Quem nunca ouviu a famosa frase: “mandar é fácil” no mundo corporativo ou até na vida pessoal quando se refere a alguém que ocupa um cargo de alta gestão em uma empresa?
O bordão com certeza já foi dito e ouvido inúmeras vezes, seja nas conversas de corredor, nos comentários às vezes maldosos ou até nos churrascos de final de semana. Acompanhado de um certo desdém ou por acreditar que tenha verdade nisso ou até para simplesmente brincar com quem não brinca em serviço.
O que não se sabe é que a alta gestão nas empresas enfrenta um tremendo desafio todos os dias em que executivos estão decidindo exaustivamente o futuro não só de empresas, mas de muitas pessoas envolvidas direta ou indiretamente no negócio que comandam.
Ser um executivo em tempos em que a velocidade da luz passa vergonha frente a era digital é no mínimo corajoso e ousado.
A rotina frenética dos executivos impõe um comportamento absolutamente altruísta em que se decide os trilhos por onde o negócio vai passar para chegar aonde se pretende. Muitas vezes, abrindo mão de sua vida pessoal em prol do sucesso, pelo qual será medido e remunerado, o tão esperado resultado.
Embora a visão de futuro seja importante, a carga do dia a dia, acompanhando, monitorando e tomando uma decisão a cada 6 minutos em média, é bem intensa e cansativa.
E já que o assunto é tempo, o passado também é extremamente importante, devendo ser revisitado com regularidade para que norteie as decisões e as adequações necessária para novas ações.
E ao findar de cada ano é momento de planejar o próximo, validar planejamentos e aprovar o orçamento empresarial.
Sem qualquer pudor sempre se cobra mais, sempre se busca mais, desafiando sua capacidade de inovar, mesmo que para isso se deixe para depois.
Atualmente, todo executivo sofre ou sofrerá de transtorno de ansiedade, o mal do século porque o assédio de tudo que precisa ser feito, a capacidade de ser multitarefa está em alta e cada vez mais somos absorvidos pela quantidade de coisas que nos cabe.
Recentemente uma publicação do Portal Administradores colocou a Síndrome de Burnout em pauta. O post mencionava a importância de criar ambientes apropriados para que os colaboradores não sejam vítimas acometidas pelo Burnout, que nada mais é do que o esgotamento extremo, no qual o corpo não tem mais de onde buscar recursos energéticos para prosseguir e progredir.
Mais uma vez a alta gestão assume essa responsabilidade de zelar por sua valiosa equipe. Porém, quem olhará para a alta gestão? Como ficam os executivos?
Costumo dizer que o mundo do executivo é, por muitas vezes, diria que na maioria das vezes, muito solitário. Nele se pensa em tudo e em todos, mas poucos olham para nós como seres humanos, mortais e com sangue nas veias. Penso que algumas vezes somos mesmo confundidos com robôs ou super computadores que tem resposta para tudo, recebendo olhares como o do gato de botas do filme Shrek 2®, com o qual esperam sua solução mágica.
Contudo, aprendi ao longo da minha trajetória que nunca estamos sozinhos, ainda temos a nós mesmos. Então meus caros, executivos de toda ordem, empresários ou gestores, entendam que vocês precisam também olhar para si mesmos. Vigiar a rotina, delegar, impor limites, horários e reconhecer que não precisa ter todas as respostas, ou pelo menos não imediatamente.
Outra grande missão é cumprir os limites e se permitir ter vida fora do trabalho.
Para mim, uma workaholic indomável, sempre foi muito difícil. Após um grande susto, um psiquiatra, muita terapia, medicamentos controlados precisaram ser experimentados para que entendesse que de nada adianta o excesso, em qualquer área da vida. O equilíbrio é tudo.
Normalmente escrevo sobre temas de negócios, dicas e ferramentas à disposição do empresário, do empreendedor, e talvez ache tudo isso uma grande besteira, ou até um pouco emocional, mas acredite: isso são negócios, a cara de quem está a frente deles.
Muitos executivos estão incluindo em seus planos de benefícios uma assistência bem estar por ano. Afinal, um executivo que produz resultado, merece também ser cuidado e poder se ausentar para um momento seu, para renovar suas energias e experimentar dias sem aquele baita peso nas costas. Tive esse privilégio. Ganhei uma semana para me reestabelecer em um spa médico onde fiquei sob cuidados que incluíam alimentação super saudável, massagem relaxante, atividade física todos os dias, atendimento psicológico, banhos especiais de hidroterapia. E foi sensacional. Achava impossível ficar sete dias sem celular, sem e-mail, sem trabalho. Mas me permiti, e depois de muito tempo voltei a sentir as costas. Sim, sem estarem pesadas e doloridas pela tensão. E sim: o peso é real. Responsabilidade pesa mesmo, dá pra sentir, literalmente.
Claro que, não estou aqui para determinar isso ou aquilo, tampouco para dar uma receita de sucesso certo, cada um tem sua personalidade e sua marca. No entanto, entendi, vivenciando, o quanto podemos produzir melhor se estivermos bem em nossa totalidade. Ter mais clareza nos pensamentos, tomando reais decisões acertadas, centradas e bem mensuradas. O que não ocorre se estamos intoxicados pela insanidade da rotina que nós mesmos nos impomos. Sim, nós mesmos! Executivos, dizem que mandar é fácil. Quem sabe exista mesmo um jeito de ser, se temos o comando nas mãos porque não dar uma chance para ser ao menos mais leve?
A partir de então quem sabe quando disserem: Ah, mandar é fácil! Possamos responder: Ah sim, depende de quem manda!
Anseio dias plenos de grandes certezas, menos ansiedade e mais sanidade para os executivos mundo a fora. Lembre-se sempre: seja o que você deseja ter.