…Mas só se você permitir. Pode parecer estranho e controverso o título desse artigo, especialmente vindo de alguém que optou por abrir mão da carreira no Direito para empreender em Tecnologia.
A ficção por vezes tratou de alertar sobre o possível uso maligno da tecnologia com premiadas produções cinematográficas.
Quem é da minha época (nem sou tão velho né?) sabe do combate que o exterminador do futuro travou com a Skynet, uma inteligência artificial que ganhou vida própria e viu na raça humana uma ameaça à sua existência.
Portanto, não é de hoje que a discussão sobre o uso indiscriminado de tecnologia permeia o meu e o seu dia a dia.
Acredito piamente que a inovação é essencial para a evolução humana. Somos fruto de processos constantes de melhorias impulsionadas, em grande parte, por novas tecnologias.
Vejo como o desenvolvimento das fintechs impulsionou a desburocratização do mercado financeiro e como ter acesso a serviços, crédito e agilidade na gestão de recursos faz a diferença para a população brasileira.
Mas também, percebo que muitos recursos tecnológicos acabam criando barreiras antes inexistentes para o desenvolvimento pessoal e profissional, bem como para as relações humanas.
Se você já teve a oportunidade de assistir ao documentário O Dilema das Redes, que ganhou destaque na plataforma de streaming Netflix, sabe bem do que estou falando.
É quase impossível ver essa produção e não se questionar sobre a necessidade de tantos aplicativos, especialmente as redes sociais.
Estar 100% do tempo conectado não nos dá apenas a falsa sensação de proximidade com as pessoas do outro lado da tela, mas também nos coloca em uma posição questionável sobre a necessidade de estar sempre disponível para todas as notificações diárias.
Quantas vezes fui na casa da minha mãe para vê-la e, ao invés de matar a saudade do afeto físico, fiquei atento a uma tela empunhada em minhas mãos. Que belo de um idiota eu sou.
O uso indiscriminado de dados fornecidos por nós em nossas redes sociais para a venda de anúncios, veiculação de informações (nem sempre verdadeiras) e manipulação da opinião precisa ser questionado.
As redes sociais capturam informações sobre nós e, de posse desses dados, alteram o nosso comportamento, nos induzindo a relacionamentos, compras, sufrágios em pleitos eleitorais, entre tantos outros escândalos que chegaram ao conhecimento público.
É neste ponto que a tecnologia deixa de ser apenas um artifício para a evolução humana e se torna uma barreira para que nos tornemos pessoas e profissionais melhores.
Há uma série de regulamentações em todo o mundo que tentam evoluir com as redes sociais a respeito das inovações, mas nem sempre conseguem acompanhar o mercado.
Isso, inclusive, é próprio do Direito: a lei regula o que a sociedade reclama, ou seja, a lei sempre chega tardiamente para regular algo que não está adequado e precisa de intervenção estatal.
Prova disso é a Lei Geral de Proteção de Dados, que acaba de entrar em vigor no país e ainda assim causa discussões e controvérsias sobre o controle das informações disponíveis nas redes.
Precisamos entender e nos questionar diariamente se o uso de aplicações está nos apoiando para uma rotina mais produtiva. Pegar o celular nas mãos ao despertamos deve ser a primeira ação do nosso dia?
As notificações recebidas a cada minuto nem sempre nos ajudam a entender melhor o mercado em que vivemos e evoluir. É cada vez mais comum deixarmos as interações pessoais para nos prendermos à tela do celular.
Obviamente as redes sociais têm um importante papel na nossa vida, especialmente no sentido de manter e criar conexões com quem está distante.
Quando a sua vida passa a girar em torno dos aplicativos do seu smartphone é hora de se perguntar: será que precisamos estar disponíveis o tempo inteiro para essas redes sociais que ganham cada vez mais dinheiro com a nossa presença digital? Será que há a necessidade de compartilhar tantas informações, o tempo todo?
Se fintechs e outras soluções inovadoras para a gestão de empresas precisam ser regulamentadas e garantir a proteção das informações de seus usuários e de seus recursos financeiros, por que as redes sociais podem lucrar com nossos dados?
Afinal, o grande ativo desse tipo de empresa é o usuário. Eles vendem os dados do nosso comportamento sem nos remunerar. São as suas informações e preferências de consumo que as redes sociais vendem aos anunciantes.
Se você já teve a sensação de ser monitorado pelo smartphone (quem nunca conversou sobre algo com um colega e em seguida recebeu anúncios sobre produto ou serviço relacionado ao tema que atire a primeira pedra), você está certo.
A tecnologia é essencial para as nossas vidas, não podemos relegá-la. Mas não existe profissional produtivo, executivo bem sucedido, filho amoroso ou relacionamento saudável quando a conexão virtual supera a conexão humana.
Desligar as notificações, estabelecer tempo máximo de disponibilidade para as redes sociais e deixar de ser refém da tecnologia no pior sentido da expressão, é crucial.
Como sempre, o equilíbrio, afinal, é tudo. E não dá para evoluir se as notificações consomem o seu tempo mais do que as relações verdadeiras, de olho no olho.