Especialista em desenvolvimento e negócios internacionais, Henry Uliano Quaresma volta às livrarias com a terceira edição de O Fator China e os Novos Negócios, que mostra caminhos de expansão para empreendedores brasileiros de todos os portes.
Nesta entrevista, o autor fala sobre seu novo livro e mergulha na economia catarinense, em suas características e necessidades, elencando ações que podem garantir o seu fortalecimento.
Quais as novidades de O Fator China e os Novos Negócios?
Henry: Esta edição apresenta os resultados e as possibilidades de novos negócios neste momento da pandemia do novo coronavírus, como o avanço do comércio eletrônico e os exemplos que podemos adaptar para o Brasil. Santa Catarina está também vivendo um novo momento econômico com as startups e os centros de distribuição para o comércio eletrônico, que estão sendo inseridos no tecido empresarial, com possibilidades de forte cooperação com a China. A China é o primeiro parceiro comercial do estado na importação e na exportação, além de ser destino de investimentos. O Fator China está presente, por isso temos que ficar atentos para entender o processo e nos preparar para as oportunidades e desafios.
Como analisa a área de investimentos empresariais em Santa Catarina
Henry: Santa Catarina possui vocação para atração de novos investimentos, característica construída por governos e pela capacidade dos empresários catarinenses. Começando pela coragem dos empreendedores em implantar terminais portuários, usinas para geração de energia elétrica, complexos turísticos, construção civil de nível internacional, criação de empresas, suas ampliações e assim por diante. Em alguns casos, como a viabilização do gás em Santa Catarina, as empresas assinaram compromisso de compra para gás futuro. Outra situação foi na área de terminais portuários privados, em que as empresas também assumiram compromisso de utilizar o terminal, portanto viabilizando o empreendimento. Os governos catarinenses atuaram na atração de investimentos, criando mecanismos de atração por intermédio de incentivos fiscais, oferta de informações e processo de negociação, além da promoção das potencialidades. É absolutamente necessário ter estruturas que possam desenvolver os canais adequados de forma profissional, já que temos forte concorrência com outros estados que estão investindo pesado nesta área, inclusive com escritórios no exterior.
E o empresário catarinense?
Henry: Nossos empresários e empresas são de competência internacional. O empresário catarinense é obstinado por competitividade, qualidade e geração de empregos. Uma característica forte de querer realizar, trazida pela formação europeia dos imigrantes, que acabou disseminando em todo território. Mesmo conhecendo bem o estado, sempre encontramos novidades de investimentos e novos negócios que são criados.
Quais são os aspectos sensíveis para a manutenção do crescimento de SC?
Henry: Temos uma economia robusta, decorrente da diversificação e das estratégias das empresas, mas alguns pontos de atenção deverão ser observados por vários ângulos, como infraestrutura para funcionamento das empresas. Neste caso temos a necessidade urgente nos investimentos de melhoria e ampliação das rodovias que ligam a oferta ao acesso da demanda, ampliação da área de cargas em aeroportos, ferrovias para acesso à região Oeste (insumos para a agroindústria). Também considero importante a disponibilização de alternativa de fornecimento de gás, como o GNL (Gás Natural Liquefeito), que daria mais garantia e competitividade às empresas consumidoras. Este tema em específico já está mais avançado, necessitando de trâmites junto ao governo. Outro aspecto essencial é o fortalecimento da exportação, principalmente da agroindústria, que irriga a economia da região da oeste de SC. No caso do setor agrícola, terá que ter apoio permanente, principalmente com relação aos períodos estiagem, que será sempre um risco se não tivermos uma solução definitiva. Na área do comércio, temos agora o desafio do e-commerce, com sinergia aos centros de distribuição. Uma modalidade de negócios que veio para ficar e deverá ser calibrada com o comércio presencial. Esta área foi muito fortalecida no período da pandemia. Sobre o turismo, não há dúvida também sobre a necessidade de manter e ampliar a oferta do setor durante o ano todo e em todas as regiões do estado, distribuindo a entrada de recursos.
E sobre os Centros de Distribuição?
Henry: Grandes empresas que atuam no e-commerce estão procurando nosso estado porque temos uma boa oferta de serviços e estrutura portuária, além de uma localização equidistante de centros de consumo. Santa Catarina está, no máximo, a duas horas de voo de Buenos Aires, Assunção, Montevidéu, São Paulo e Rio de Janeiro.
E a ascensão das startups catarinenses?
Henry: Santa Catarina é sim um celeiro de startups de diversas áreas, principalmente as que apresentam inovação ou são intensivas em tecnologia. O sistema de ensino e pesquisa, somado ao empreendedorismo, resultam em uma excelente combinação, gerando essa tipologia de empresa. A imagem de SC é associada à inovação e tecnologia. São áreas que devem ser apoiadas por mecanismo de acesso aos investimentos e financiamentos, além de receber orientação nas diversas conexões com o mercado. Temos empresas deste setor em todo estado, que já estão formando clusters, com faturamento expressivo. Santa Catarina já representa 20% das startups no Brasil, ocupando a segunda posição no país, ficando somente atrás de São Paulo.
O comércio exterior de Santa Catarina vai bem?
Henry: Santa Catarina é um estado com forte comércio exterior, exportamos para muitos mercados e temos muitos países fornecedores internacionais. Em 2019, Santa Catarina exportou 9 bilhões de dólares e importou 17 bilhões de dólares, totalizando a corrente de comércio de 27 bilhões de dólares, ou seja, 130 bilhões de reais circulando na economia catarinense. No ano de 2020, de janeiro a novembro, tivemos uma corrente de comércio de 21,6 bilhões de dólares, ou seja, 108 bilhões de reais aproximadamente. A exportação foi fator fundamental que obrigou a empresa catarinense a adequar-se em produtos com padrões internacionais, que proporcionou uma agregação de valor para o mercado interno também, como é o caso da carne de frango. Os cortes de carnes exigidos para o mercado japonês, por exemplo, acabaram sendo usados em produtos nacionais, elevando a qualidade e a oferta de produtos diferenciados. Mas o grande desafio ainda é aumentar a inserção da pequena empresa no comércio exterior, por intermédio de programas de apoio.
O que pode avançar na economia catarinense neste atual momento?
Henry: Primeiramente temos que apoiar as empresas existentes em Santa Catarina, por intermédio de estímulos para manutenção e ampliação da atividade. Incentivos e financiamentos competitivos serão bem vindos, independente do tamanho ou setor empresarial. No caso dos novos investimentos, penso que temos dois vetores de ação: um na linha do setor privado e outro na linha do setor público. Para atrair o investimento privado de infraestrutura e serviços públicos, por exemplo, é necessário proporcionar segurança jurídica, bons projetos, confiança e conhecimento técnico. Já para atrair o investimento privado empresarial, necessitamos também de segurança jurídica, incentivos, canais técnicos de promoção e negociação . Alinhando o setor público e o setor privado, teremos uma grande possibilidade de crescimento econômico e geração de empregos.