Na entrevista de hoje, conversamos com as jornalistas e empreendedoras Larissa Guerra e Marina Melz, fundadoras e produtoras do podcast Donas da P* Toda, um podcast que fala sobre comportamento, carreira, empreendedorismo, vida pessoal, entre outros, desmistificando tabus ainda presentes no universo feminino e valorizando o trabalho de mulheres locais, regionais e nacionais. Nessa entrevista, falamos sobre os planos e projetos da dupla e como as conversas com convidadas e ouvintes agregam na discussão, confira abaixo:
Como surgiu a ideia de montar um podcast que aborda desde calcinhas até economia e empreendedorismo para mulheres e qual o maior objetivo que querem com ele?
Marina: Eu e a Larissa somos amigas desde a faculdade de Jornalismo e, em 2019, estávamos empreendendo em momentos diferentes: ela no início do negócio e eu, completando 10 anos da minha empresa. Trocávamos áudios imensos sobre como empreender era diferente na vida real do que a gente via nas publicações e, um dia, comentamos sobre a felicidade que era termos uma a outra pra poder falar sobre isso. Como consumíamos podcasts, decidimos levar as conversas para esse formato para que mais mulheres se sentissem menos sozinhas nesse processo.
Larissa: Levarmos essa mensagem de que o perrengue no empreendedorismo tem vários formatos e não é uma exclusividade das nossas ouvintes foi nosso primeiro grande objetivo. Com o passar do tempo, passamos a trazer também conteúdos sobre comportamento e outros temas que sentíamos que poderiam ser interessantes. Hoje, nosso conteúdo segue cinco pilares: apoiar e divulgar negócios criados por mulheres, combater o racismo e qualquer forma de discriminação de cor, gênero, orientação sexual e religiosa, estimular o consumo de arte criada por mulheres, defender a igualdade de gênero nas esferas de poder, ampliar a representatividade nesses espaços e a liberdade das mulheres e a sua percepção sobre o comportamento, o corpo e as emoções.
Quais os maiores desafios e conquistas do projeto? Quais foram os temas de maior repercussão? Por quais motivos?
Marina: Os temas dos episódios variam muito e, nos números, os mais ouvidos também são uma miscelânia. Até hoje, os dois primeiros dois episódios, que são sobre solidão no empreendedorismo e síndrome de impostor estão entre eles. Mas a gente gosta muito dos episódios que rendem conversas com as ouvintes, mesmo que o número de plays não seja expressivo. Neste sentido, os episódios de depressão e de pressão por autoaperfeiçoamento, por exemplo, que são mais pessoais, também são muito especiais.
Larissa: Nós sempre falamos que o grande desafio é entregar um episódio semanal que nos orgulhe e que gere conversa ou reflexão. Além de nós duas, o Bruno Stolf, que também é jornalista, é nosso parceiro na edição do programa. Fazemos todo o conteúdo em apenas três. Uma grande marca que conquistamos em novembro do ano passado foi, com um ano e meio de projeto, chegarmos a 100 mil plays. Outra coisa que nos orgulha muito é ter colocado no ar em dezembro o primeiro donas.doc, um documentário em áudio com mais de 30 fontes diferentes. Falamos sobre calcinhas para desvendar um pouco do que uma gaveta tão singela significa em termos de indústria, produção, história, sustentabilidade e diversidade. Como jornalistas, nos sentimos muito orgulhosas em colocar um conteúdo tão completo no ar.
Quais temas vocês sentiram que eram mais necessários a serem debatidos? Como vocês definem os temas? Quantas mulheres já tiveram voz no podcast?
Marina: São mais de 200 mulheres ouvidas em cerca de 80 episódios. Os temas, escolhemos observando tendências, temas de redes sociais e, às vezes, provocando alguns diálogos que não, necessariamente, estão em alta, mas achamos importante que sejam provocados.
Larissa: Acho que se encaixam nisso, temas mais relacionados a política e economia, que nem sempre parecem gostosos de ouvir à primeira vista, mas que a gente tenta deixar mais palatáveis com histórias boas e pontos de vista diferentes.
A pandemia evidenciou a urgência de falar sobre mulheres e tabus que ainda persistem em nossa sociedade, como conciliar filhos e trabalho, violência doméstica, sobrecarga, entre outros. Isso impactou o consumo do podcast e fortaleceu as discussões?
Marina: A pandemia mudou a relação das pessoas com o podcast. Nos grandes centros, ele era tido como uma companhia para locomoção, no metrô, no carro, no ônibus. Como o deslocamento reduziu, houve uma queda num primeiro momento, mas a curva virou rapidamente, porque os ouvintes têm uma relação de proximidade muito intensa com os podcasts que ouvem. Na pandemia, com o distanciamento social e falta da conversa com os amigos, fez com que os números de consumo de podcast crescessem rapidamente.
Larissa: Nós falamos muito das implicações da pandemia em vários momentos, formatos e temas. Logo em abril de 2020, lançamos uma série especial de quatro episódios falando sobre sentimentos comuns naquela época da pandemia. Mas como não tínhamos o horizonte sobre quando essa situação arrefeceria, e ainda não temos, as abordagens também foram mudando. Já tratamos de impactos econômicos e sociais num aspecto macro e também de sentimentos, emoções e hábitos num âmbito mais íntimo.
Onde querem chegar? Quais são os próximos passos do podcast? Pensam em ampliar a discussão para vídeos ou outros formatos?
Marina: Nós acreditamos muito no conteúdo que produzimos e na versatilidade de formatos que ele pode oportunizar. Ainda não temos planos de levar para outros espaços porque o podcast é uma mídia crescente, que seguirá expandindo e que ainda tem muitos formatos para explorar. O donas.doc, que traz um conteúdo roteirizado, aprofundado e imersivo, é um deles, por exemplo.
Larissa: Queremos seguir colocando no ar conversas que temos muito orgulho em ter e que queremos que todas as pessoas tenham acesso. Nosso desafio é seguir propondo temas relevantes, equilibrando o que as ouvintes querem ouvir com diálogos que achamos importante provocar.