Por Adriano Machado, sócio da PwC Brasil
O agronegócio vem sendo, ano a ano, o sustentáculo da economia brasileira. Mesmo em um ano atípico e até desastroso para outros segmentos da indústria em razão da pandemia, o setor manteve seus patamares de crescimento e deve fechar 2020 com 1,5% de ganho, conforme estimativa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Até mesmo em 2021, para o qual os especialistas anteveem dificuldades, o agribusiness deve sair ileso, com alta prevista de 1,2%.
Nos estados da região Sul o agronegócio tem especial relevância, visto que são fortes em diversas culturas. Nem mesmo a combinação da pandemia e fenômenos naturais (estiagem e nuvem de gafanhotos) tirou o protagonismo do agro para Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.
Conforme dados da Radiografia da Agropecuária Gaúcha 2020 do Governo do Rio Grande do Sul, por exemplo, a receita do agronegócio corresponde a 40% do PIB do estado. No Paraná, cerca de 80% das exportações saem do segmento segundo o MAPA, sendo este o terceiro estado brasileiro mais expressivo neste quesito. Com Santa Catarina não é diferente, uma vez que o bom desempenho do agronegócio amenizou o ritmo de queda registrado este ano no estado catarinense.
Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA), o Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio acumulou alta de 8,48% de janeiro a agosto em comparação com igual período de 2019, registrando crescimento em plena pandemia, atribuído à safra recorde de grãos 2019/20 e à forte alta dos preços agropecuários, resultado do reforço da demanda, tanto interna quanto externa, e do câmbio favorável, que traz vantagens às empresas exportadoras do setor. Esta capacidade de resiliência do agronegócio vem sendo observada de perto pelo ranking Grandes & Líderes – 500 Maiores do Sul, elaborado pelo Grupo Amanhã em parceria com a PwC Brasil há 30 edições. O levantamento mostra que o desempenho do ramo no Sul vem indicando uniformidade ao apresentar pouca diferença nos últimos anos em seus principais indicadores.
Na mais recente divulgação, relativa ao exercício de 2019, das 82 empresas relacionadas diretamente ao segmento, as receitas líquidas somadas correspondem a R$ 220.918 bilhões, 36% do total de companhias analisadas. Embora se atenham ao período anterior à pandemia, quando se falava em uma “retomada gradual”, estes números provam o quanto o agro vem de algum tempo condicionando a uma atuação de destaque para a economia nacional. Investimentos em novas tecnologias, adoção de práticas modernas de gestão e aperfeiçoamento contínuo vem contribuindo sobremaneira para que os empresários do campo criem esta condição favorável ao crescimento. Porém, se já havia desafios, 2020 veio para colocar todos à prova. Independentemente do cenário, contudo, o agribusiness parece estar mais blindado do que outros setores e pronto para semear novas terras.