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Economia SC Drops: o que uma startup precisa para receber um investimento e como fundos atuam nesse processo

Foto: divulgação

O Economia SC Drops de hoje conversou com Marina Leite, head de relações com investidores e desenvolvimento de negócios na Invisto, para saber mais sobre o mundo dos investimentos.

Quais pontos devem ser observados ao buscar a captação de recursos, fundo de investimentos e o que valoriza uma empresa no mundo dos investidores.

Ao longo de 15 anos, sua carreira foi desenvolvida no mercado financeiro de São Paulo primeiramente como equity trader no Itaú BBA e mais tarde como vice-presidente, estruturou uma das mesas de operações do Bank of America Merrill Lynch. Tem experiência internacional e sua atuação sempre foi diante do relacionamento com investidores e corporações sendo responsável pela elaboração de portfólios de investimentos e pelo desenvolvimento de novos negócios. Confira abaixo:

Startups que buscam investimento devem estar atentas em quais pontos?

Marina: Devem, primeiramente, estar preparadas para essa etapa. Não basta apenas buscar investimentos, precisam estar estruturadas internamente e com um plano de execução que apresente um futuro detalhado e realista da empresa. Elaborar um pitch com base em dados e informações concretas, e que demonstre que a ideia do negócio é promissora. Nos primeiros anos de vida de uma startup a grande preocupação é conquistar uma base de clientes e desenvolver e testar a ideia de um novo produto. No entanto, ao longo dessa caminhada, certamente vai chegar o momento de buscar mais recursos financeiros e, não apenas isso, mentoria e ensinamentos, para continuar crescendo. Buscar investimentos para startups não é uma atividade fácil, mas hoje, mais do que nunca, existem diferentes fontes para isso. O mais importante é já ter um produto testado, clientes conquistados, entender o mercado de atuação, demonstrar faturamento e potencial de crescimento sustentável e escalável e estruturar um bom time com habilidades complementares. Outro aspecto relevante, que extrapola um pouco a operação em si, consiste em estar constantemente se relacionando com os atores que promovem investimentos em startups. Ter relacionamento com grupos de investidores anjo, identificar fundos que poderão ser parceiros no futuro, participar de eventos, estar presente, mostrar gradativamente sua empresa, tudo isso também é importante na busca por investimentos. Não adianta levantar a mão apenas no momento da necessidade, o processo será mais árduo. É preciso construir um caminho para que no momento oportuno, a busca por investimento seja apenas o próximo passo.

Como um fundo de investimentos atua?

Marina: Um fundo de investimento recebe semanalmente uma série de pitches com ideias e times brilhantes. O primeiro papel de atuação de um fundo é justamente identificar se estes pitches estão aderentes à tese da gestora. Todo gestor de Venture Capital tem uma tese de investimentos, procurar fundos que sejam aderentes à proposta da sua startup é coerente e eficiente nessa jornada de buscar investimentos. O fundo pode interferir de diferentes maneiras e, de novo, cada um tem sua tese e jeito de fazer gestão. Mas na essência, as startups não buscam apenas o dinheiro, mas principalmente a experiência. Enquanto fundo, participar de decisões estratégias da empresa, sugerir mudanças, orientar de forma sistemática para o crescimento dessas startups e trazer sim relacionamento, governança corporativa e execução para o dia-a-dia da operação dessas empresas é também parte do trabalho de um fundo, além do dinheiro.

Quais são os requisitos e o que valoriza uma empresa para ser investida?

Marina: Mais uma vez o fator que será determinante é a aderência à tese de cada gestor. Especificamente no caso da Invisto, os requisitos passam por serem empresas B2B, de software/internet, preferencialmente modelo SAAS, que já tenham modelo de negócio testado e clientes fidelizados, apresentem um faturamento entre R$100 mil e R$200k de MRR (receita recorrente) e que estejam preferencialmente localizadas no Sul mil do Brasil.  Outros fatores também são considerados, como tamanho do mercado de atuação, qual o problema/dor que a startup se propõe a resolver, trata-se de um negócio efetivamente escalável de forma sustentável e equipes que promovam a diversidade certamente são mais consideradas. Quanto ao aspecto ESG especificamente, uma startup não nasce considerando essas três letras com profundidade, os desafios dessa fase inicial são bastante relevantes. No entanto, esse quesito ganhou muita força nos últimos anos e determinados aspectos de ESG que podem ser incorporados às atividades das empresas começam a despontar. Há muito a ser ajustado no que tange ESG para startups, no entanto é uma preocupação que deve estar presente nas fases iniciais da empresa, a fim de permitir uma implementação mais robusta à medida que a empresa caminha em sua jornada de evolução. Agora, aquilo que efetivamente faz a diferença no momento da escolha de uma investida é sem dúvida, o time de empreendedores. Quem são essas pessoas? Qual seu background? Qual formação? Apresentam habilidades complementares para gerir uma empresa? A estrutura societária desta relação é coerente? Estão todos dedicados 100% à atividade da empresa? As pessoas são parte essencial da decisão de investimento, afinal nesta fase inicial da vida dessas empresas, o investimento é essencialmente nas pessoas. 

Como os negócios liderados por mulheres podem se destacar nessa corrida por um fundo de investimentos?

Marina: O fato é que os aspectos técnicos, de mercado, potencial de produto e evolução, são considerados da mesma forma. A tese de investimentos em sua essência, não muda. Acredito que o principal ponto aqui é aqueles negócios liderados por mulheres se considerarem capazes de receber investimento e efetivamente se mostrarem. Entendo que grande parte do caminho está em empoderar as próprias mulheres. Para que se destaquem precisam estar preparadas e alguns aspectos podem ajudar nessa jornada como: buscar desenvolver habilidades técnicas, identificar mentores que possam contribuir para o crescimento estratégico da empresa antes da busca por investidores, participar de grupos de mulheres que promovam geração de negócios e simplesmente acreditar que é capaz de ocupar uma posição de destaque porque os dados e números de sua empresa comprovam isso. De acordo com uma pesquisa conduzida pelo IBGE, há mais de 9 milhões de mulheres no comando de negócios no Brasil. Já nos EUA, 42% de todos os negócios são liderados por mulheres, um número que cresce duas vezes mais que a quantidade de negócios como um todo no país. Isso reforça que existem sim mulheres no comando de suas empresas! Ao longo dos séculos, a sociedade construiu expectativas que exigem uma postura contida das mulheres, enquanto os homens ganham louros por serem corajosos. Somos ensinadas a ter mais cautela e a nos arriscarmos menos. A essência da mudança está nas próprias mulheres, não há lado mais forte ou fraco, mas sim o que se expõe mais ou menos. Muitas mulheres sequer buscam algum tipo de investimento, porque não acham que estão prontas ou que conseguirão investimentos.

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