitem, contudo, identificar as relações entre determinados atributos dos respondentes e as suas atitudes e comportamentos.
Os respondentes que se dispuseram voluntariamente a participar de novas etapas da pesquisa receberão em setembro um novo questionário.
Em relação às percepções sobre a pandemia, o nível de informação é alto, com razoável acerto de informações, aqueles que adquirem informações por meio de mídias sociais, ou parentes e amigos mostraram nível menor de conhecimento comparados com quem utiliza sites oficiais de governo, TV e rádio.
Idosos, homens e autodeclarados com posicionamento político de direita apresentaram percepção de que a pandemia é menos perigosa que o restante da população.
No geral, as pessoas subestimaram a ocorrência de casos em crianças, adolescentes e adultos jovens (até 29 anos de idade) e superestimaram a ocorrência em idosos.
Quanto aos fatores de risco, as doenças respiratórias foram superestimadas, e ser hipertenso/ter problemas cardíacos/obesos ficaram sub-avaliados.
O uso de máscara foi entendido como um fator importante de proteção por 88% dos entrevistados, embora apenas 2 em cada 3 tenham identificado corretamente a melhor forma de proteção.
Em relação aos impactos socioeconômicos, aproximadamente 85% dos entrevistados não tiveram qualquer sintoma, apenas 4,2% haviam sido testados, e destes só 0,6% foram positivos.
No entanto, 38% conheciam pessoalmente alguém que havia adquirido a doença.
Quase a metade dos entrevistados (48,8%) teve sua renda afetada, praticamente todos com perda de renda, a maior parte desta perda estava associada às atividades informais ou prestação de serviços, com a demissão atingindo 5,5% do total, e as reduções de salário ou suspensão de contratos atingindo praticamente 1 em cada 4 afetados pela perda de renda.
Entre outros problemas enfrentados na pandemia, destacam-se a dificuldade de preservação da saúde mental (36,3%) e a sensação de isolamento (37%).
Quanto às atitudes em relação à pandemia e às políticas de isolamento social, o uso obrigatório de máscaras foi amplamente favorável, com 95% de respostas.
Idosos, pessoas de menor escolaridade e autodeclarados de direita foram os grupos de menor aderência a esta posição.
Perguntados se o isolamento social deveria ser adotado para toda a população, cerca de dois terços responderam positivamente, reagem a esta posição os homens, as pessoas de menor escolaridade, os autodeclarados de direita.
Aqueles que tiveram sua renda afetada são mais propensos a romper o isolamento social, enquanto os que têm preocupação em preservar sua saúde mental e sofrem mais com a sensação de isolamento não, mostrando que essas variáveis são consequências da pandemia que não tiveram força para romper o isolamento social.
Foram analisadas cinco atitudes que caracterizam, de alguma forma, o rompimento do isolamento social.
Essas atitudes foram mais assumidas pelos autodeclarados de direita, pelas pessoas com mais de 45 anos, e em menor grau, por homens e por aqueles de renda alta.
Quanto ao papel do estado, houve forte aderência ao aumento de gasto público durante a pandemia e à ajuda às pessoas mais vulneráveis por meio de auxílio emergencial.
Houve baixa aderência à ajuda do governo a empresas privadas e ao direito de sair de casa quando quiserem, mesmo com medidas de isolamento social em vigor.
Quanto à possibilidade de o auxílio emergencial ser tornado permanente para as pessoas de baixa renda após o fim da pandemia, as respostas mostraram uma divisão, com os de baixa escolaridade e os declarados de direita e de centro mostrando maior resistência à adoção dessa medida.
Por fim, a maioria entendia que a pandemia ainda iria piorar. Discordavam dessa posição os mais velhos (acima de 55 anos), os de menor escolaridade e os autodeclarados de direita.