Por Roberto Vilela, consultor empresarial
A pandemia e a necessidade de isolamento social nos colocaram em uma nova realidade. A necessidade de adaptação foi evidente e nada fácil nas primeiras semanas. No entanto, estamos há um ano convivendo com este novo cenário e, para muitos profissionais, a dificuldade de adaptação parece ainda estar presente. Neste contexto, no entanto, é importante uma reflexão sobre a própria vida, rotina profissional e pessoal. A falta de proatividade e os resultados de uma boa performance não são resultados apenas do momento que vivemos. Em muitas situações, é a comodidade que nos impede de reagir.
A busca por comodidade vai desde os hábitos, dos comportamentos e das opções de cada um. Os atalhos estão em alta e cada vez mais as pessoas buscam encurtar caminhos, chegar mais rápido e mais longe com o menor esforço possível.
Num primeiro momento isso de fato pode fazer muito sentido – em se tratando de negócios, por exemplo, por que que eu vou me desgastar em fazer um cálculo se há um sistema que pode fazer isso por mim? Porém, existe a questão do aprendizado, que acaba sendo negligenciado. Quando esperamos apenas para receber ordens das lideranças, quando apenas desejamos receber a demanda do mercado, a solicitação do cliente, entramos em uma perigosa zona de conforto.
Muitos profissionais passaram a pandemia tentando se ajustar, é fato. E o cenário não foi fácil para quem passou a conciliar diversas tarefas em um único ambiente. Mas encontrar uma organização em meio ao caos foi necessário para a sobrevivência em meio a um mercado competitivo. Ganhou espaço quem se mostrou pronto a deixar as desculpas em segundo plano e encontrar uma solução para a busca de uma normalidade prévia, em que a procrastinação não toma conta.
Todos nós, enquanto profissionais e seres humanos, temos a necessidade do desenvolvimento do hábito de pensar. É preciso treinar essa habilidade através do levantamento da hipótese, de esgotar e simular situações e possibilidades. E quando apenas aguardamos ordens, apenas nos escondemos em uma quase preguiça de pensar, não estamos praticando nada disso. Queremos as respostas prontas, esquecendo que pensar também é um exercício – e que não pode ser deixado de praticar.
É um hábito que faz a gente evoluir: quanto mais se pensa, mais se evolui. Quando criamos o costume de buscar respostas prontas, fáceis e simples, também deixamos de lado a criatividade. Não nos desafiamos, ficamos com preguiça porque sabemos que em pouco tempo vem a resposta por algum meio ou alguém – alguém que provavelmente se tornou líder mostrando que tinha a capacidade de entregar além do que foi descrito, que teve a capacidade de olhar nas entrelinhas e mostrar pré-disposição para fazer mais. Essa preguiça de pensar acaba fazendo com que a gente se nivele por baixo.
Por preguiça perdemos o hábito de questionar, ler, argumentar. A imagem passou a ter muito mais importância do que o conteúdo. Precisamos parar e rever alguns conceitos.
Muitos dos conflitos dentro de casa ou dentro da empresa são fruto de precipitações, de falta de bom senso, de respostas instintivas e viscerais. São ações que se fossem racionalizadas não precisariam chegar ao ponto de terem de ser administradas.
O que nos difere das máquinas é a nossa capacidade de interpretar, discernir e ajustar respostas a um contexto dinâmico. É isso que faz o ser humano ser tão completo e tão complexo. E muitos de nós não está utilizando essa que talvez seja nossa principal virtude. Estamos nos igualando à máquina que dá respostas automáticas através da leitura de algoritmos.
Precisamos, com responsabilidade e cuidado, retornar ao nível do pensamento crítico, da criatividade e do desafio diário. Vamos utilizar menos preguiça e mais criatividade em 2021, para que tenhamos acima de tudo, não só um ano melhor, mas também que sejamos pessoas melhores.